segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A Jabuticaba e o fim dos tempos


Logo cedo fui comer pastel na feira.
Passei por uma barraca com jabuticabas lindas e perfumadas.
Fiquei com água na boca imediatamente.
Perdi o tesão ao saber do preço. Cinquenta reais o quilo.
Mais do que isso, fiquei triste mesmo.
Aquela fruta tão simpática que a gente comia de graça. Recolhia inclusive as que caiam no chão.
A fartura era tanta que ninguém cobrava dos amigos.
A molecada fazia guerra de jabuticaba.
Agora a jabuticaba custa mais caro que a picanha.
Em algum momento as pessoas decidiram que essas árvores lindas eram inconvenientes.
A especulação imobiliária tornou os espaços cada vez mais reduzidos e os grandes quintais foram suprimidos.
Talvez, alguns até se envergonhassem em comer essa "fruta de pobre" que só dá no Brasil e, muito provavelmente por isso, seria menos importante do que as outras frutas mais glamourosas ou os doces enlatados da Nestlé.
Pior mesmo é perceber outras tantas imbecilidades em curso sem conseguir fazer nada. Tanta violência contra o planeta. Estupidezes travestidas de modernidade. O ser humano a cada dia se aliena da própria natureza e dos próprios gostos num permanente esforço para estar adequado a esse processo recivilizatório.
Não está longe o dia em que pagaremos para alguma multinacional concessionária um boleto mensal pelo fornecimento do ar que respiramos.
E pagaremos felizes da vida. Agradeceremos a visão empreendedora de seus CEO's que farão palestras nas universidades brasileiras em auditórios lotados de estudantes devidamente "chipados", sonhando com o dia em que serão aceitos neste novo mercado de trabalho.

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