quarta-feira, 29 de julho de 2015

A Candidatura de Datena




A candidatura anunciada de José Luiz Datena para a prefeitura de São Paulo e seu imenso potencial de êxito eleitoral nos dá mostras claras da deterioração do sistema político tradicional, com partidos políticos que se converteram em cartórios de despachos de interesses sazonais, quase sempre mesquinhos, políticos desconectados da grande massa do eleitorado, preocupados com o discurso fácil e quase sempre vazio, ou mesmo das rachadoras que parecem condenar a democracia representativa.
Claro que a candidatura de Datena é uma péssima novidade para São Paulo. Porém, mais importante neste momento é entender como essas coisas acontecem e podem se reproduzir como tendência daqui pra frente, inclusive nas eleições estaduais e também presidenciais.
A perda de popularidade da Presidenta Dilma e do Prefeito Haddad enchem de ânimo os principais partidos de oposição.
Manifestações públicas, ainda que desorganizadas do ponto de vista ideológico, tem levado milhares de pessoas às ruas, dando sinais evidentes do desgaste do Partido dos Trabalhadores, sobretudo entre as classes médias urbanas após mais de 12 anos no poder.
Porém, ainda que os partidos de oposições estejam excitados com o atual momento, seria recomendável que analisassem com mais cuidado a atual conjuntura.
Não há força política regular capaz de capturar a histeria coletiva turbinada que está em erupção.
Tampouco, as forças políticas de oposição, do sistema político tradicional, têm a capacidade de dar direção para que essas manifestações venham a convergir para uma pauta programática e razoável da vida nacional.
O momento favorece justamente o aparecimento dessas figuras externas supostamente alheias à política tradicional e que surgem como salvadores capazes de redimir justamente aqueles que se sentem impertinentes às principais instituições, esperando alguém que "de cima para baixo" possa reordenar as relações e, no imaginário nem sempre consciente do eleitorado, dar mérito a quem sente merecer, premiar quem se sente excluído, dar voz a quem não pode falar, reconhecer quem se sente invisível, recompensar os bons filhos, os bons pais, o cidadão de bem (aspas gerais).
Trata-se da ninguendade que habita em São Paulo e que a esquerda, com uma lentidão absurda, insiste em não enxergar.
Essa ninguendade é composta de uma massa desorganizada que não se sente pertinente às instituições regulares, aos movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos, associações, organizações, etc. Um mundo de gente que não tem nem carteira assinada, vivendo à margem da formalidade, vendendo o almoço para pagar a janta. Pra esse povo, o ator proletário que protagoniza o imaginário da esquerda até os dias de hoje, como o trabalhador industrial metalúrgico, ou os bancários, por exemplo, são privilegiados e desfrutariam de "seguranças" e "garantias" que esse lúmpen da classe média não tem.
Mas vale destacar que não é certo que candidaturas como de Datena e Russomano alcancem os objetivos almejados.
O saber político é diferente de todos os outros saberes. As tarefas são distintas e a ilusão que um comunicador necessariamente nade de braçadas na política pode naufragar rapidamente.
Neste momento, ficam lições que a sociedade deveria aprender de uma vez por todas.
Por trás de manchetes escandalosas, críticas contundentes e ataques públicos de verborragia na imprensa, inevitavelmente existem interesses políticos de diferentes naturezas, alguns corporativos, outros pequenos e mesquinhos.
A população poderá aprender do pior jeito que nenhum show man arrivista dispõe de condições excepcionais para dar conta das tarefas de gerir uma cidade, um estado ou um país.
Que a solução das nossas mazelas não está na exaltação de personalidades estravagantes.
Não há nenhum vício do setor público que não tenha equivalência com a vida privada cotidiana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário