sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Nina e o Feio (Parte 1)



Não era comum. Não havia explicação razoável para que Nina se sentisse atraída por aquele homem considerado tão feio.


Era isso que Nina ouvia de suas amigas, quando foi tomada por um ataque súbito de sinceridade e confessou para algumas poucas pessoas sua atração pelo tal Davi.

O Davi aparentemente não tinha nada. Não era rico, não era importante, não reunia nenhuma das qualidades tão interessantes ao grupo social da Nina. Pior, o Davi era feio. Feio mesmo. Não era uma questão de perspectiva pessoal. O rapaz era feio. Dono de uma feiura que chegava a ser comovente. Tocava a alma das pessoas. Não passava despercebido de forma nenhuma.

Nina também considerava o rapaz feio. Mas, foi surpreendentemente tomada por uma paixão louca. Primeiro começou a observar o Davi, um pouco curiosa. Começou distante, sem que ele pudesse perceber. Simpatizou com o rapaz.

As ocasionais e esporádicas observações ficaram frequentes, depois de algum tempo. Sem que Nina se desse conta, o Davi passou a fazer companhia em suas noites mais quentes e gostosamente solitárias. Com a porta de seu quarto trancada, ela deixava o pensamento voar longe e se entregava a sonhos muitos eróticos e interessantes, repletos de picardias deliciosas. Não podia dormir sem que seus pensamentos a premiassem com pelo menos um orgasmo que, embora fosse solitário, parecia muito mais interessante do que a maioria das experiências sexuais que ela colecionara em sua vida ainda curta.

Nina era jovem. Bonita. Possuía uma aparência capaz de agradar qualquer homem que se interessasse pelo sexo oposto. Somada à beleza facilmente perceptível, era uma menina muito doce. A simpatia em pessoa. Extremamente educada, tratava a todos com absoluta consideração e respeito, qualidades incomuns às outras meninas da sua turma. A gentileza e elegância deixavam Nina ainda mais bonita. Nina era desejada e irresistível. As qualidades humanas de “boa moça” e a sensibilidade de Nina, de forma nenhuma a transformava em uma figura deserotizada. Tinha um olhar envolvente. Fazia tremer as pernas do interlocutor. Olhava fundo, mergulhava dentro da pessoa. Tinha a pele clara, cheia de pintinhas delicadas que mais pareciam terem sido pintadas à mão, os cabelos castanhos, o sorriso lindo e sapeca, o corpo esbelto, não muito extravagante, também compunham aquela figura tão encantadora.

Ela morava em Perdizes. Vivia com o pai num apartamento confortável. A mãe morrera a alguns anos, vítima de câncer. O pai nunca mais foi o mesmo. Jamais se recuperou. Envelhecera de maneira nítida e perceptível. Não era tão velho, mas os setenta anos de idade pareciam lhe pesar muito mais. Já era idoso e parecia abatido.

Nina e o pai trabalhavam juntos numa farmácia no centro da cidade. Depois do falecimento da mãe, o pai vendeu uma rede de farmácias que possuíam em diferentes bairros de São Paulo. O velho pôde acumular um importante patrimônio e vivia confortavelmente com o rendimento do capital investido. Porém, aquela antiga farmácia na Rua Direita não podia ser desfeita. O pai havia jurado ao avô de Nina manter o negócio “onde tudo começou”. Ela acreditava, porém sabia que o pai vivia conectado com o passado. Guardava coisas, ouvia discos, assistia programas de televisão do passado. Aparentemente, o velho se sentia melhor com as lembranças do passado, ao viver o presente e esperar pelo futuro.

Certo dia, Davi entrou apressado na farmácia. Parecia afobado. De imediato, chamou atenção aquele homem alto, com orelhas grandes, nariz levemente torto, boca também grande, mas com dentes bem tratados, uma cicatriz que cortava o lado direito da face. Parecia uma caricatura. Ele veio direto até o balcão e perguntou se Nina era a farmacêutica.

- Sou eu, respondeu Nina.

- Isso, farmacêutica. Eu preciso de uma recomendação.

Pediu um remédio para a dor de ouvido. De imediato tirou o dinheiro amassado no bolso para mostrar que teria como pagar. Sabia que estava mal vestido. Sabia que não era muito bem-vindo em algumas lojas da região.

- É para você? Perguntou Nina.

Davi explicou que havia uma criança doente, que chorava muito e se queixava de dor de ouvido.

Nina perguntou se o rapaz não tinha receita, se não era melhor procurar um médico.

- Médico demora muito, moça. Não tem vaga. A gente não vai em médico, se cura sozinho.

- É para seu filho?

- Não, é para um menino aqui do prédio.

Davi pegou o remédio e voltou correndo.

“Esse é da invasão”, comentou o pai de Nina.

Davi passara a viver em uma ocupação ao lado da farmácia. O prédio estava vazio fazia quase uma década. Ao ouvir a sentença do pai, Nina imediatamente pensou como alguém conseguiria viver naquele prédio tão destruído e abandonado.

As visitas de Davi passaram a ser mais frequentes. Quase todos os dias Davi entrava na loja para comprar algum remédio ou produto de perfumaria. As vezes fazia compras grandes, o que garantiu alguma complacência por parte do pai diante das curtas conversas de Davi com a farmacêutica da casa e até mesmo uma distante e fria simpatia pelo rapaz que comprava bem e sabia conversar.

“Davi falava bem; nem parece sem-terra”, exclamava o pai quando o rapaz saia da loja.

Foi nesse tempo que Nina passou a se envolver. Era discreta. Passou a gostar do rapaz silenciosamente. Olhava suas mãos apoiadas no balcão. Gostava da cicatriz na face do Davi. Olhava muito para a cicatriz. Ficava louca de desejo com a cicatriz.

Por vezes, sentia vontade de agarrar Davi ali mesmo na farmácia. Já gostava quando sentia o cheiro de seu suor. Durante aquele período de visitas frequentes passara a viver uma obsessão silenciosa e inofensiva. Não conseguia mais pensar em nenhum outro rapaz. Aqueles meninos bem vestidos e razoáveis já não lhe diziam mais nada. Agora era só o Davi.

O rapaz não tinha nada na vida. Quando criança havia se criado sozinho. Davi não conheceu o pai. Viveu um tempo com a mãe e o padrasto. Apanhava demais. Havia sido muito judiado. O marido da mãe não queria a presença do menino que desde cedo se acostumara com a ideia de ser um incômodo. Por isso passava tanto tempo se desculpando por sua presença, seja onde estivesse. Inclusive na farmácia de Nina. Estava sempre apressado. Entrava e saía rápido dos lugares. Odiava a ideia de ser convidado a se retirar. Davi se via sempre como um peso na terra. Simplesmente não havia lugar para ele no mundo. Entendeu isso desde o inicio. Nas ocupações, nada mais natural do que ser arrancado de um lugar e partir para o outro. Para ele a vida era assim, e pronto! Não sabia que as coisas podiam ser diferentes. Por isso agradecia quando trocava mais do que dez frases com a Nina. Quando essas dez frases se tornaram vinte passou a se comover com a generosidade da moça que falava com ele olhando nos olhos e com um sorriso lindo nos lábios. Agradecia sempre. Era inevitável. Ao sair da farmácia, falava “obrigado”. Agradecia a Nina, ao pai de Nina e se mais alguém estivesse atrás do balcão.

A mãe não defendia o filho das surras que ele levava do padrasto. Jamais contrariava o marido. Tinha medo de perder o seu homem. Ele apanhava feio. A mãe dizia que ele mereceu. Apanhava outra vez. A mãe ficava em silêncio. Apanhava de novo, via a mãe chorar silenciosamente. Certa vez sua mãe ficou chocada com o tamanho da surra que Davi levara do padrasto. Apanhou com o fio do telefone e depois com o arame farpado. A mãe decidiu defender o filho, ainda que timidamente. O cafajeste do marido bateu na mulher com gosto. Depois arrumou as coisas e disse que iria embora. Que não era respeitado naquela casa. Logo em seguida a mãe caia de joelhos pedindo para ele ficar. Ela mesma se encarregou de dar outra surra no menino que não tinha nem forças mais para chorar. No dia seguinte acordou e não tinha mais ninguém em casa. Mãe e padrasto haviam ido embora. Davi ficou sozinho no barraco alugado. Não sabia o que fazer. Pedia comida aos vizinhos. Sobreviveu como pode, até o dia em que foi despejado e posto na rua.

Saiu correndo e foi para a Igreja. Bateu à porta da casa do padre. Recebeu abrigo. Um pouco de cuidado e carinho. Depois foi viver num abrigo na Pastoral da Criança. Esse foi um período de paz e alegria para Davi. Não apanhava. Adorava as Missas. Queria ser Padre. Era dedicado, estudava bastante. Os padres percebiam o gosto de Davi pelo conhecimento. Estimulavam sua curiosidade. Presenteavam com livros e Davi lia todos. Conheceu alguns clássicos.

Quando ficou maior de idade, novamente não tinha para onde ir. O menino feio foi apresentado aos movimentos de moradia. Conheceu a luta. Passou a entender como funcionavam as diferenças sociais. Os instrumentos de exclusão. Estudou economia, sociologia, filosofia, história. Se interessava por música, poesia e fazia de uma banca perto da Praça da Sé, que vende “livros velhos”, a sua biblioteca. Ganhou a confiança do dono.

Começou a ganhar a vida recolhendo livros antigos nas casas das pessoas. Aprendeu quanto valia cada um. Quanto podia pagar e por quanto conseguiria vender nos Sebos de São Paulo. Era um negócio simples. Não rendia muito. Mas Davi nunca soubera o que era ter tanto dinheiro no bolso. O negócio crescia e ele estava satisfeito.

Ajudava como podia os seus companheiros de ocupações. Não suportava o sofrimento alheio. Especialmente das crianças. Quando alguém ficava doente e não tinha dinheiro para remédio, já sabia a quem recorrer.



Nina já sentia falta de Davi. Fazia duas semanas que seu cliente especial não aparecia. Ficou um pouco preocupada. No mais, lhe atormentava a ideia de que ele nunca mais aparecesse à sua frente. Estranhou esse sentimento.

A sexta-feira terminou vazia. Nina fechou a loja com a ajuda de um funcionário. O pai havia voltado mais cedo para casa. Ao sair pela rua, Nina viu a ocupação. Algumas bandeirinhas enfeitavam a fachada daquela construção desgastada e caótica. Havia música alta tocando. As pessoas na porta pareciam alegres. Sem dúvida, se tratava de uma festa.

Nina chegou à porta. Ficou com a garganta seca, mas controlou a ansiedade e perguntou pelo Davi. Imediatamente foi reconhecida. “Você não é a moça da farmácia?”. Imediatamente foi convidada a entrar.

- Pode vir moça. Entra. O Davi tá lá no sarau.

Ela gostou de entrar na ocupação. Seu coração batia acelerado. Não sentiu medo, mas certamente estava diante do desconhecido. Muitas crianças brincavam com os brinquedos pedagógicos. Havia um tapete de borracha para elas. Nina percebeu que era uma creche que funcionava lá dentro. Uma mulher negra, forte e muito bonita chegou até ela. Trazia uma cerveja.

- Bebe, moça. Tá geladinha. Quer comer alguma coisa. Tem sanduíche de carne louca.

Nina comeu. Bebeu mais uma lata de cerveja antes de subir as escadas de mármore. Aquele prédio era realmente velho, mas guardava em alguns detalhes uma reconhecível imponência de outros tempos.

Ela reconheceu a voz de Davi. Ele recitava uma poesia do Neruda. Interpretava de maneira apaixonada. Gesticulava. Colocava muito bem a voz. As palavras pareciam bonitas, mas não faziam muito sentido àquela altura, diante de tantos estímulos e surpresas que tomavam sua alma.

As pessoas prestavam atenção em Davi. Era comovente. O Davi era bom mesmo. Quando ele se deu conta da presença dela, imediatamente gaguejou. Perdeu o prumo. Levou alguns segundos até que recuperasse o ponto onde havia se perdido. Ele ficou visivelmente constrangido.

Ela também ficou constrangida. Sem saber como agir foi para casa. Depois, Davi não sabia se havia sonhado, delirado ou se ela realmente havia passado pela festa na ocupação.

Na segunda-feira, Nina já sabia muito bem o que fazer. Ao fechar a loja foi direto ao prédio. Pediu autorização para entrar. Perguntou qual era o apartamento de Davi. Subiu nove andares de escada. Bateu à porta. Era um cômodo muito simples, porém ela se sentiu muito interessada. Havia um colchão no chão, bem perto da janela. Livros empilhados em cima de uma cômoda velha e desgastada.Outros livros no chão.

Davi, estranhamente não se sentiu surpreso com a chegada da moça. Gostou. Sentia-se seguro naquele momento. Teve uma ereção instantânea. Pegou a moringa de barro e serviu um pouco de água para a garota. Ela engoliu rápido a água. Não falou nada. Ninguém falou. O silêncio era absoluto.

Ela passou a chave na porta. Davi ficou com o coração acelerado. Sabia que estava para acontecer algo extraordinário em sua vida. Festejava por dentro. Era como se estivesse gritando, mas continuava em silêncio.

Nina chegou mais perto. Segurou a cintura de Davi e pressionou seu corpo contra o dele. Sentiu que ele estava explodindo. Beijou sua boca. Colocou a língua lá dentro. Provou sua saliva.

O silêncio só foi interrompido quando Davi perguntou com a voz embargada:

- Você tem certeza?

Sim. Ela tinha certeza. Não havia mais nada a ser dito. Nina beijava com os olhos abertos. Queria olhar bem para o rosto de Davi. Isso a excitava mais ainda. Gostava que ele fosse feio. Enfim, poderia se entregar gostosamente para aquele feio. Não havia ninguém para julgar. O lance agora era só com ela. Deitou no colchão. O quarto cheirava umidade e mofo. Foda-se, pensou ela. Nunca estivera num lugar melhor. A fronha e o travesseiro tinham o azedume do suor cotidiano de Davi. Gostou também. Adorou. Molhou-se inteira. Tiveram ambos o sexo mais gostoso de suas vidas.

Nina adormeceu depois que se entregaram a um relaxamento luxurioso. Davi não dormiu. Ficou acordado. Talvez estivesse curtindo muito mais aquele momento de carinho do que o ato sexual. Sentiu-se acolhido. Ah, como era bom sentir aquilo.
Nina se assustou com o horário. Olhou pela janela do apartamento e teve uma visão incrível do centro da cidade. Viu tudo e ficou maravilhada. Era lindo. Comentou que a janela dele era muito mais bonita que a janela dela. Sem saber como era a paisagem de Nina concordou com a afirmação.

“Tchau, gato!” Disse Nina partindo apressada para casa, mexendo no celular e deixando uma mensagem para tranquilizar o pai. Foi embora.

No outro dia, Davi apareceu bem cedo na farmácia. No balcão estava somente o pai. Davi foi até o fundo da loja e perguntou por Nina.

- Pode falar o que o senhor deseja. A Nina está em atendimento – Disse o velho, já sem entender o grau de intimidade entre os dois.

Ao reconhecer a voz de Davi, Nina saiu da sala onde aplicava as injeções mais doloridas do Centro Velho e disse que já tinha terminado o que estava fazendo. Uma senhora também saiu de dentro da sala resmungando que fora deixada com a bunda de fora e sem direito a esparadrapo.

O pai aproveitou a ocasião para acudir a velha e deixar a filha a sós com Davi. Não sem antes resmungar no ouvido da filha: “vê lá o que você está fazendo da sua vida”.

- Eu estou aqui pra te dizer muito obrigado por ter ido no sarau e depois por ter me feito aquela visita. Eu gostei, disse Davi.

Ela se recusou a aceitar os agradecimentos do rapaz.

- Você não precisa agradecer sempre que fala comigo. Eu fui por que eu quis.

Davi ficou sem palavras. Mas antes que pensasse em algo para responder ouviu sirenes dos carros da polícia e muitos soldados com escudos e cassetetes indo ao prédio vizinho.

Ele saiu correndo e foi até o prédio para apoiar os seus companheiros de ocupação.

Minutos depois já se ouviam as primeiras bombas de efeito moral. As sirenes também deixavam todos aflitos.

- Vamos fechar a loja – ordenou o pai.

Nina saiu até a porta. Deparou-se com uma cena de desespero. As pessoas carregavam como podiam seus poucos pertences pessoais. Crianças choravam na calçada segurando seus brinquedos. Uma menina bem pequena beijava a boneca e pedia calma para ela. Com isso, ela também parecia se acalmar.

Algo mudou dentro de Nina. Uma coisa que trasbordava o seu corpo físico. Era muito forte. Ela tremia. Seu couro cabeludo parecia ferver. Não sabia ao certo o que estava sentindo. Era a primeira vez que ela sentia de verdade tamanha indignação e perplexidade. Nina se viu chorando. Gritou desesperada. Pedia para polícia parar com aquilo. Na verdade berrava. Seu pai, dentro da farmácia gritava:

- Pare, Nina! Entre pra dentro. Fecha a loja e entra. Estou mandando. Para, já!

Um policial xingou Nina de piranha. “Vai defender vagabundo?”, provocou o PM.

Nina voltou para dentro da loja, mas não cumpriu a ordem do pai. Pegou o celular e começou a filmar a ação de reintegração com ordem judicial.

O vídeo do celular conseguiu captar um policial mirando uma espingarda em direção da farmácia. Uma explosão destruiu uma das prateleiras de vidro da loja. Logo em seguida um gás insuportável invadiu o ambiente. O pai deitou-se no chão e começou a passar mal.

Vendo a cena, num impulso ela partiu para cima de um policial com quase dois metros de altura. Tentava esbofetear o homem, mas não provocava nenhum dano. Logo ela foi carregada pelos cabelos e arrastada pela rua.

Davi viu a cena. Partiu apressadamente com uma voadora nas costas do policial que largou Nina e caiu ao chão. Em seguida veio outro PM, com um escudo e um cassetete. Davi segurou o escudo, colocou o pé no peito do policial e virou o homem de ponta cabeça que caiu ao chão sem entender ao certo o que havia ocorrido.

Algo também mudou dentro do coração de Davi. Ele acabava de decidir que não mais aceitaria passivamente todos os golpes da vida. Que não mais seria desalojado sem nada fazer.

Estava furioso. Toda a mágoa que tinha acumulada, enfim podia ser libertada. Um terceiro policial atingiu suas costas com um golpe certeiro. Davi fraquejou e dobrou as pernas por um instante, mas levantou. Conseguiu arrancar o cassetete da mão do PM. Distribuiu outros tantos socos. Davi era agora um animal. Parecia cena de filme. Ninguém controlava aquele ninja feio, com cara de sofrido.

Nina sentada na calçada, pôde apenas assistir aquele filme que passava diante dos seus olhos. Àquela altura, Davi não era mais feio. Era lindo. Um herói.

Foi abatido com um tiro de verdade. Não era bala de borracha. Nina apenas chorou. Não gritou. Chorou. Viu Davi ser arrastado pelas pernas até o fundo do camburão que partiu apressado. Voltou para a farmácia. Acudiu o pai que estava passando mal dentro da loja. Chamou uma ambulância. Fez tudo isso chorando.

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