quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Coxinha e o Alienado




Antigamente a gente não chamava ninguém de coxinha. Dizia-se "alienado".
Mas, efetivamente, trata-se de categorias diferentes.
Vendo hoje, o alienado até que era uma figura muito simpática. Nem sei porque a gente ficava tão puto com os alienados.
O alienado, voluntariamente ou involuntariamente, preferia permanecer longe das celeumas que habitavam na luta de classes. Não queria ver respingando em si nenhum detrito dos grandes conflitos e sub-conflitos da Guerra Fria.
O coxinha não é nada simpático. É ofensivo. Parte de uma necessidade existencial de ser afirmativo. Sente-se orgulhoso em defender tudo aquilo que o acúmulo histórico da humanidade deveria fazer com que ele tivesse muita vergonha de dizer.
O alienado queria ouvir música alegre, cantar canções que não fossem monotonamente engajadas, contar piadas, fazer sacanagem, jogar bola, assistir novela, torcer pra seleção.
O reacinha precisa proferir xingamentos, ofensas, condenar os outros ao linchamento, não consegue nem pretende esconder seu discurso violento recoberto com roupas de grife, cara de santo e cabelos bem cortados.
O alienado queria transar ao som de Roberto Carlos, fazer quatro ou cinco filhos e viver como Deus manda, pois onde comem seis comem sete, é só botar mais água no feijão.
O fascistinha de merda nem transa tanto, pois fica deserotizado de tanto cagar regra sobre a sexualidade alheia. Presume-se que ele é muito ruim de cama. Fica falando alto no restaurante "que tem que fazer controle de natalidade e esterilizar os pobres para que eles não tenham mais filhos".
O alienado parecia ser sempre "de boa". Estava sempre bem disposto. Acabava por ser sexualmente atraente. Era divertido!
O ditadorzinho de boutique está sempre com cara de cu! Pede sempre a palavra, bate na mesa, quer falar mais alto que os outros, porém quando tem a palavra só fala bosta! Na hora as pessoas nem discordam porque "o médico mandou não contrariar", mas na próxima vez que ele aparece, um olha pra cara do outro e diz: "pãããtaquipariu". Diz-se que ele (ou ela) é brochante.
O alienado tinha sempre o benefício da dúvida. Era uma vantagem estratégica. Caso ele não soubesse nada do assunto, também não discutia com os outros. Dava um sorriso doce e depois propunha um tema mais divertido. Era um cara legal.
Já o coxinha tem a capacidade de ministrar uma palestra de 45 minutos sobre tudo aquilo que ele não sabe porra nenhuma. E pior, é aplaudido por cinco centenas de admiradores num auditório lotado.
O alienado não queria encrenca com "os cana". De vez em quando fumava um só no sapatinho ou tomava um pileque ouvindo um samba.
O reaça marombado usa camiseta do exército de Israel, fica doente do fígado de tanta bomba e suplemento alimentar, gosta de dar carteirada e quando vai na passeata tira foto com a PM pra postar no Insta.
Ah... essa modernidade deixa a gente tão nostálgico.
Saudade do bom e velho alienado! Boa gente aquele cara...

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