quinta-feira, 28 de maio de 2015

Marin é a cara da Elite!

Dirigentes corruptos da FIFA presos na Suíça, incluindo o ex-governador biônico da Ditadura Militar (mui honesta) José Maria Marin. Sim, aquela Ditadura e seus bons homens que prometem voltar ao Brasil para botar fim à corrupção.
Pois bem, os oceanos de dinheiro sujo eram pagos por meio de suborno. 
Em alguns casos, empresas de material esportivo que, ainda por cima, maximizam seus lucros escravizando crianças no sudeste asiático.
Em outros casos, as corruptoras são nossas prestigiosas empresas de comunicação, "guardiãs da democracia moderna", que vez por outra derrubam um governo aqui, conspiram contra outro acolá, protegem uma ditadurazinha militar. Coisa simples!
O dinheiro roubado é gigantesco. Porém, o maior prejuízo, é o que eles causam no imaginário das pessoas. Na deturpação deste esporte maravilhoso que foi escolhido pelas massas de trabalhadores do mundo como uma representação encantada da história. Uma janela por onde se entende a vida. Uma forma de domesticação dos conflitos. De dar um sentido lúdico para a competição entre nações, povos, regiões, comunidades ou clubes.
Mais do que dinheiro, roubaram parte da vida do nosso povo. Roubaram nosso direito de sonhar. Um cenário encantado por onde a gente se projeta no mundo, por onde passamos a intepretá-lo com metáforas que nos oferecem lições para a vida da gente.
E de um tempo pra cá, o futebol só nos oferece as piores das lições. Engano, exclusão, injustiça, violência, racismo, xenofobia, manipulação e roubo. Muito roubo!
A elite dirigente do futebol (que sim, nos presta sem querer mais um grande serviço) ilustra muito bem como se comportam as elites como um todo para além das quatro linhas.
Fica difícil cobrar noções de justiça, respeito, honestidade e cidadania de um menino pobre, sendo que o "futebol mercado" nos ensina justamente que o mundo é dos canalhas!

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Depois de um casamento feliz, tucanos e revoltados cibernéticos selam divórcio



Os recentes ataques recebidos pelo PSDB por parte dos grupos xaatos cibernéticos, autodenominados como Revoltados OnLine e outras siglas, são sintomáticos e nos dão algumas mostras das circunstâncias políticas que provocaram a metamorfose direitista dos tucanos nos últimos anos.
Após "abandonar", ainda que momentaneamente, a canoa do impeachment da presidenta Dilma, o PSDB foi chamado de "traidor" dos Revoltados e passou a ser também atacado e ofendido nos "memes" de protesto.
Na política, ninguém está jogando sozinho. Invariavelmente, as forças políticas navegam ao sabor das circunstâncias, ocupam os espaços mais férteis e se acomodam onde há mais possibilidade de prosperar.
Desde o início do Governo Lula, quando gradativamente o PT migrou para o centro da política e inclusive incorporando muitos pontos da agenda que "pertencia" ao PSDB, os tucanos foram pouco a pouco empurrados para a direita.
Ainda que a gestão de FHC possa ser considerada como um governo representante da direita liberal, ao menos no discurso os tucanos não se encaixavam nesse espaço político da direita raivosa, religiosa e ultra-conservadora, como vimos nas últimas eleições. Basta lembrar que era muito comum nos anos 90 o PSDB ser acusado por ter estabelecido aliança com o PFL, o que o teria distanciado de suas "raízes históricas", ligada à redemocratização do Brasil e à Constituição de 1988.
Na medida em que o lulismo foi bem sucedido ao abrigar diferentes correntes órfãs do projeto nacional desenvolvimentista, os tucanos foram se isolando. Na impossibilidade ou desinteresse de defender o "legado" de FHC, o PSDB passou a ficar "sem discurso".
Havia um espaço político fértil a ser ocupado, onde habitavam forças menos representativas, ainda insipientes e incapazes de estabelecer uma relação transversal com a sociedade civil.
Ali surfavam políticos representantes de igrejas evangélicas, adoradores da Rota e outros cães raivosos.
Se comunicavam com uma parcela da sociedade cada vez mais crescente que se sentia insegura ou atingida pelas transformações sociais. Não somente com as políticas públicas e econômicas do governo do PT, mas pelo conjunto de mudanças sociais e quebra de velhas hierarquias e valores (nem sempre operadas integralmente pelo governo) nos quais repousava esta sociedade e por onde muitas pessoas se acostumaram a ver a vida.
E lá o PSDB "foi ficando". Estava quentinho. Abreviava a comunicação com certa massa de eleitores que vive em pânico, com a televisão permanentemente ligada. Para um partido (mas não somente ele) que havia perdido a capacidade de estabelecer conexões políticas com as populações, essa terceirização do discurso político surgiu como uma boa oportunidade.
Nas eleições de 2010, durante o segundo-turno, José Serra tentou tirar proveito da onda de histeria em torno da discussão sobre o aborto. Foram dias tensos. Nas aparições públicas, Serra chegava a beijar um terço perante as câmeras. Acabou por obrigar a candidata Dilma a também ir à missa. Em 2012 nas eleições municipais, "importou" o pastor carioca Silas Malafaia que berrava aos quatro cantos contra a "cartilha gay" que Fernando Haddad teria distribuído para as crianças quando era Ministro da Educação.
Nas eleições de 2014, o PSDB institucionalizou o moralismo político como ferramenta. Aecio estava mal nas pesquisas, correndo sério risco de ficar fora do segundo-turno. O neto de Tancredo se despiu de todos os pudores e "foi à luta", numa campanha marcada pela histeria política. O que Aecio não podia falar no horário eleitoral ou nos debates da TV, os grupos Revoltados das redes sociais faziam por ele. Cabia de tudo. Tudo era possível. Não havia limites.
Agora, o PSDB é tratado como traidor. Talvez, estes grupos políticos que estabeleceram seu "ethos" através das redes sociais, entendam que o PSDB não tem serventia política se não for para cumprir a agenda fantasiada por eles. Mera ilusão. Ainda que o PSDB tenha sido atraído por esse calabouço ideológico, foram eles os usados para operar uma tarefa a qual os tucanos não tinham capacidade mobilizadora para realizar sozinhos. Não foi o contrário.
Inclusive, o PSDB paga um custo político por ter se alinhado com esta camada rasa da política que se alimenta do absurdo.
Pelo menos por hora, a política continua a ser operada pelas forças regulares e institucionalizadas. Estes grupos cibernéticos caminham rumo à história do folclore político. Nada mais são do que um efeito colateral da tragédia que é a despolitização da sociedade brasileira e subproduto da piromania da grande mídia.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Curemos uns aos outros. Amor, solidariedade e rebeldia!

A solidariedade é uma condição necessária para nossa existência. Devastador perceber como a humanidade constrói mecanismos de divórcio e afastamento entre os próprios seres humanos, nos alienando uns dos outros.
Quero agradecer profundamente quem inventou os óculos, quem os aperfeiçoou e inclusive quem os industrializou (sim, porque a industrialização não pode ser um mal em si mesmo), tornando possível que eu tivesse óculos pendurados na cara, que sem os quais não poderia enxergar o mundo. Preciso agradecer também os verdadeiros artesãos que os produziram e conseguiram encaixar tão bem as lentes na armação.
Eu sequer sei fazer um avião de papel. Quando moleque, não empinava pipa porque não conseguia fazer o tal "estirante". Se dependesse exclusivamente de mim, jamais poderia produzir meus próprios óculos.
O preço que pago por eles, embora seja alto, é infinitamente menor do que o benefício que ele me proporciona. Tirando as margens de lucro em todo processo de produção e comercialização, os impostos, o valor abstrato da marca, restando somente a força de trabalho de quem os produziu, não estou pagando quase nada para quem me faz enxergar.
Vivemos um tempo em que tudo é quantificado. Tudo é precificado. Consideramos apenas o tempo que gastamos com pessoas ou o preço das coisas que vêm na fatura do cartão de crédito.
Transportamos este raciocínio comercial para as relações humanas. Consumimos uns aos outros, buscando intuitivamente um retorno comercial no investimento que fazemos através de nossas relações.
Precisamos estar permanentemente em êxtase. Temos a "obrigação de ser feliz". Caso contrário, "a fila anda".
O consumismo transforma tudo em plástico.
Nos condena a uma realidade paralela. Tudo se compra, mas também tudo é perecível, inclusive as relações humanas que estragam e se deterioram.
O fato é que homens e mulheres dependem uns dos outros para viver.
Mais do que isso, homens e mulheres são animais que podem se curar.
O preço do convênio médico e dos medicamentos nos esconde o fato que estamos curando uns aos outros.
E nos curamos de muitas outras formas, nas ocasiões em que os cargos e funções não nos distinguem.
Fazemos massagens uns nos outros.
Ouvimos uns aos outros. Damos conselhos.
Coçamos as costas uns dos outros.
Abraçamos, beijamos, chupamos, fazemos amor e oferecemos um pouco de alívio uns aos outros. 
Subimos em árvores, brincamos.
Jogamos bola uns com os outros.
Comemoramos nossos aniversários uns com os outros.
Até nos velamos e sepultamos uns aos outros.
O fato é que jamais tivemos a oportunidade como espécie de viver sem ser escravo de ninguém.
O liberalismo faz essa propaganda enganosa, mas na verdade nunca fomos tão escravos.
Nos confere a "oportunidade" do egoísmo.
Valoriza o individualismo e o torna uma condição necessária para a vida moderna.
Somos escravos das coisas. Aliás, nos iludimos que somos escravos das coisas. Na verdade continuamos sendo escravos de gente. Pessoas invisíveis que nos operam e manipulam. É o Mercado.
Chegamos num momento importante da história. 
Parece que "tá tudo dominado", como naquele antigo funk. Mas não está.
Seria possível concluir que estaríamos definitivamente condenados às trevas. 
O Mercado, o consumo, a espionagem, o controle seriam monstros terríveis e impossíveis de vencer.
Mas sempre restará a homens e mulheres a desobediência!
A irreverência. Não dar tanta importância para as coisas.
O amor nunca foi tão revolucionário.
A renúncia ao consumismo desenfreado tornou-se uma ferramenta poderosíssima para desestabilizar o sistema.
Dizer não a toda aquela merda que eles vendem como promessa de felicidade e a coisa mais importante do mundo.
É preciso que sejamos mais simples. 
Que estejamos juntos e curemos uns aos outros.
A solidariedade tornou-se pura rebeldia!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Seminário - "Direitos Humanos: Debater, Construir e Garantir" na FESPSP

No próximo dia 12 de maio o recém-fundado Núcleo de Direitos Humanos da FESPSP realizará seu primeiro evento público. 

O seminário “Direitos Humanos: Debater, Construir e Garantir” fará do campus General Jardim da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo um espaço de fortalecimento dos Direitos Humanos com o debate de temas diretamente relacionados a esta pauta. 

Serão quatro mesas, cada uma composta por pesquisadores, ativistas, professores, jornalistas e gestores do setor público.

O evento terá abertura às 09 horas com a presença do ministro Pepe Vargas da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e prosseguirá com as quatro mesas temáticas. É preciso se inscrever aqui para participar.

Confira abaixo a programação completa.


quarta-feira, 6 de maio de 2015

Núcleo de Estudos do Corinthians - NECO




É com alegria que convido vocês para a inauguração do Núcleo de Estudos do Corinthians - NECO.
Este é um projeto que tenho a imensa honra em coordenar sob a confiança do Departamento Cultural do Corinthians e em parceria com brilhantes Corinthianos, com os quais tenho aprendido muito a cada dia.
O NECO se propõe a estudar o Corinthians para além do jogo jogado nas quatro linhas, mas como um patrimônio social, cultural e histórico do povo brasileiro.
O NECO está aberto a todos os interessados em participar de forma organizada, colaborativa e e respeitosa na construção de um acervo de conhecimentos relativos à experiência corinthiana.
O Núcleo de Estudos do Corinthians pretende colaborar para que o Corinthians se aproprie dessa história tão rica e que também possa oferecer reflexões importantes sobre o clube e sua relação com os diferentes fenômenos sociais de seu tempo, apoiando a instituição para que ela esteja à altura dos desafios que se impõem na modernidade com um olhar arrojado e dinâmico para o futuro.
Vamos estudar o Corinthians e sua relação com importantes períodos e acontecimentos históricos, tais como a industrialização, a formação do proletariado na Cidade de São Paulo, os fluxos migratórios e imigratórios, a modernização da cidade, as vilas e favelas paulistanas, a redemocratização do Brasil, a globalização, entre outros.
Propomos também, colaborar com importantes discussões acerca de questões que se constituem em verdadeiros desafios para o futebol na atualidade como o racismo e a importância do Corinthians na promoção da igualdade racial, o machismo no futebol e os instrumentos para participação da mulher, a homofobia, o Corinthians e o futebol como negócio. Muitos outros tópicos de estudo que serão abordados em reuniões públicas mensais abertas a todos os interessados.
Vale destacar que o NECO não é uma instância deliberativa nem consultiva do Corinthians. Nosso único propósito é colaborar com estudos sobre a história do Corinthians e reflexões livres, num ambiente de liberdade intelectual que contribua para dar luz à questões do passado, do nosso cotidiano presente e com um olhar para os desafios do futuro, entendendo sempre o Corinthians como parte integrante de uma sociedade em movimento, colaborando para sua transformação e também sendo transformado por ela.
A primeira reunião pública do NECO será no dia 11 de maio (próxima segunda-feira), às 19:30 no Teatro do Corinthians, Rua São Jorge, 777.
A entrada é franca, porém o teatro tem capacidade limitada para 370 pessoas. Vale à pena tentar chegar cedo.
Nessa noite, teremos uma palestra com o brilhante jornalista Celso Unzelte, além de uma mesa de debates com pesquisadores do LUDENS – Grupo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Atividades Lúdicas – Universidade de São Paulo USP.
Reforçando que a participação no NECO é livre, independente de área de formação, profissão ou grau de instrução. Estão todos convidados!

domingo, 3 de maio de 2015

Rua São Jorge, 777



Meu primeiro emprego foi de office boy. Juntei uma grana durante meses. Por fim, consegui comprar um título do Sport Club Corinthians Paulista.
À época, um senhorzinho trabalhava como vendedor. Comercializava os títulos para novos associados. Era um dos revendedores autorizados do Corinthians, além de vender também os títulos de antigos sócios que se desfaziam de suas propriedades. 
Sim, os títulos de clubes eram como verdadeiros patrimônios dos associados. Tempos bem diferentes aqueles em que acessar um clube significava não somente pertencimento social, mas desfrutar de confortos hoje facilmente disponíveis em condôminos, academias, pousadas ou casas de praia. 
Havia aborrecido aquele pobre velho uma dezena de vezes, perguntando o preço e verificando se surgira alguma promoção ou desconto especial. Fiz isso durante semanas.
Quando por fim juntei a grana suficiente, peguei o ônibus "Penha" que passava atrás do antigo "Teatro Silvio Santos", na Parada Inglesa.
Escondi o dinheiro na cueca. Considerando valores de hoje, creio que não era tanto dinheiro assim, mas para mim representava a economia de um ano. Havia decidido que seria tudo do Corinthians. Seria eu, parte integrante daquele clube. Era como se tivesse comprando um terreno no céu.
Quando desci no ponto de ônibus que ficava bem em frente ao Parque São Jorge minhas pernas tremiam. Sentia meu couro cabeludo ferver. Estava realmente ansioso e a ponto de explodir.
Ajeitei o meu saco. Quem me observava a distância provavelmente pensou que eu fosse um moleque tarado, ou então que eu tinha uma enfermidade terrível nos testículos.
Carregava dinheiro grande. Cédulas de cruzeiro. Precisava de muitas delas para pagar o valor negociado.
Cheguei triunfante à frente do senhorzinho. Tinha um sorriso muito largo no rosto. Algo que eu não podia controlar, nem se eu quisesse. 
Acho que ele percebeu minha felicidade. Foi cúmplice dela. Ainda que, certamente, aquela fosse uma das vendas mais sofridas e choradas que ele já havia realizado em sua importante carreira.
Me acompanhou solenemente até um guichê bem rústico e simples.
Dentro de uma janelinha escura, um senhor, ainda mais velho e arruinado, conferia meus documentos. Depois passou a contar as cédulas sem supor por onde elas tinham passado.
Depois de se certificar que estava tudo dentro dos conformes, buscou uma máquina de escrever bem pesada que deve ter sido usada para firmar o contrato do Cláudio, do Luizinho ou do Baltazar.
Tudo bem que eu estou ficando velho, mas não vamos exagerar. No começo dos anos 90, os computadores e impressoras já faziam parte do cotidiano das grandes empresas. Mas não do Corinthians. Nem sempre este clube teve essa obsessão louca pela modernidade. As coisas no Corinthians eram do arco da velha. Pensando bem, creio que essa sanha modernizadora do Corinthians atual e esse desespero pelas novidades e por se inserir no mercado global do futebol contenha algum nível de complexo pelos anos de atraso que de alguma maneira se refletia nos resultados dentro de campo.
Essa falta de gosto pelo novo que o Corinthians tinha, a falta de compostura, a ausência do esteticamente aceitável, a breguice que se projetava em times de futebol meio grossos e uma torcida mais simples e menos "pop". Nada disso tirava o encanto do nosso clube do coração. Ao contrário, significava mais um elemento de identidade com a vida da gente. A gente era esse Corinthians meio desengonçado no cotidiano. Que ganhava uma grande conquista depois de suar como condenado e logo tomava tantas outras na cabeça. Inevitáveis desilusões e decepções. Mas era assim mesmo. Segue o jogo. 
Igualmente, com essa vida sofrida que vivíamos, dávamos sem saber a cara daquele Corinthians de outros tempos.
Muitos amigos, entre os quais eu me incluo, sentem alguma nostalgia desse Corinthians que de algum modo parece que se foi para nunca mais voltar. Um Corinthians que vive agora em algum lugar dentro da gente. Na melhor das memórias afetivas.
Mas não é só o Corinthians que mudou. A sociedade mudou, e este clube, como a mais bela de suas expressões, mudou junto com ela.
A molecada não esconde mais dinheiro pra ser sócia de nenhum clube, ela quer celulares, video-games, tênis e roupas de marca.
Não usa a camiseta dada de presente pela tia. Agora, experimentam uma vaidade exarcebada que a gente não tinha. Não querem brincar no clube, querem visitar lugares mais espetaculares. Também não aceitam "viver sofrendo" como os corinthianos de antigamente. Querem se dar bem. Precisam ser os melhores na vida e na bola. Vivemos em uma sociedade que nunca foi tão baseada no prestígio pessoal. Sendo assim, todo mundo tem uma obsessão louca por ser o maioral. A galerinha quer ver o Corinthians campeão todo ano. Mal sabem eles o que a gente já passou...
Quando eu vi o meu nome completo estampado no título patrimonial do Corinthians fiquei muito feliz. Na viagem de volta, ocasionalmente tirava a certidão do envelope e olhava para ela satisfeito e sem me importar que os outros passageiros vissem aquilo que eu havia adquirido.
Foram tempos felizes. Jogava bola no terrão aos sábados com os veteranos. Uns senhores bem mais velhos que eram espetacularmente bons de bola. E adorava jogar basquete, o esporte em que me dava melhor na escola.
Certo dia convidei um amigo que era filho de um cliente do meu pai para conhecer o clube. Ele também jogava basquete e gostou da ideia. Decidiu-se por comprar um título do Corinthians para me acompanhar nos jogos. Algo que ele faria sem o mesmo esforço que eu tive, pois a família dele tinha dinheiro e esbanjava status.
No dia seguinte fui ao encontro dele para irmos juntos ao clube. Ele falou meio sem jeito que não mais iria frequentar o Corinthians.
Seu pai gritou bem alto para que eu escutasse. Que o Corinthians era clube de pobre. De gentalha. Mal frequentado. Que de presente lhe daria um título do Espéria ou do Sírio que esses sim eram clubes de verdade com gente decente.
Tinha me matado tanto para comprar o título do Corinthians e descobrira de uma maneira cruel que minha nova aquisição era para alguns algo desprezível. Pior, nem era por rivalidade futebolística, mas efetivamente por preconceito social.
Adorei aquela sensação de ser "má influência". Não a conhecia até então. Gostei de saber que o Corinthians era um lugar potencialmente perigoso. Me senti muito mais atraído por aquela atmosfera.
Como a vida dá muitas voltas, fiquei sabendo que a família do rapaz foi à falência e que eles vivem hoje arruinados com muita dificuldade financeira. Eu continuo me virando, dando um passo de cada vez e feliz por estar conquistando o meu espaço. Mantendo sempre a humildade porque esse lance de arrogância dá um azar desgraçado, tanto na vida da gente como também no futebol.
Como eu amo o Corinthians!
Vinte e tantos anos depois vou poder fazer um trabalho por esse clube. Um projeto que acredito. É como se tivesse novamente entrando pela primeira vez naquela terra santa.