terça-feira, 4 de novembro de 2014

Intervenção Militar Nunca



Artigo publicado originalmente no Estadão em sua versão digital

O Governador Geraldo Alckmin disse que considera "inaceitável" as manifestações em favor de uma"intervenção militar" no Brasil.
Fez muito bem o governador. Neste momento de crescente histeria política, espera-se atitude republicana e responsável por parte dos governantes, em especial dos líderes políticos da oposição.
Passado o período eleitoral, é hora das reflexões pacientes e eventuais correções de rumo. Espera-se que o PSDB, por sua importância no processo de redemocratização do Brasil, se desvincule e se afaste desta aventura irresponsável.
Dentre tantas distorções do nosso sistema eleitoral, vale destacar que ele favorece a busca pelo absurdo. Para que um candidato seja notado pelo eleitorado entre milhares de concorrentes, busca-se frequentemente o exagero e a apelação. No horário eleitoral nos deparamos com figuras pitorescas e outras supostamente engraçadas. Notadamente o absurdo dá voto. 
Nas últimas eleições, houve grande adesão do eleitorado aos candidatos ultraconservadores. Quem se beneficia desta lógica, não tem nenhum compromisso com a coerência. Alimenta-se justamente das conclusões tolas e da cultura autoritária que ainda permeia nossa vida social. A extrema direita foi bem votada nas eleições parlamentares, o que encoraja outros tantos aspirantes ao mandato legislativo. É a “bolsonarização” da política. 
As forças políticas se acomodam onde encontram melhores espaços. Se estabelecem no terreno que parece ser mais fértil e que apresenta melhores condições. No espaço mais receptivo e com clima menos hostil.
Quando o PT passou a transitar pelo centro da política, o PSDB acabou sendo empurrado para uma direitaintransigente, muito distante de suas raízes históricas. Ainda que a candidatura de Aécio Neves tenha sido cuidadosa em seu discurso, alguns de seus apoiadores estiveram livres para disseminar mensagens que causariam arrepios até mesmo no Tea Party estadunidense. As redes sociais em seus enfrentamentos cotidianos fizeram com que as candidaturas fossem maiores que os candidatos. Ou seja, os candidatos se tornaram muito mais do que a totalidade de seu discurso.
Se por um lado, a adesão à candidatura de Aécio – que verdade seja dita, não foi apenas do eleitorado conservador - tenha sido grande, permitindo a maior votação do PSDB nos últimos anos, por outro, a proliferação deste discurso permitiu que nessas eleições comportamento e política andassem juntos, possibilitando uma identificação mais fácil das duas candidaturas por parte de um eleitorado que estava até o momento por fora do jogo político. Muitos eleitores que votariam nulo ou que nutriam críticas importantes ao Governo Dilma, ao final, apoiaram sua candidatura. Em outras palavras, o discurso ultraconservador e autoritário de alguns apoiadores da candidatura de Aécio, unificou o eleitorado de esquerda em torno da candidatura da Presidenta Dilma.
A necessidade de uma reforma política parece evidente. Porém, tão importante quanto reformar as regras do jogo seria a reorganização do centro da política. O fisiologismo parece ser o principal elemento de adesão gravitacional aos governos federal e estaduais. Seria desejável, no entanto, que as forças políticas interessadas nas transformações sociais que o Brasil precisa tivessem abrigo para além da polarização entre PT e PSDB. As críticas e a oposição ao governo do PT, necessárias para o funcionamento da democracia, não deveriam estar entregues ao histerismo e ao retrocesso. 
A presidenta foi escolhida pela maioria dos votos em eleições livres. Nossas instituições funcionam regularmente. É necessário que haja uma oposição responsável, democrática e republicana. É possível fazer críticas duras e combativas ao Governo Dilma, mas que sejam para o avanço social e fortalecimento de nossas instituições. Parece pavoroso perceber que quase tudo o que não é governismo cego e improdutivo descambe para o extremismo odioso. As vozes coerentes e democráticas da oposição devem ser levantadas para que não prevaleça os berros histéricos dos cães raivosos.
Tirar proveito político de manifestações que defendem “intervenção militar”, além de ser um oportunismo irresponsável, significaria uma derrota histórica e irreversível para as forças políticas que pretendem se comunicar de maneira séria e coerente com a sociedade brasileira.

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