segunda-feira, 18 de abril de 2016

"Deus" derrubou Dilma


Resultado de imagem para crente mentiroso


Quanta canalhice falada e praticada em nome de Deus.
Quantos criminosos cuspindo, babando e falando em honestidade contra a corrupção.
Quantos degenerados falando em valores e família.
Quanta bandeira verde e amarela nas mãos sujas dos entreguistas que desejam um Brasil de joelhos e humilhado.
Quanto papagaio de pirata. Caras e bocas.
Quanto bullying opressor.
Quantos gritinhos escrotos, típicos de moleque babaca no colegial.
Quanto deputado safado que vivia beijando as mãos do Lula como aduladores, quando este tinha 80% de aprovação do povo brasileiro, agora expondo a face mais sórdida de seus caráteres, sem nenhum pudor.
Ao menos, esse mar de lama tóxica serviu para destacar os grandes quadros parlamentares da luta contra o golpe.
Gente decente e corajosa, muitas vezes tratadas com descaso por um governo que em muitos momentos acreditou que tinha "amiguinhos" na elite. Que o banalizado e famigerado "pragmatismo" estava garantindo "alianças pela governabilidade". Ao final não ficou ninguém. Ninguém. Ficaram apenas aqueles que tem conexão direta com o povo e suas lutas.
Repito, aqueles que tantas vezes foram tratados no chicote, enquanto tantos outros cafajestes viviam no Camarote Vip
do Planalto. Serve para aprender. Para que todos aprendam.
Quantas coisas tivemos que engolir pela governabilidade?
Quantos ideais relativizados?
Quanta gente ruim que aturamos?
Os votinhos que faltaram para barrar o impeachment podiam ser do Cunha e do Temer? Pois é, podiam.
Mas podiam ser também do partido do Malufão amigão.
Do ministro Kassab.
Do Sarney.
Do Edir Macedo que orientou sua bancada para defenestrar Dilma.
Ora, quantas vezes demos tantos "carões" na nossa bancada porreta que lutava pelas questões relacionadas aos direitos humanos e respeito às diversidades para "compor" com a bancada evangélica?
Ao final, quem deles votou contra o Golpe? Ninguém.
Tudo bem. Sei que ainda não é o momento de lavar a roupa suja e, especialmente nesse dia, isso torna-se particularmente irritante.
Mas não posso deixar de fazer essa reflexão ao ver nossos melhores quadros defendendo com coragem a democracia, sofrendo a tentativa de intimidação e até humilhação por parte de quem vivia com tratamento VIP no governo.
Este é aquele momento do "pronto falei".
Claro que não foi só isso que definiu o Golpe na Câmara.
Mas quem apoiou com vigor a eleição de Dilma no segundo-turno, passando por cima de decepções, mas firmando seu apoio, era também quem estava lá no plenário defendendo seu mandato. Era quem estava nas ruas do Brasil contra o golpe. E foi também quem ficou de fora na composição, organização e representação desse governo.
Chega. Paro por aqui pra não irritar. Até porque não foi somente isso que definiu o Golpe que passou na Câmara. Mas que ajudou ajudou.
Galera. Diga-me com quem marchas que eu te direi quem és.
É impossível estar satisfeito com o que ocorreu nessa noite de domingo.
Mas tem uma coisa. Me orgulho muito da minha posição política.
As caras de todos e todas estão filmadas ou "printadas". Não há do que se envergonhar, muito pelo contrário. No futuro saberemos como cada um se posicionou nesse momento.
Não estamos derrotados. Ao contrário.
A população viu ao vivo esse espetáculo deprimente e sabe reconhecer na cara a canalhice quando ela existe.
A consciência livre desse povo certamente fará o seu juízo.
Vamos lutar até o fim.
Estamos lutando a boa luta.
Se ganhar a eleição não foi suficiente para garantir as condições para governar o Brasil, também não será um golpe indecente que vai conferir a eles a legitimidade para liderar o país.
Se a luta não pára quando se vence uma eleição, por que pararia depois de um golpe?
Coragem! Estejamos unidos nesse momento. A luta está apenas começando.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

A Festa Oficial do Golpe



Brasileiros,
Nós que defendemos o impeachment da presidanta Dilma (VTNC), tivemos a honra de receber o 36° pedido de interrupção do mandato das mãos deste grande expoente da classe artística brasileira, o grande ator Alexandre Frota!!
[Pausa para os aplausos]
Ele que emocionou o Brasil por suas atuações em "Fazendo Sacanagem", "Anal Total 10", "Bad Boy", entre outros tantos títulos.
Temos também a honra de ter o apoio da atriz Suzana Vieira que nos acompanha há muitos anos (só não podemos dizer quanto), Luana Piovani, essa gracinha de pessoa e de Maitê Proença, que não pôde estar aqui conosco porque foi retirar sua pensão vitalícia, antes de subir ao nosso palanque para fazer um brilhante discurso contra os vagabundos que recebem o Bolsa Família. Regina Duarte não veio porque estava com medo.
Além da mais fina flor da teledramaturgia brasileira, recebemos também esse humorista engraçadíssimo Danilo Gentile.
[Gargalhadas da multidão]
Além de Otávio Mesquita, campeão de audiência no horário nobre, minha gente.
Por falar em artistas, queremos chamar ao palco dois artistas que encantam a juventude brasileira e arrastam multidões. Com vocês Lobão e Paulo Ricardo!
[Platéia grita eufórica "hey ho Let's Go].
Mas nem só de artistas vive nosso movimento. Temos também representantes da intelectualidade. Esta aqui a jurista Janaina Paschoal que já está com a língua de fora e vai cantar agora uma música do Sepultura. Rodrigo Constantino viria, mas a crise pegou ele que está desempregado e sem dinheiro para viajar até Brasília.
Temos entre nós autoridades eclesiásticas. Peço à platéia que receba com muito louvor e muito dinheiro o Pastor Silas Malafaia!
[ALELUIA]
Esse homem de Deus, caridoso, desapegado dos valores materiais, que segue os caminhos de Jesus e não atira a primeira pedra, não julga para não ser julgado, respeita todos os seres humanos e tem sempre um discurso de amor ao próximo e carinho para com as diferenças humanas.
Acaba de chegar outro pastor: Marcus Feliz Si Ânus!
[It's raining men, Aleluia].
Feliz Si Ânus veste um terno bem cortado, usa seu novo corte de cabelo chamado "me pega rapaz", colocou silicone nas nádegas, plástica no nariz, botox e vai agora fazer um discurso inflamado contra a viadagem atual.
Senhoras e senhores! Vamos chamar agora as autoridades do novo governo do Brasil.
Com vocês esse grande democrata e defensor das liberdades e dos direitos humanos. O chefe do Estado maior dos nacionalistas que querem entregar o Brasil para os EUA:
Jaiiiiiiiir Bolso Mito
[Eeeeeeeeeeeee ouve-se tiros]
Chamamos também um homem honesto. Defensor da luta dos trabalhadores do Brasil. O sindicalista preferido dos patrões:
Paulinho da Farsa, quer dizer, da Força!
Chamamos esse político carismático que todo mundo adora, principalmente a Folha e o Itaú:
José Serra! Chega aí, Zé. Seu queridão.
Chamamos também o nosso malvado favorito. O homem que tem licença para roubar, manipular, chantagear, porque o povo que luta contra a corrupção apoia.
Com vocês, Eduardo Cunha!
[Gritos histéricos do povo com a camisa da seleção].
Estou quase terminando. Com vocês um homem de família, que faz tudo pelos seus, um homem de energia hidrelétrica, ligadaço. Um homem que voa de helicópteros, um homem que voa de avião porque tem até aeroporto particular pago pelo povo, um homem do Leblon, a capital das Minas Gerais. Um homem que esta sempre com a galera na balada e nem pede carona. Para o delírio geral, com um brilho no olhar:
Aeeeeeeeeeeecio Neeeeeeeeves
[Musica de balada putzputzputz]
E pra terminar. O futuro presidente do Brasil. Um político que sempre foi muito bem votado. Campeão das urnas. Reconhecido pelo povo. Um político leal. Fiel. Que faz politica com princípios. Um homem sem ambição no coração.
Ele que também vai ser leal e fiel à você, povo brasileiro. Pode acreditar.
O nosso líder. Chefe máximo da nação. O cara de defunto:
Michel Temer!!
[Tema da Vitória da Globo tocando e a multidão se abraçando e chorando de emoção]
Vencemos companheirada! Nossa luta valeu à pena! O Brasil venceu a corrupção!

quinta-feira, 7 de abril de 2016

O movimento inflável pelo golpe e a consciência crítica da sociedade brasileira






Não é por acaso que os dois totens que provocam catarse coletiva nas manifestações pela interrupção do mandato democrático da presidenta Dilma são dois objetos infláveis.

O primeiro totem ficou conhecido como “Pixuleco”. Trata-se de uma caricatura do Presidente Lula, retratado como presidiário. Tem sido cultuado com paixão enlouquecida, sendo inclusive reproduzido em miniaturas e vendido nos semáforos das grandes cidades.

Outro símbolo, igualmente inflável, é o Pato Amarelo. Este é fruto de uma campanha publicitária da FIESP. A Federação que deveria defender os interesses dos industriais brasileiros, por conta de mais uma das aberrações e particularidades sociais e políticas brasileiras, reproduz com paixão a cartilha e o projeto do neoliberalismo econômico, justamente o estopim da desindustrialização do Brasil e propulsora do “livre mercado” que condena e implode qualquer proteção do Estado à indústria nacional e escancara a economia às quinquilharias importadas que tornam as indústrias brasileiras cada vez menos competitivas. Isso sem falar na desidratação do mercado interno, a perda do poder de compra do trabalhador e até mesmo os direitos trabalhistas que, pasmem, ainda que odiados pelo “moderno” empresariado brasileiro, é justamente o que oferece condições para que as indústrias que ainda resistem, aos trancos e barrancos, continuem existindo. Ou seja, sem mercado interno, os senhores da Casa-grande pretendem vender pra quem? Um Estado que privilegia o mercado financeiro e a farra especulativa em detrimento dos setores produtivos, como pode ser positivo para a indústria brasileira?





O Pixuleco incorpora o ódio pessoal ao ex-presidente Lula manifestado por parte da sociedade brasileira, mas também é um símbolo do incômodo e resistência à insubordinação e subversão de classe social. Houve um investimento na produção do Pixuleco. As pessoas seguem o Pixuleco. Há uma organização para a proteção do Pixuleco. Sem dúvidas, trata-se de um símbolo importante. Na mentalidade da Casa-grande, incorporada e levada à diante pelo empresário industrial brasileiro, o sindicalista (ou quem quer que reclame seus direitos de empregado) é antes de tudo um ingrato. Alguém que não aceita de bom grado a mão amiga do chefe patriarcal. Alguém que faz a cabeça dos outros funcionários. Degenera. Subverte.

Um subordinado virar chefe, líder e, ainda por cima, bem sucedido é subverter e corromper as hierarquias estabelecidas. Neste sentido, Lula é sim um corrupto e corruptor. Compreensivelmente odiado. Claro que este sentimento não se restringe ao empresariado industrial brasileiro.

Qual a ferramenta que torna possível um “analfabeto” como Lula se converter em um líder mundial. Ora, a política, é claro. Não é apenas Lula o odiado pelo corporativismo privado. É a classe política como um todo. Isso não ocorre apenas no Brasil.

Existe um imenso contingente de homens e mulheres que perseguem a realização, o empreendimento e o protagonismo no mercado de trabalho, dispondo de abnegação e devoção religiosa em busca das melhores posições, nas melhores empresas globais. Cada um como pode. Alguns com seus negócios próprios, pequenos ou grandes. Outros logrando cargos e funções de destaque nas grandes corporações. Talvez, em outros tempos históricos, encontrassem essa realização nos empreendimentos coletivos. Nos exércitos e nas guerras, provavelmente. Na própria política, talvez. Nas artes.

Mas a ideologia burguesa dos nossos tempos oferece como cenário das grandes realizações individuais, não as glórias públicas, mas o bem-estar material, a satisfação íntima e o sucesso no mundo dos negócios.

Ora, o indivíduo passa a vida inteira perseguindo essa glória no mundo corporativo privado. Investe tempo. Se prepara. Se esforça. Faz coisas que não concorda. Suporta humilhações. Porém, em dado momento, ele se dá conta que jamais terá reconhecimento coletivo pela glória que ele acredita ter alcançado. Pior, muito provavelmente não haverá glória sequer na própria corporação. Talvez passe a vida inteira com a faca e a forca no pescoço, ou mesmo será descartado no meio do caminho, quando atingir determinada idade. Alguns pouquíssimos conseguem algum reconhecimento em seu segmento.

Ainda que o sujeito acumule dinheiro, ainda que receba promoções, ainda que alavanque o próprio negócio, dificilmente seu sucesso deixará de ser silencioso e invisível. Alguns se consideram o tal “self made man” e passam a promover uma espécie de “auto marketing”, mas o fato é que, ao final, terão apenas lá em casa alguns amigos e camaradinhas que respeitam. Pois é…

O protagonismo jamais chegará. O desejo tão humano por reconhecimento será frustrado. Não é difícil entender o desprezo e raiva do mundo corporativo privado pela classe política. O político exerce o poder. Ainda é detentor do protagonismo histórico. O político manda. Não é difícil também entender o porquê dos aplausos enlouquecidos e calorosos que recebeu o ex-presidente Fernando Henrique quando declarou em palestra aos colaboradores de uma seguradora internacional que um “analfabeto” não pode ser Presidente do Brasil. Ele sabia com quem estava falando.



Já o Pato inflável representa o incômodo com os direitos e deveres públicos. A abolição da escravidão foi um pato. A legislação trabalhista é um pato. Os direitos humanos são um pato. Os impostos são um pato. Os programas sociais são um pato. As merendas são um pato. A legislação de trânsito é um pato. As normas são um pato. Ora, dirão, ninguém é contra nada disso, só não querem ter de “pagar o pato”. Ocorre que nesta coletividade somos todos sócios. Por isso se chama sociedade. Todos precisam de todos. Ocorre que alguns acreditam que não precisam do Estado. Mas esquecem que precisam do poder público para proteger a propriedade privada, para cobrar as dívidas, para o asfalto onde transitam seus carros, para a justiça, etc. Isso quando não pedem diretamente subsídios, isenções e créditos do setor público, um pato para toda coletividade de brasileiros.

Comecei o texto dizendo que, não por acaso, os dois maiores símbolos do golpe são infláveis.

A verdade é que tudo isso é muito inflável. Os “movimentos” são infláveis. Aquele grande número de pessoas nas avenidas é inflável. A oposição é inflável. Os apoios políticos que o governo construiu e acreditava que possuía também foram infláveis e explodiram.

As coisas podem parecer grandes no tamanho, mas não tem substância. Com um simples alfinete na mão de uma criança tudo se desmancha.

Nas últimas semanas aumentou muito a consciência crítica da população com relação ao golpe. Foi de imensa importância a manifestação pública de grandes figuras da classe artística e intelectual. Foram importantes também as grandes manifestações que ocorreram em defesa da legalidade democrática. O menos importante era se tinham duzentas mil, cem mil ou quarenta mil pessoas. Foi incrível a participação de diferentes segmentos da sociedade, inclusive de pessoas e movimentos sociais críticos ao atual governo. Muitos universitários e professores. Marcante a participação de pessoas da terceira idade que viveram os horrores do golpe de 64 e da consequente ditadura militar.

As vozes interessadas na manutenção da democracia se levantaram. Foi fantástico ouvir quem falou contra o golpe, mas ajudou também ouvir quem falou em favor do golpe. A postura violenta, agressiva e intolerante de muitos quadros do impeachment favoreceu a unificação e mobilização dos setores progressistas.

Quando se eleva a consciência crítica da sociedade, há um avanço que possibilita grandes saltos qualitativos a uma nação.

Alguns discursos raivosos e conservadores, destarte, fazem mais barulho e emergem com mais facilidade, pois dependem menos de coerência. Mobilizam corações amargurados. São de fácil reprodução, porém são infláveis.

Seria muito positivo se o atual governo desse o mesmo salto qualitativo ocorrido com essa massa de brasileiros que está saindo às ruas para defender a legitimidade deste mandato. Aliás, durante a eleição, os progressistas já haviam dado esse salto, porém não parece ter sido o suficiente para comover e encorajar este governo. Tomara que esta seja uma nova oportunidade.

A consciência crítica da população não depende deste governo. Não há protesto em defesa dessa gestão, mas em defesa da democracia e contra os retrocessos sociais. Não é possível ainda saber com certeza, pode até não ter golpe. Mas, ou esse governo acorda ou a gente segue à diante.

Se o governo quiser continuar deixando a jugular exposta, justamente à serviço de quem quer colocar sua cabeça na guilhotina, que o faça sozinho. Nós não morreremos juntos. Convidamos esse governo que já foi muito mais progressista a seguir conosco. Acontece que nosso salto é para sempre. Não queremos retrocesso. Queremos democracia de verdade. Com justiça social, distribuição de renda, reforma agrária, educação para o nosso povo, cultura política, saúde, desenvolvimento e com a independência do Brasil.