quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Guia de Conduta para Corinthianos "Recém-Fanáticos".




Guia de Conduta para Corinthianos "Recém-Fanáticos".

Claro que é um contra-senso este lance de Corinthiano recém-fanático.

Corinthiano louco é forjado na maternidade, no ventre da mãe, nos testículos do pai apavorando os demais espermatozóides, na outra encarnação. Desde antes de nos tornarmos homo sapiens, já éramos homo corinthios.

Mas vamos levar em conta que nossa sociedade tem mudado muito de uns tempos para cá. O Brasil mudou, o futebol mudou, o torcedor mudou também.

O Corinthians que aprendemos a amar também se inseriu nestas transformações. Ganhamos muitos campeonatos nos últimos anos. Temos um estádio novinho. 

Estávamos muito bem e felizes na saudosa maloca, mas lutamos muito para chegar até aqui.

É o tal negócio. Na casa velha e alugada só recebíamos a visita dos amigos mais íntimos. Nesta casa bonitona e cheia de atrativos começou a aparecer uma galera diferente.

Numa boa. Sejam bem-vindos. Pode colar.

Mas como numa boa roda de samba, convém pisar de mansinho. Sem arrastar. Sem fazer muito escândalo.

Vamos a algumas recomendações básicas que visam ambientar melhor este novo consumidor outrora também chamado de torcedor que freqüenta os jogos do Corinthians.

Nosso intuito não é afastar ninguém, muito pelo contrário. O Coringão é uma família generosa, e sempre cabe mais gente. Mas é recomendável adotar algumas normas de conduta para a melhor convivência entre os corinthianos das diferentes gerações.

1- Respeite os ratos de estádio.

Não é porque você pagou mais caro que você tem mais direito que os outros. Essa regra pode funcionar da porta pra fora. Aqui somos todos iguais. Respeite os corinthianos mais velhos. Eles tem muito a te ensinar. Não pense que você pode chegar apavorando. Seja humilde com as pessoas. Se acidentalmente pisar no pé de alguém, peça desculpas. Se pisarem no seu pé desculpe também. Se não for muito pra você, ofereça um pedaço do seu lanche. Aprenda logo o que é poropopó. O Corinthians é e sempre vai ser O TIME DO POVO.

2- Respeite as mulheres.

Bom, respeite a todos de uma maneira geral. Mas tenha consideração com as minas corinthianas. Elas superaram muita coisa para conquistar este espaço. Superaram - e ainda superam - o machismo crônico do futebol. Provavelmente ela conheça mais do Corinthians do que você. Ganharam o reconhecimento e admiração na raça. Elas não precisam de nenhum privilégio Pode falar palavrão também. Basta apenas tratar com dignidade e respeito. Se você ofender - ou pior - passar a mão... Malandro, você corre o sério risco de tomar um cola. Seja gente.

3- Fotos: Aprecie com moderação.

Se você quer tirar uma foto de recordação no novo estádio, vai lá. Ninguém vai te roubar este momento tão esperado. Quer tirar uma foto do time dentro de campo? Boa. Guarde mais está recordação. Quer tirar uma foto com os camaradas? Beleza, vai lá. Quer tirar... Porra, se liga maluco. Da um tempo. Olha o jogo. A cada cinco minutos você quer tirar um "selfie"? Isso irrita demais. O nosso propósito é ver o jogo do Corinthians. Apoiar e jogar junto. Isso exige principalmente concentração. Tem que estar ligado na partida. Vibrar junto com o time. Em cada foto sua a corrente se quebra. Lembre-se, você é importante. É parte fundamental do todo.

4- Nada de gritar "OooooOoooo Bicha" quando o adversário bate o tiro de meta.

Não sei quem inventou essa droga. Também não sei quem disse que isso é engraçado. As pessoas ouvem isso pela tevê e supõem que o estádio inteiro está gritando e que todo mundo adora. Aí, quando o cara decide ir ao estádio já vai logo gritando esta frase estúpida. Isso simplesmente não é legal. Sem contar que da um azar filho da mãe. Que zica.

5- Não grite chupa. Grite Corinthians.

Quem não tem identidade só se reconhece em oposição ao outro. Este não é o nosso caso. A energia que você desperdiça xingando e odiando os rivais é muito valiosa quando canalizada no amor incondicional pelo Corinthians. Amar é muito melhor que odiar.

6- Não seja dedo-duro.

Falador passa mal, rapaz. Todo mundo já entendeu que não se pode invadir o campo nem atacar nada no gramado. Não precisa você bancar o segurança. No estádio novo não pode fumar? Perfeito, se alguém fumar e isso te incomodar, converse com educação e exponha seus motivos. Mas não queira bancar o agente de vigilância sanitária. Pior ainda, não agrida fisicamente alguém que você acredite estar fazendo algo de errado. Se você quer fazer "justiça" com as suas mãos, saiba que você pode ser julgado da mesma forma no futuro. Não pense que você é invisível.

7- Vestimentas

Véi, não preciso te avisar que você não deve ir vestido de verde no estádio, não é? Não da dessas. 
Evite usar aquela camisa amarela do Corinthians. Só você achou que iria apavorar pagando uma nota nessa invenção ridícula. Isso serve também para as demais aberrações dos nossos "gênios" do marketing. Prefira a camisa preta com listras brancas. Aquela mesma que vira e mexe os caras tiram de linha. Acredite, você será mais respeitado. A branca também vai muito bem. Não precisa comprar uma camisa nova ultimo modelo. Caso você tenha uma bem antiga no armário será melhor ainda.
Se você se considera marombado, nada de ficar circulando sem camisa com a cuequinha aparecendo por cima da calça. O motivo? Sei lá o porquê. Só coloquei isso nesse texto porque me parece ridículo.

8- Não seja tiete.

Nada de ficar pagando pau para jogador. Deixa os caras. Aqui é Corinthians. Meninas, nada de gritar histericamente por um jogador. Puta coisa ridícula. Olha que eu fiz a moral de vocês no item 2.

9- Jogo do Corinthians não é balada.

Tudo bem que os caras inventaram uns horários malucos. Sábado a noite, por exemplo. Mas jogo do Corinthians não é balada. Nada de marcar um pico pra pegar as minas. Aqui tá todo mundo com sangue nos olhos pra ver o Coringão ganhar. Se não está a fim de ver o jogo marca outro lugar. Em Itaquera tem esse lance de camarote. Procure ter bom-senso. Lembre do que eu falei sobre a concentração.

10- Não precisa de lugar marcado.

Em time que está ganhando não se mexe. Tem algo que funciona durante décadas, pra que mudar agora? Você não gosta de assistir aos jogos com seus amigos? Não seriam alguns números marcados numa cadeira que te separariam dos teus camaradas, não é? Sem contar que tem o lance da superstição. Muitos amigos combinam de assistir aos jogos decisivos juntos para não quebrar a corrente. Então não seja você o desmancha prazer. Olhe para os lados, você logo vai encontrar um lugar bacana. Um espaço escolhido pelo destino. Tem algo mais mágico que o imponderável? 

Espero que aproveitem estas dez dicas. 

Vamos viver o Corinthians do jeito que a gente aprendeu a amar. Modernidade é bom, mas existe um acúmulo. Não estamos perdidos no tempo e no espaço. Temos uma história e não estamos começando do nada. Muita coisa aconteceu para que chegássemos aqui. Muitos irmãos sofreram e se doaram pelo Corinthians. Temos nossos costumes, cultura e tradições.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Serra inicia a campanha para Primeiro-Ministro



José Serra investiu décadas de sua carreira política para tornar-se presidente do Brasil.

Talvez nenhum outro político na história recente do país tenha empenhado tanto esforço para alcançar o maior posto do comando da nação.

Concorreu em duas eleições presidenciais, mas em ambas oportunidades a conjuntura lhe foi desfavorável. Em 2002, quando Lula se elegeu, havia um esgotamento depois de oito anos de governo FHC, com alto desemprego, baixo crescimento econômico e caos na infra-estrutura nacional. Em 2010, enfrentou a candidata Dilma, indicada pelo Presidente Lula, no alto dos 80% de aprovação de seu segundo mandato.

Para alcançar seu objetivo, Serra cumpriu todas as tarefas possíveis. Colecionou inimigos e desafetos nos últimos anos, com seu estilo truculento e modo de operação ortodoxo ou no mínimo pragmático.

Todos os importantes cargos que ocupou não foram suficientes para acomodar o seu ímpeto. O poder que dispunha nas mãos sempre serviu ao seu projeto maior. Tem sido incansável e colecionou também derrotas importantes. No afã de restaurar o seu patrimônio eleitoral e de manter sua posição como chefe político local, precipitou-se e constrangeu o seu partido, impondo sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, sendo derrotado por Fernando Haddad.

Para se viabilizar como alternativa, nos últimos anos cavou espaço na direita. Serra nunca foi um liberal e seu histórico político não era de um político direitista. Mas acabou ocupando um espaço disponível, tornando-se representante maior dos conservadores, tendo seu palanque habitado por religiosos histéricos e reacionários raivosos.

Desde sua derrota na eleição municipal, muitos imaginavam que Serra estaria definitivamente liquidado.

Eis que uma condição excepcional pode colocar novamente José Serra muito próximo ao poder central da República.

Com a morte de Eduardo Campos e a ascensão de Marina Silva como candidata à presidência, uma janela de oportunidade se abriu (ou foi aberta) para que Serra faça o que sabe fazer de melhor.

Marina Silva é candidata por um partido que não é o dela. Sua filiação ao PSB é meramente formal e seus correligionários não sabem ao certo quais as plataformas que seriam defendidas caso seja eleita. A entrada de Marina no PSB foi um arranjo para turbinar a campanha de Eduardo Campos. Claro que a possibilidade de vencer a eleição deve animar muitos quadros do PSB, mas como se diz na gíria do futebol, o PSB pode ganhar, mas não levar.

Outras forças políticas devem ter maior inflexão no gabinete de Marina do que seus pares do PSB. O coordenador da campanha de Campos, Carlos Siqueira, quadro histórico do partido, foi rapidamente afastado da órbita de Marina e tornou pública a maneira como foi destratado pela candidata.

Seu lugar será ocupado por Walter Feldman, que embora seja agora filiado à Rede (partido de Marina), é intimamente ligado a José Serra. 

Caso seja eleita, Marina teria imensa dificuldade para construir maioria parlamentar capaz de garantir a governabilidade. Do mesmo modo, suas conexões com a sociedade civil e movimentos sociais são quase que inexistentes.

Não é preciso ser um grande cientista político para perceber que Marina teria imensa dificuldade de governar. Ela mesma se qualifica como "sonhática". Ninguém conhece ao certo sua visão sobre diversas questões relativas à estratégia de desenvolvimento do Brasil.

Ainda que seja romântico este conceito de "sonhático", a tarefa de governar um país, construir alianças políticas e pactos sociais é para os pragmáticos.

Ninguém conseguiu governar o país sem construir alianças. Nem no período imperial, nem no Estado Novo. A própria ditadura militar, que está mais fresca na memória das pessoas, tinha sua base de apoio político civil consagrada entre as oligarquias locais.  

Serra tem um de seus maiores aliados na coordenação da campanha de Marina. Feldman teria tudo para ser um dos ministros mais influentes em um eventual governo de Marina.

Serra é também candidato ao senado. Embora enfrente o campeão de votos Eduardo Suplicy, pode ser impulsionado acompanhando a votação de Geraldo Alckmin para o Governo do Estado. Caso Serra ganhe a vaga para o Senado, pode ser um dos principais articuladores do governo de Marina Silva. Teria muito mais força do que em um eventual governo de Aécio Neves, seu conhecido desafeto.

Se Marina ganhar a eleição, estejam todos certos que o PSDB será o principal partido da base aliada. Com muito mais influência do que exerce hoje o PMDB no governo de Dilma.

Porque no caso do PSDB, além da base de apoio parlamentar que o PMDB empresta à Dilma, os tucanos irão fazer todo o trabalho de mediação do gabinete da presidenta com o Mercado, a imprensa e a sociedade civil.

Sem conexão com a sociedade, Marina precisaria se agarrar aos tucanos para se manter e ao menos garantir a aparência de estar governando. Ela não poderá dar um passo sem o aval do PSDB que deve assumir os principais ministérios,

Marina pode se tornar uma espécie de "Rainha da Inglaterra". Ficaria com a pauta "sonhática", enquanto os tucanos ficariam com a pragmática. Seria uma embaixadora verde do Brasil, sendo celebrada pelos salões dos bilionários e magnatas por enterrar o desenvolvimentismo brasileiro e nossas pretensões estratégicas e geopolíticas.

Agradaria muito os conservadores por falar do meio-ambiente sem discutir questões como o acesso à terra, desenvolvimento humano e trabalho. Como se homem destruísse a natureza por ser mau, e não houvesse questões econômicas e sociais escoradas no capitalismo predatório, consumismo e exploração.

Seria cortejada por abrir mão da soberania sobre o Pré-Sal e da emancipação energética.

Marina se ocuparia destas tarefas. 
 
Ganhando a eleição para senador, Serra poderá ser o Presidente do Congresso Nacional. O grande engenheiro de um governo sem representatividade, precisando de proteção. O mediador de Marina com a oligarquia paulista. De novo, o grande chefe dos tucanos sabendo indicar os homens "certos" para os cargos "certos".

Quem sabe uma nova discussão sobre o Parlamentarismo não comece nos próximos anos. Seria impossível?

O jogo está sendo jogado. E por quem sabe jogar.

domingo, 17 de agosto de 2014

A alegria de ser tio!




Quando alguém prolonga a vida adulta sem filhos, diz-se que a pessoa ficou para titio ou para titia. 

Este conceito carrega a intenção de reduzir a satisfação alheia. 

Presume-se que os tios e tias não alcançaram a realização completa, somente experimentada quando se tem os próprios filhos.

Talvez as mães e os pais queiram se convencer a cada noite sem dormir, seja pela dor de barriga ou pela balada do filho, que estão vivenciado a plenitude do amor, reservada somente aos "eleitos". 

Como se a alegria de ser tio ou tia fosse algo menor.

Permitam-me discordar dessa afirmação.

Ser tia não é padecer no paraíso. É ter o paraíso como casa de veraneio. É desfrutar o paraíso sempre que se tenha vontade. Passar um delicioso feriado e depois de tanta alegria, poder retornar para a deliciosa monotonia e o tão querido silêncio cotidiano.

Nenhum tio é possessivo. O amor de tio é o amor livre. Sem cobranças desnecessárias. Tanto o tio como o sobrinho dão aquilo que tem para oferecer. 

Pode-se amar muitos sobrinhos ao mesmo tempo e de maneiras diferentes. Aquilo que é proibido em outros amores é absolutamente liberado na relação de tios e sobrinhos. 

Além dos sobrinhos regulares que são os filhos da irmã ou do irmão, também somos tios dos filhos dos primos, dos filhos dos cunhados, dos filhos dos amigos e até dos moleques que jogam bola na rua. 

E os sobrinhos também utilizam este expediente, nos primeiros anos de escola as professoras são todas tias. Desde muito pequenas as crianças aprendem a se aproveitar deste amor vagabundo pelos sobrinhos e quando querem alguma coisa acrescentam uma melodia à voz e clamam: "o tiiiiiio...".

Ao contrário do que ocorre muitas vezes durante paternidade e a maternidade, não se espera que o sobrinho seja como você. Nem melhor que você. Nem que alcance um patamar maior do que o seu. Ama-se um sobrinho pelo o que ele é. Tio não da conselho, troca uma idéia. E muitas vezes o sobrinho escuta mais o tio do que o pai.

Porque o sobrinho também não vê o tio como extensão de si mesmo. Não vê o tio como herói, portanto quase nunca se frustra com ele. Não precisa se afastar do tio para afirmar sua identidade. O sobrinho não espera nada do tio a não ser as palhaçadas, os apertos de bochecha, os passeios inesperados e os presentes que nunca são aquilo que se queria.

O sobrinho vê o tio como humano. Percebe seus vícios e seus defeitos. Se humaniza junto com o tio e aprende a conviver com os outros. O tio também entende as merdas que o sobrinho faz. Algo impossível na relação de pai para filho. Ambos aprendem juntos o valor da tolerância.

O pai é despótico, o tio é um democrata.

Tios e tias. Sobrinhos e sobrinhas. Este amor é tão lindo. Se você não tem nenhum sobrinho ou não tem nenhuma tia, basta adotar. Olhe ao seu redor e escolha. Se você já tem, acumule. Faça o bem, multiplique o amor sem esperar nada em troca. Sem cobranças ou compensações. Igual ao amor entre tios e sobrinhos.


sábado, 16 de agosto de 2014

Quem mais perdeu com a morte de Campos? E quem pode ganhar...


O imaginário político está repleto de situações controversas que dão margem para livres interpretações.

Pudera, historicamente o Brasil e a América Latina sofreram com golpes na calada da noite e negociatas escusas e misteriosas.
 
Na periferia do capitalismo global, nosso desenvolvimento esteve inevitavelmente à margem dos grandes interesses hegemônicos.

No caso do desastre com o Governador de Pernambuco o que se vê até o momento são tentativas inescrupulosas de tirar proveito político da tragédia, ou mesmo de destilar ódio e ressentimento de maneira irresponsável e sem medir as consequências de tais atos.

A queda do avião deve ser investigada com rigor para que a sociedade seja devidamente esclarecida.

Torna-se importante neste momento perceber que nenhum dos candidatos concorrentes de Eduardo Campos saem privilegiados com seu desaparecimento.

Campos era um quadro importante para a reorganização do centro da política brasileira.

A direita demonstra extrema dificuldade para compor sua agenda política e encontrar mecanismos de comunicação com a grande massa do eleitorado. Emerge um discurso ressentido e muitas vezes próximo de manifestações preconceituosas. As linhas mais conservadoras chegam muitas vezes a questionar as estruturas democráticas. Consideram-se mais qualificados para decidir sobre o futuro da nação e questionam o poder de voto das classes mais pobres da sociedade por supostamente serem beneficiárias de programas sociais.

Eduardo que era herdeiro do patrimônio político de seu avô, um dos quadros históricos da esquerda brasileira, era um dos maiores expoentes do "lulismo", compondo uma coalizão política que tornou possível a reeleição de Lula em 2006 e a eleição de Dilma em 2010.

Seria muito difícil uma vitória de Campos neste pleito de 2014, porém ele poderia despontar como uma alternativa futura para romper a bipolaridade de PT e PSDB no quadro político de sucessão nacional.

O Governador de Pernambuco tinha dificuldade para ser reconhecido pela grande massa do centro-sul do Brasil. A propaganda na TV poderia ajudá-lo nesta tarefa, porém a sua vice Marina Silva dispõe de um acúmulo eleitoral que pode mudar totalmente o cenário das eleições de outubro.

Dilma sofre um grande prejuízo com a morte de Campos. Segundo as ultimas pesquisas, Dilma caminhava para uma vitória no primeiro turno. 

A candidatura de Aécio tem imensa dificuldade para decolar. O tucano não demonstra energia para ameaçar a primeira colocação de Dilma. 

Durante os últimos anos em que esteve no Senado, Aécio teve dificuldade para ser o maior expoente da oposição, provocando debates e traçando novas possibilidades para o Brasil que pudessem encorajar o eleitorado a optar por uma mudança.

Com a entrada de Marina na disputa, as possibilidades de segundo-turno aumentam consideravelmente. A candidata parte de um patamar muito bom. A memória do eleitorado está fresca da ultima eleição quando Marina saiu consagrada com uma grande votação.
É verdade que no Nordeste, região onde Campos tinha melhor desempenho, Dilma deve herdar boa parte da votação que seria do candidato do PSB (somado ao grande apoio que já tem). O prestígio de Campos se deve em grande parte a sua aliança com o Presidente Lula.

Mas Marina chega com força no Sudeste e no Sul do Brasil. Para se ter uma idéia, na ultima eleição Marina foi a segunda colocada no Rio de Janeiro. Dilma ficou em primeiro. Tinha uma aliança estratégica com o Governador Cabral que em seu segundo mandato derreteu sua popularidade, sendo talvez o político mais atingido com as manifestações de junho do ano passado. Não se sabe se o eleitorado carioca irá apoiar a candidatura de Dilma como fez em 2010. A rejeição ao candidato paulista José Serra também facilitou a aderência à sua candidatura.

É importante perceber que a base estrutural do lulismo que permitiu a eleição de Dilma em 2010 não se mantém para 2014. Cabral que no ultimo pleito teve 70% dos votos derreteu sua popularidade. Eduardo Campos saiu candidato e alavancou Marina Silva na sua região antes de morrer. Os irmãos Gomes sofrem desgaste e os governistas estão divididos na sucessão estadual no Ceará. Jaques Wagner termina seu governo com sérios problemas. 

Marina terá o cartão de visitas de Eduardo Campos no nordeste e somado a isso, já tem seu passaporte carimbado na região sudeste que concentra a maior parte do eleitorado brasileiro.

Dilma encontrará dificuldade num eventual segundo turno com Marina. Aécio tem uma rejeição muito maior e sua eventual eleição representaria uma ameaça de ruptura das garantias conquistadas a partir do Governo Lula.

Marina teria a tarefa de tranqüilizar o eleitorado que deseja mudança, mas não que não vê a gestão de Lula e Dilma com maus olhos. A oposição drástica e cega ao PT já está abrigada na candidatura de Aécio.

Certamente, Dilma prefere enfrentar Aécio no segundo-turno, não Marina. Por isso a presidenta perdeu muito com a morde de Campos.

Aécio também perdeu e neste momento deve estar desesperado. Sua estratégia era polarizar com Dilma. 

Nas próximas pesquisas, Aécio deve ter a companhia incômoda de Marina no segundo lugar. A candidata ganha um espaço que não tinha no nordeste, somado ao contingente que já dispunha em outras regiões.

Aécio estará encurralado. Atacar Dilma ou conter o avanço de Marina?

O mineiro será prensado e corre sério risco de ficar de fora de um cada vez mais provável segundo turno.

Quase ninguém ganhou com a entrada de Marina na disputa. A não ser ela mesma. Ou quem aposta tudo numa ruptura do tabuleiro político e num cenário em que a a candidata eventualmente eleita tenha imensa dificuldade para governar. 

Este sim é um dado muito importante para os que adoram as teorias de conspiração.

Para fazer uma análise eleitoral, antes de mais nada deve-se saber se o momento é de conservação ou de mudança.

Está eleição carrega consigo um desejo de mudar.

Aécio não significa necessariamente mudança, pois a fórmula tucana de governar já é conhecida. Nada de novo. Do mesmo modo (e ao mesmo tempo) representa uma ruptura do pacto político do PT com a inclusão social.

Marina - ainda que não seja - surge como uma candidata fora do jogo político e descolada das velhas fórmulas.

Talvez a tarefa para as campanhas de Dilma e Aécio seja comprovar o contrário. Ou seja, que Marina não está descolada da velha política. Buscar contradições. E que precisaria de experiência para governar o Brasil.
 
A teoria política e as experiências históricas nos ensinam que estes "elementos externos" que surgem para além das forças regulares podem sim ser decisivos. Não significam necessariamente a mudança. As velhas forças tem muita facilidade e competência para se reorganizar. Mas em termos de eleição surgem com apelo e a promessa cínica do "novo". Tudo pode acontecer.



segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O uso social dos estádios da Copa


A boa avaliação da Copa do Mundo realizada no Brasil que apresentou números surpreendentes se comparados com a angústia e pessimismo exagerados antes do evento, não pode prejudicar uma análise mais rigorosa do legado posterior à realização do Mundial.

O futebol sempre foi um tema que unificou os interesses da população. Uma experiência de cumplicidade que permitia ao juiz e ao gari conversarem horas à fio sobre escalação, comportamento tático e estratégia no jogo de bola.

Com a ocasião da Copa do Mundo, a participação do Estado com investimentos públicos para a realização dos jogos e a prometida indução do desenvolvimento econômico a partir do investimento em infra-estrutura e estádios de futebol, fez com que questões como Gestão Pública, Desenvolvimento Econômico, Distribuição e Geração de Renda, também se tornassem "assunto de boteco".

A mídia esportiva passou os últimos anos tratando estes assuntos tão delicados com o mesmo rigor que analisam os jogos de futebol. Ou seja, ao sabor da intuição e buscando a polêmica fácil. Sem a atenção e a paciência que estes temas merecem.

A popularização dos temas relativos à gestão pública não é ruim. Na verdade é uma oportunidade muito importante para amadurecer a relação entre os indivíduos e as instituições, mas também exige respostas do poder público e uma comunicação com a população que vá além das peças publicitárias. 

Estádios foram construídos. Receberam investimento e financiamento públicos. Os estádios do Internacional, do Atlético Paranaense e do Corinthians foram os únicos estádios privados, mas que receberam, em maior ou em menor nível, financiamento público em suas obras.

Os demais estádios são administrados por consórcios privados. Alguns deles em locais com pouca tradição de clubes e campeonatos de futebol.

Na Copa do Mundo observou-se tristemente que a população pobre praticamente não conseguiu acesso aos jogos de futebol. Quem via a Copa pela televisão nos quatro campos do mundo, poderia concluir que no Brasil não havia negros. 

Mesmo com o fim da Copa, o Apartheid nos estádios permanece. Os assentos posicionados ao meio do campo estão quase sempre vazios. Ali os ingressos são caríssimos, quando não reservados para regalos institucionais ou camarotes. Quem consegue pagar para entrar nos estádios fica quase sempre atrás do gol, tarefa que não é tão difícil para os torcedores apaixonados. Porém, o velho torcedor que pagava pouco e não se importava em assistir as partidas de pé nas gerais, esse não existe mais. Foram varridos.
 
Os estádios da Copa são monumentos lindíssimos. A Arena Corinthians em Itaquera está no coração da periferia da Zona Leste. É inconcebível que a população do bairro só tenha a oportunidade de apreciar esta obra da janela do trem na volta do trabalho.

O uso social dos novos estádios pode cumprir um papel de disseminação da justiça social e dar uma resposta clara por parte do governo quanto ao legado da Copa do Mundo.

As novas arenas são construções gigantescas que em sua maioria ficam ociosas a maior parte do tempo.

Quando o antropólogo Darcy Ribeiro planejou o Sambódromo da Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, previu o uso das instalações durante o resto do ano para um CIEP, uma escola de tempo integral que é o projeto mais bem sucedido em termos de educação na história do Brasil.

Os estádios da Copa, sobretudo aqueles nas regiões onde não existe a tradição de grandes campeonatos ao longo do ano, poderiam oferecer parte de seus espaços físicos para a prestação de serviços públicos de saúde, educação, cultura, justiça, etc.

Para além da efetividade dos serviços públicos que podem ser ofertados a população, sem comprometer a organização de jogos de futebol naqueles espaços, cumpre-se um significado importante. Uma resposta à população. Isso não pode ser algo menos importante.

No mais, os clubes de futebol podem cumprir um papel muito maior.

A resposta de mau gosto de membros do Estado de Israel aos protestos da diplomacia brasileira com relação ao massacre contra a população da Palestina nos dá pistas importantes de como o futebol brasileiro empresta sua importância na maneira como o Brasil é visto e encarado. Quando israelenses dizem que "massacre foi o sete a um", numa comparação torpe entre um jogo de futebol e ataques que vitimam centenas de milhares de pessoas, podemos ter uma idéia da importância do nosso futebol como patrimônio cultural, social e político do povo brasileiro.

A resposta do Estado brasileiro foi coerente e de importância histórica. 

Mas voltando ao nosso futebol, o Brasil precisa também passar uma mensagem nítida para a população do alcance social do futebol.

Hoje, em sua maioria, os grandes clubes estão endividados, com péssima situação financeira. O maior credor destas instituições é o governo, já que a maior parte das dívidas dos times grandes é em tributos e contribuições.

Do jeito que estão, os clubes são alvos fáceis para oportunistas e inescrupulosos. Os clubes brasileiros não são empresas. Nem poderiam ser. São representações importantes da nossa sociedade. Cada clube possui um discurso diferente e até mesmo uma espécie de mito fundador. Porém todos eles, ao seu modo são fragmentos que completam as diferentes expressões da nossa cultura.
     
Não haveria problema se o governo resgatasse os clubes financeiramente e os livrasse das máfias que se instalaram, exigindo responsabilidade financeira e fiscal daqui por diante.

Porém, o mais importante seria a contrapartida social que estes clubes podem realizar. Os times de futebol tem um potencial imenso de comunicação com a sociedade brasileira. Poderiam se converter em prestadores de serviços sociais nas comunidades. Apoiando a inclusão através da educação e do esporte. Hoje, os governos em suas diferentes esferas já divide estas tarefas com o terceiro setor. Os grandes clubes possuem estrutura para fazerem mais. Seria uma oportunidade para resgatar os seus propósitos.

Também, seria possível apoiar as categorias de base, para que o Brasil volte a revelar grandes jogadores. Mas ao invés de os nossos jovens serem "contrabandeados" para o exterior, muitas vezes por empresários oportunistas, poderiam ser incluídos através da educação.

Não seria sensacional que os grandes clubes brasileiros tivessem suas escolas e até mesmo suas universidades, apoiando seus atletas e sua comunidade de torcedores?

Faz-se necessária uma urgente Política Nacional para o Futebol, que definitivamente coloque este esporte como um patrimônio histórico, social e cultural do povo brasileiro.
    
O futebol atende a um propósito muito maior do que o jogo jogado dentro do campo. É uma janela por onde boa parte da sociedade enxerga a vida. Interpreta as relações sociais e a vida cotidiana.

Por meio do futebol, torcendo por seu time de coração no estádio, muitos brasileiros aprendem a se expressar. É a porta de entrada para a vida social e política para além de suas relações privadas. O futebol é essencialmente uma experiência pública.

Resgatar o nosso futebol é resgatar em parte a fé nas nossas instituições. Ter roubada a experiência de torcer por seu time de coração é aumentar a injustiça social. É aumentar a percepção de exclusão e violência.

E ao contrário do que se pode imaginar, não é uma atitude inteligente do ponto de vista econômico. Afastar o torcedor é virar as costas para o consumidor. É deixar de olhar para o futuro em troca da exploração fácil do lucro instantâneo. É olhar para poucos e fechar os olhos para uma grande massa de brasileiros.

Garantir o uso social dos estádios é dar uma resposta muito importante à sociedade brasileira. É incluir. É dar demonstração de bom uso dos recursos públicos. É permitir à população admirar de verdade aquelas obras gigantescas e tão bonitas. Monumentos que devem ser coletivos, não signos da exclusão e espaços de privilegio.

domingo, 3 de agosto de 2014

Nuvens

Bem-aventurados aqueles que não se escondem do tédio.
Fugir da monotonia pode ser uma armadilha perigosa. Pode-se morrer facilmente na busca intermitente do êxtase.
Sorte de quem se banha à sombra nos dias sem brilho. 
Nos dias normais, comuns, modorrentos.
Os dias de dentes bem escovados mas em que ao mesmo tempo os cabelos estão infelizes.
Quando o rosto está opaco. Quando a boca sorri, mas os olhos não acompanham em harmonia.
Não há nada de errado nos quartos com paredes bege e cortinas sisudas. 
Na televisão com interferência. 
No aparelho de som desligado na tomada.
No livro que não consegue ser lido. Que repousa na cabeceira da cama se sentindo inútil e indesejável.
Qual o problema em renunciar ao dia de sol brilhante e o céu totalmente azul? Nada te obriga a se movimentar. Você pode ficar fechado e escondido no escuro numa boa.
Brindemos um cálice de café com leite. Comamos um banquete com pão murcho e margarina sem sal.
Abaixo a ditadura do bom-humor.
Tudo bem com os dias de lamentação. É isso mesmo.
Nada de mais nem nada de mal. Ninguém comigo aqui além da solidão.
A decepção pode também regenerar.
Problema nenhum com este texto. Problema nenhum com nenhum outro. Não se fala de amor somente quando se está amando. Nem é preciso falar de ódio quando se está odiando. Nem de paz quando não se está em guerra.
A vida é assim. O melhor e pior dormem na mesma cama. O triste e o regenerado sentem o hálito um do outro. A promessa e a decepção bailam a mesma valsa durante horas.
As pessoas lêem nossos blogs, nossos tweets, nossos posts. Curtem ou descurtem nossas poses, nossos momentos, nossas reflexões.
Mil canais de saída se abrem para a expressão. E o que fazemos?
Esfregamos nossa alegria na cara das pessoas? Tentando convencer a nós mesmos que não chegamos atrasados e perdemos o trem da felicidade.
Que se dane tudo isso, não é?
A tristeza se tornou mais triste e atormentadora porque estamos obrigados a estar permanentemente felizes. Aderir a este conceito tolo que é "felicidade" dos nossos tempos.
Não se pode nem experimentar a tristeza numa boa. Porque gastamos toda nossa energia estando triste por estarmos tristes.
As cores são lindas sim. Mas elas só podem ser lindas porque existe o cinza.
Que delicia pode amarrar um bode. Numa boa e sem problemas.
Tudo isso para sentir que o amanhã pode ser muito melhor que hoje.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Gaza é aqui. Israel também. Quem são os nossos genocidas

Nossas faixas de Gaza são as periferias das grandes cidades brasileiras. 
Nossos genocidas não estão apenas nos cargos de poder. Não são somente políticos e militares. Embora estes tenham imensa responsabilidade por nosso holocausto cotidiano. 
Temos nossos "sionistas" dirigindo táxis, apresentando telejornais sesacionalistas, berrando com a bíblia debaixo do braço ou vestindo batina. Falando sobre um deus que seria mais ódio do que amor.
Nossos fanáticos estão por aí, pedindo que os pobres sejam esterilizados e as favelas queimadas. 
Sentindo-se cheios de certezas absolutas e clamando pela vinda de um Benjamin Netanyahu tupiniquim que nos livre deste inconveniente chamado "direitos humanos".
Estamos repletos de contribuintes praticantes que não desejam que o rico dinheiro de nossos impostos se converta em pratos de arroz, feijão e um pouquinho de carne na mesa de um irmão.
Nossos carrascos de crianças estão por aí plantando droga nas favelas. Fazendo discurso moralista enquanto vendem arma pra policia e pro bandido. Vestidos de Papai Noel, roubando a infância e colocando fuzil no pescoço da molecada.
Nossos tradicionalistas estão nostálgicos dos velhos tempos em que podiam proferir livremente seus insultos racistas e quando um preto sabia o seu lugar na sociedade.
Nossos soldadinhos andam por aí de cabeça raspada, ofendendo os nordestinos e jogando as "bichas" dos viadutos.
Nosso Muro da Lamentação está todo pixado por cidadãos apolíticos, apartidários, nem de direita, nem de esquerda, muito pelo contrário. Todos escrevendo frases fáceis contra a classe política e sonhando com um Capitão Lacerda vestindo toga, que por meio da força seja nosso vingador e coloque todas as coisas no lugar onde "deveriam estar".
Nossos emissários da justiça divina estão nas redes sociais. Nos fóruns de internet destilando ódio e preconceito.
Vidas humanas continuam sendo moídas. 
E estamos repletos de "gente de bem" cheios de ressentimento por não termos as condições excepcionais que permitiram um massacre tão contundente e tão apoiado pela opinião pública como o realizado por Israel contra o povo palestino.
Sim, porque não existe injustiça se não há quem se beneficie disso.
Não existe massacre se não houver muita gente satisfeita com uma empreitada tão sangrenta.
Tanto os palestinos de Gaza como os nossos palestinos daqui, não tem terra, não tem propriedade, não tem pátria, não tem justiça, não tem nada.
E para muita gente que se considera santa, é assim que as coisas devem ser. Por todos os séculos e séculos.