sexta-feira, 11 de setembro de 2015



O “rebaixamento da nota” do Brasil por uma dessas agências de classificação, dá mostras claras da absoluta falência e ineficiência do remédio neoliberal como solução para a economia dos Estados, e no caso específico do Brasil, os erros da política econômica do segundo governo Dilma.

Mas antes de falar do caso brasileiro, vamos refletir sobre o que significa a negativação de um Estado, por parte de um escritório nova-iorquino.

O furor causado no governo e em determinados setores da sociedade, a partir do “rebaixamento da nota”, revela nitidamente um dos porquês da crise econômica, social e política mundo afora.

Os Estados estão de joelhos. Conjuntamente, está também subjugada a própria perspectiva histórica dos homens, incluindo o pensamento crítico, os direitos humanos, as experiências coletivas, a capacidade de reflexão e questionamento.

Estas empresas chamadas “agências de classificação”, mostram-se muito agressivas e cheias de si ao colocar a faca na garganta dos Estados. Porém, são incapazes de prever ou evitar o calote dos grandes conglomerados econômicos e a consequente socialização das perdas. Até porque essas agências pertencem e trabalham para os grandes especuladores das bolsas internacionais que vivem do “risco”. Estão permanentemente na roleta financeira, ao invés de produzir, gerando um “bem social” que pode se tornar coletivo, como a geração de empregos, riquezas, inovação, etc.

Os banqueiros e especuladores sequestraram os Estados. Sequestraram a política. Modelaram a economia mundial ao sabor de seus interesses mais imediatos, inibindo a capacidade empreendedora dos homens e produzindo uma espécie de “realidade paralela” que a humanidade aceita como única, inexorável, inquestionável e definitiva, sem refletir se “outro mundo é possível”. Estamos lutando uns contra os outros em benefício de um sistema sem cara e, por consequência, quase impossível de ser detectado como inimigo.

A política econômica do segundo Governo Dilma foi um equívoco. A começar por um grandioso erro político, desembocando numa imensa barrigada econômica.

O remédio neoliberal não funciona mais. Ao contrário, causa mais danos ao sistema imunológico das economias globais. Não seria diferente no Brasil. Vamos partir do princípio que a escolha seja de conviver nos limites possíveis do neoliberalismo globalizado. Pois então, nem para se manter nas condições da macroeconomia global esta receita velhaca funciona mais.

Vamos supor que nenhum “esforço fiscal” tivesse sido feito, ou seja, com corte de investimentos e gastos públicos, aumento de impostos, queda do financiamento, aumento de juros, quebra de garantias trabalhistas, etc; se nada disso fosse feito, ainda assim nossa economia estaria melhor. Na pior das hipóteses, estaríamos “despertando a mesma desconfiança” dos Mercados (com eme maiúsculo), porém sem tanta recessão, arrocho e ambiente político hostil. Dificilmente o dólar estaria um centavo maior sem o arrocho.

Até porque, o déficit fiscal não diminuiu, ao contrário, só aumentou por conta da queda de arrecadação, consequência da diminuição da atividade econômica. Mesmo a inflação, justificativa de todos os remédios amargos, continua alta, e pior, o aumento de preços acompanhado de desemprego e recessão econômica torna tudo muito mais insuportável para o trabalhador.

A verdade é que ninguém respeita quem se põe de joelhos, muito menos o Mercado.

Não adianta nada assumir apaixonadamente o receituário neoliberal. O Mercado não será mais ou menos “bonzinho” conosco por conta disso. Ao contrário, só quem acredita que o “remédio neoliberal” faz bem para os Estados são os estudantes “chipados” e os economistas “cabeça de planilha”. Os banqueiros e especuladores sabem muito bem que a receita que eles impõem, ao final, leva mesmo à desgraça. Portanto, melhor uma economia dinâmica que Eles critiquem do que a submissão e a apatia que Eles sabem serem sintomas de doença terminal.

Em nenhum lugar do mundo essa receita deu certo.

Muitos devem se lembrar do segundo mandato de FHC ou os últimos dias do governo Menem/ De la Rúa na Argentina. Ao cabo, o Mercado não tratou com consideração ou passou a acreditar mais nos dois governos por adotarem a cartilha do FMI com fervor.

Nenhuma submissão será premiada.

Ao ser ameaçado com o “rebaixamento de nota” dos Estados Unidos, o Presidente Obama fez questão de dizer em alto e bom som que ele era o Chefe de Estado e que as agências de classificação eram absolutamente irrelevantes.

A recuperação econômica dos Estados Unidos não compreende os principais parâmetros deste “ajuste fiscal”. Ainda que eles sejam a matriz do neoliberalismo e o mercado financeiro global seja uma das principais ferramentas de manutenção da hegemonia econômica estadunidense, o que se viu nos últimos anos foi uma série de incentivos à atividade econômica e recuperação do setor produtivo pós-crise, ainda que eles tenham a maior dívida externa do mundo e estejam à beira do chamado “abismo fiscal”.

É só olhar para a história do Brasil. Nossos melhores momentos foram aqueles em que estivemos “mais independentes” ou “menos subordinados”.

Não por acaso, estes momentos foram justamente aqueles em que sofremos maior pressão, ataque especulativo, ambiente político conturbado e imprensa incendiária.

Dilma errou na economia e errou na política. A coalizão progressista que tornou possível sua reeleição e sua base de apoio nas ruas foram postos a perder com a composição de seu ministério e a política econômica de seu segundo governo. Isso tem custado caro e deve custar mais caro ainda.

Tudo foi feito em nome da “governabilidade”, mas quem deveria ajudar a garantir a “maioria”, agora conspira na cara larga.

E a condução da política econômica que mobilizou tantos esforços e prometia ser o trunfo para dias melhores, agora é contaminada pelo ambiente político instável. Não adiantou nada.

As verdadeira aliança que deveria ter sido feita para garantir a governabilidade seria com o povo. Fazendo política! Disputando e ganhando espaço! Travando os grandes debates! Enfrentando os conspiradores!

Depois não diga que não avisamos...

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