quarta-feira, 11 de junho de 2014

Não há motivos para o Brasil se envergonhar


Não há motivos para o Brasil se envergonhar.

Absolutamente nada!

Chegamos onde chegamos pelo triunfo deste povo que é a experiência mais fantástica das civilizações.

Claro que temos os nossos efeitos colaterais que andam por aí cabisbaixos e complexados. Uma defecção necessária no esforço de produção da maravilhosa formação da gente brasileira.

Em 1950, o Brasil sediou sua primeira Copa do Mundo. A Europa estava destruída e esmagada depois de sua aventura evolucionista, em que cada nação tentava justificar sua supremacia imperialista, ancorada  numa suposta superioridade racial, cultural e biológica.

Em nome de seus interesses nacionais e imperiais morreram 70 milhões de pessoas. A tentativa de comprovar a superioridade de um povo sobre os outros ocasionou a maior tragédia da história da humanidade.

É com tristeza e desapontamento que vemos alguns irmãos brasileiros incorporando esta lógica para justificar a própria submissão. 

Nossas elites encontraram a possibilidade de realizar seu propósito aventureiro e colonialista garantindo seus benefícios, mas entregando nossas riquezas. 

Foi e continua sendo até hoje necessário justificar a própria inferioridade como uma espécie de justificativa para oferecer de bandeja nossos tesouros e nossos destinos aos piratas e exploradores.

O Brasil não deve se envergonhar.

Somos um país jovem que foi colonizado de maneira precária por uma monarquia absolutista.

Nesta terra desembarcaram todos os tipos de exploradores e renegados.

Os países ditos civilizados escravizaram os negros por quase quatrocentos anos, deixando marcas definitivas de injustiça e violência. 

O autoritarismo dos coronéis deixou cicatrizes históricas na nossa formação social e política.

Desde sempre nos criamos numa espécie de capitalismo precarizado. Ao povo brasileiro sempre foi negado o acesso à própria terra, acesso ao conhecimento e à educação.
 
A justiça e a liberdade sempre foram privilégios dos ricos.

Nossas riquezas foram dilapidadas.

E quem disse que não resistimos?

Fomos presos, torturados, esquartejados, assassinados.

Muitos heróis brasileiros enfrentaram e pagaram com suas vidas pela resistência ao jugo dos colonizadores.

Mas existe um outro tipo de resistência.

O bom humor. A sacanagem e a irreverência.

Nada mais ameaçador e subversivo do que permanecer existindo. Fazer piada sobre as desgraças é desacreditar a vitória da opressão.

Sambamos, cantamos, sorrimos, fazemos amor e jogamos bola
.
Nos miscigenamos.

Somos bons de bola porque fizemos o melhor com os poucos recursos necessários para uma partida de futebol. Poderíamos fazer muito mais em outras áreas de desempenho caso fossem oferecidos outros recursos para nossa gente.

Algumas obras atrasaram, não vamos mostrar o melhor que podemos fazer. Mas não é pra menos. Nosso capitalismo é um fracasso.

Como poderíamos ser uma potência, se ainda lutamos para superar a escravidão, numa sociedade autoritária e com um senso de hierarquia social plantado por essa elite burra.

Mas os gringos que viajam ao Brasil neste Mundial, não estão preocupados em calcular o tempo que sua bagagem demora para aparecer na esteira rolante.

Na verdade, eles esperam mesmo é se deparar com nossas belezas naturais. E principalmente com o sorriso do nosso povo.

É no povão que habita a nosso verdadeiro potencial criativo. 

Essa gente brasileira, aos trancos e barrancos, mesmo com a incapacidade de nossa elite, construiu um país formidável.

O Brasil é um país moderno. Repleto de riquezas. Qual país do novo mundo conseguiu erguer uma nação como a nossa? Muito poucos.

O mundo todo ouve nossa música, vibra com nosso futebol e se delicia com nosso sorriso.
Não somos um lugar desprezível perdido neste planeta.

Temos problemas? Muitos. Injustiças devastadoras.

Não vamos esconder nossas favelas atrás do tapume. Esta é a nossa realidade.

Mas é bom que se diga, por trás da riqueza dos países ditos desenvolvidos escancara-se o roubo dos tesouros dos países colonizados, a escravidão dos negros, o massacre dos índios, a fome dos nossos miseráveis.

Nos edifícios bonitos de algumas nações "civilizadas" esconde-se o dinheiro sujo de corruptos, traficantes, genocidas, torturadores e ditadores.

Sim, poderíamos ter feito melhor. Isso aqui realmente é uma bagunça. Mas porque haveríamos de receber os estrangeiros numa realidade simetricamente oposta ao cotidiano opressivo do nosso povo?

Os protestos, embora despolitizados, demonstram que não aceitamos mais a submissão. Que desejamos a justiça social e a igualdade. Que queremos viver melhor e deixar um futuro melhor para nossos filhos.

Nada disso estaria ocorrendo se não tivéssemos avançado na construção da nossa democracia.

O Brasil é um país maravilhoso. Vamos curtir o mundial sem complexos.

Não há nada do que se envergonhar. 

Ainda estamos construindo um novo amanhã. Com os ruídos e transtornos próprios das verdadeiras transformações sociais. Mas, acreditem, não somos um fracasso como nação.

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