quinta-feira, 21 de maio de 2015

Curemos uns aos outros. Amor, solidariedade e rebeldia!

A solidariedade é uma condição necessária para nossa existência. Devastador perceber como a humanidade constrói mecanismos de divórcio e afastamento entre os próprios seres humanos, nos alienando uns dos outros.
Quero agradecer profundamente quem inventou os óculos, quem os aperfeiçoou e inclusive quem os industrializou (sim, porque a industrialização não pode ser um mal em si mesmo), tornando possível que eu tivesse óculos pendurados na cara, que sem os quais não poderia enxergar o mundo. Preciso agradecer também os verdadeiros artesãos que os produziram e conseguiram encaixar tão bem as lentes na armação.
Eu sequer sei fazer um avião de papel. Quando moleque, não empinava pipa porque não conseguia fazer o tal "estirante". Se dependesse exclusivamente de mim, jamais poderia produzir meus próprios óculos.
O preço que pago por eles, embora seja alto, é infinitamente menor do que o benefício que ele me proporciona. Tirando as margens de lucro em todo processo de produção e comercialização, os impostos, o valor abstrato da marca, restando somente a força de trabalho de quem os produziu, não estou pagando quase nada para quem me faz enxergar.
Vivemos um tempo em que tudo é quantificado. Tudo é precificado. Consideramos apenas o tempo que gastamos com pessoas ou o preço das coisas que vêm na fatura do cartão de crédito.
Transportamos este raciocínio comercial para as relações humanas. Consumimos uns aos outros, buscando intuitivamente um retorno comercial no investimento que fazemos através de nossas relações.
Precisamos estar permanentemente em êxtase. Temos a "obrigação de ser feliz". Caso contrário, "a fila anda".
O consumismo transforma tudo em plástico.
Nos condena a uma realidade paralela. Tudo se compra, mas também tudo é perecível, inclusive as relações humanas que estragam e se deterioram.
O fato é que homens e mulheres dependem uns dos outros para viver.
Mais do que isso, homens e mulheres são animais que podem se curar.
O preço do convênio médico e dos medicamentos nos esconde o fato que estamos curando uns aos outros.
E nos curamos de muitas outras formas, nas ocasiões em que os cargos e funções não nos distinguem.
Fazemos massagens uns nos outros.
Ouvimos uns aos outros. Damos conselhos.
Coçamos as costas uns dos outros.
Abraçamos, beijamos, chupamos, fazemos amor e oferecemos um pouco de alívio uns aos outros. 
Subimos em árvores, brincamos.
Jogamos bola uns com os outros.
Comemoramos nossos aniversários uns com os outros.
Até nos velamos e sepultamos uns aos outros.
O fato é que jamais tivemos a oportunidade como espécie de viver sem ser escravo de ninguém.
O liberalismo faz essa propaganda enganosa, mas na verdade nunca fomos tão escravos.
Nos confere a "oportunidade" do egoísmo.
Valoriza o individualismo e o torna uma condição necessária para a vida moderna.
Somos escravos das coisas. Aliás, nos iludimos que somos escravos das coisas. Na verdade continuamos sendo escravos de gente. Pessoas invisíveis que nos operam e manipulam. É o Mercado.
Chegamos num momento importante da história. 
Parece que "tá tudo dominado", como naquele antigo funk. Mas não está.
Seria possível concluir que estaríamos definitivamente condenados às trevas. 
O Mercado, o consumo, a espionagem, o controle seriam monstros terríveis e impossíveis de vencer.
Mas sempre restará a homens e mulheres a desobediência!
A irreverência. Não dar tanta importância para as coisas.
O amor nunca foi tão revolucionário.
A renúncia ao consumismo desenfreado tornou-se uma ferramenta poderosíssima para desestabilizar o sistema.
Dizer não a toda aquela merda que eles vendem como promessa de felicidade e a coisa mais importante do mundo.
É preciso que sejamos mais simples. 
Que estejamos juntos e curemos uns aos outros.
A solidariedade tornou-se pura rebeldia!

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