terça-feira, 20 de maio de 2014

Não foi protesto; Foi ato terrorista!



O que ocorreu com os ônibus aqui em São Paulo não foi um simples protesto.
Na verdade, trata-se de um ato terrorista contra a população.
É muito mais que uma greve em que  uma categoria decide paralisar as atividades.
Estacionar os ônibus em fila no meio das avenidas, interrompendo o trânsito na cidade e impedindo milhões de pessoas de voltarem a suas casas é uma violência sem tamanho.
Não foram passeatas que ocorreram. A greve é um direito legítimo dos trabalhadores. No entanto, o que presenciamos é um atitude de vilania escancarada operada por um grupo que não parece agir com reprovação de suas empresas.
Aliás, os ônibus desde o primeiro período da manhã estavam disponíveis e não parece que, diante da greve, as empresas tenham recolhido suas propriedades para dentro das garagens.
O sindicato de motoristas e cobradores havia aceitado o reajuste proposto para sua categoria.
Mas o que está em jogo é muito mais do que o salário dos trabalhadores e seus benefícios. Grandes interesses corporativos dos tubarões do transporte público parecem estar ameaçados.
Não quero aqui aliviar as coisas para a classe política. Quem sou eu. Mas através de incidentes como os de hoje, nos damos conta que a cafajestagem não é privilegio do setor público.
Atrás das supostas causas trabalhistas, escondem-se grandes interesses ocultos. Dinheiro acima de tudo. Conspiração.
Do setor público, espera-se correção, honestidade e ética. Mas existe uma ideologia silenciosa que permeia toda a nossa vida social que confere a quem está em qualquer atividade do setor privado maximizar seus interesses a todo custo e garantir o lucro da maneira que for possível.
Governantes são políticos. Políticos disputam eleições. Os votos dependem da opinião pública. Fazer um governante "sangrar" é a estratégia para conseguir qualquer benefício. Ainda que seja através da chantagem.
Até porque, há tempos os políticos evitam a todo custo discutir com transparência, e se preciso for, enfrentar o descontentamento da opinião pública. A política está entregue ao fisiologismo e ao aplauso fácil. Questões sensíveis e polêmicas fazem com que os políticos fujam como o vampiro faz com a cruz. Não à toa, o judiciário vem se politizando e ocupando funções que seriam do legislativo e do executivo, todos eles reféns de bispos, pastores, mídia, doadores de campanha, etc.
Com a política de joelhos, fica muito fácil para que os aventureiros de plantão invistam contra o poder público.
Se a criminalização da política, no plano macro permite ao Mercado seqüestrar os Estados para apropriação privada dos recursos sociais, no plano regional possibilita também que grupos mafiosos promovam uma verdadeira extorsão em praça pública contra o poder estabelecido.
Não será possível corrigir as distorções e melhorar a qualidade do transporte público em São Paulo sem contrariar interesses muito poderosos.
Mais do que o protesto pelo direito dos trabalhadores, o que se fez hoje em São Paulo foi colocar uma "faca no pescoço" do prefeito. A estratégia é provocar o caos e inviabilizar as reformas no transporte coletivo, mantendo os velhos privilégios.
O prefeito Fernando Haddad, deveria fazer o que em verdade ele faz muito mal: Comunicar-se com a sociedade e colocar as cartas na mesa.
Por sua vez, os paulistanos deveriam saber que ao cobrar unicamente a prefeitura, de maneira despolitizada e irracional, ao sabor dos ressentimentos políticos, estarão criando as condições para que atos terroristas como os de hoje voltem sempre a ocorrer.    
Por fim, a população deveria se unir contra estes abusos violentos de quem só quer fatias maiores  dos recursos públicos, que como o nome diz, são de todos nós.
Dar o que os chantagistas querem seria uma violência histórica.
Bom mesmo seria se o prefeito aproveitasse este momento para fazer o que há anos deveria ter sido feito: estatizar o transporte público, garantindo a qualidade que a população exige e merece, além de acabar com esta perversa teia de interesses que envolve empresários, sindicatos, vereadores, doações de campanha, e subsídios públicos.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

O #NaoVaiTerCopa e a tradição de autoritarismo no Brasil

Impressionante como certas marcas da formação social e política do Brasil estão entranhadas como uma chaga e são quase que impossíveis de serem extraídas. 

O autoritarismo é parte integrante da vida mental dos Brasileiros. Sem nos darmos conta, valorizamos e reproduzimos este modelo. E não é só no governo. O autoritarismo permeia todas as instituições e está até mesmo no comportamento dos indivíduos.

O autoritarismo está na direita, na esquerda e até na traseira.

Os protestos contra a Copa, por exemplo. Estão carregados de autoritarismo. Não na ação política em sí, pois considero legítimo em determinadas circunstâncias ocupar os espaços públicos para os encontros e emprestar visibilidade à manifestação.

Porém, o #NãoVaiTerCopa, em sua frase de chamada, já propõe uma obstrução do evento em favor da pauta de um grupo de manifestantes. Ainda que se pretenda representar um conjunto da sociedade, o fato é que as manifestações são pequenas, as organizações são quase que anônimas e a estratégia para causar visibilidade e algum reconhecimento é atacar fogo no país, sabendo que embora a Copa não seja o verdadeiro "X" da questão, é a melhor ocasião para receber os olhares da mídia. Estivessem todos protestando na porta do Banco Central não apareceriam nem em flashes dos noticiários.

O direito de se manifestar é absolutamente legítimo. Ainda bem que tem uma galera encontrando novas formas de fazer política para além das tradicionais, dada a verdadeira incapacidade e desinteresse dos partidos políticos neste momento.

Porém, a realização da Copa do Mundo foi uma decisão política e administrativa de um governo eleito democraticamente pelas vias legais.

Protestar é um direito.

Mas obstruir pela força o evento, partindo do princípio de que estão todos ungidos por uma verdade superior às demais, nada mais é do que uma amostra bem nítida de que ainda somos um país de autoritários, incapazes de viver em igualdade com os demais, tentando todos garantir seus interesses na base da força.

Os protestos contra a Copa, além de serem superficiais, não oferecem nada de novo em termos de política. São oportunistas, porque tiram proveito da visibilidade do mundial e são autoritaristas, na medida em que o interesse de um grupo quer obstruir a todo custo a realização do evento de interesse mundial.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Sem o povão lá dentro, este jamais será o Estádio do Corinthians!




Não me recordo de ver tão indignada da torcida Corinthiana como em relação ao preços dos ingressos no estádio novo em Itaquera.

Foi um tapa na cara. Uma verdadeira traição. Conseguiram transformar um momento que seria unicamente de celebração e festa numa amargura sem tamanho.
Se nem a classe média consegue pagar preços tão abusivos, imaginem o nosso povo humilde que historicamente carregou esse clube nas costas.

A ganância dos "donos do estádio" impede que eles tenham uma visão comercial estratégica adequada.

A febre do ouro faz com que se mate a galinha dos ovos.

Vejo muitos Corinthianos dizendo que não vão mais ao estádio ver o Timão. E da pra ter uma idéia do que isso significa? Da pra perceber a gravidade dessa atitude?

A euforia pode ser rapidamente substituída pela revolta e ressentimento.

Para o Corinthiano ficar sem ver o Corinthians é equivalente a faltar água, arroz, feijão e até mesmo o ar. É uma agressão sem limites.

Os nossos "executivos" estão na ilha da fantasia do poder e não conseguem entender o tamanho do Corinthians. Estão criando uma crise social e política com consequências ainda desconhecidas.

O curioso é que eles falam com tanta pompa em "futebol negócio", mas exigem este choque de capitalismo justamente da parte mais fraca que é o torcedor. No caso deles, dirigentes, a eficiência não parece ser a mesma. Contratam um jogador meia boca por 40 milhões para reforçar o rival, pagando o salário do indivíduo.

Isso é futebol negócio? O Presidente Mario Gobbi antes de assumir esbravejou frente aos microfones chamando o torcedor de idiota por não perceber a natureza mercantil do futebol.

Ora, se a lógica do mercado fosse aplicada a um executivo que investe 40 milhões para reforçar o concorrente pagando ainda seus dividendos, este profissional já estaria no olho da rua!

Esfolar o torcedor e roubar o seu sonho nada mais é do que uma violência social!

Estes senhores permanecem sem entender o que o Corinthians representa. Os propósitos que ele atende para muito além do futebol.

Afastar o Corinthians de seu povo e a cultura de frequentar o estádio nada mais é do que roubar uma parte de nós mesmos.

O Corinthians é uma cicatriz na nossa alma.

Insensíveis e gananciosos. Vocês não entendem nada do que é o Corinthians, do que é a nossa cultura e muito menos de negócios.

Roubar do Corinthiano a cultura de freqüentar o estádio é jogar fora o nosso maior patrimônio. O que nos torna diferentes e gigantescos. A experiência de ser Corinthiano é fundamental e alimenta todos os outros interesses.

O interesse pelo futebol não se mantém aleatoriamente. A cultura de frequentar o estádio de futebol é decisiva na formulação da experiência do torcedor. É na arquibancada que o corinthiano é formado. Onde ele se torna fanático, ou um consumidor interessante para o mundo dos negócios.

Sem o povão lá dentro, este jamais será o estádio do Corinthians.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O preço dos ingressos em Itaquera e as escolhas históricas que o Corinthians deve fazer

Recupero aqui trechos de um texto que escrevi ano passado, mas que permanece atual após a inauguração do nosso novo estádio em Itaquera.



Há clubes que são famosos por seus esquadrões históricos. Outros são reconhecidos por suas taças e campeonatos. No caso do Corinthians, o que é decisivo na formação de seu torcedor é justamente a experiência de ser Corinthiano. 

Esta experiência existencial é definitiva e se sobrepõe a qualquer tipo de status. No nosso jogo, o que está em jogo é a identidade. É carregar para onde quer que se vá o Corinthians dentro de si, guardado no fundo do peito.

Do mesmo modo, é deixar no estádio de futebol despejada a melhor parte de nós mesmos. Estes retalhos de corações e almas que se amontoam do cimento até o gramado compõem o que conhecemos por Corinthians.

O Corinthians é o Time do Povo. Não é o Time do Pop.

A chegada de Ronaldo, cinco anos atrás, foi uma verdadeira revolução no Corinthians.

Havia um consenso quanto ao infinito potencial do Corinthians no mundo dos negócios. Ser bem sucedido no “mercado da bola” seria fundamental para a realização de grandes sonhos esperados em nossa história. Sonhos que sonhamos desde o início de nossos dias. Uma realização que alguns especulavam como impossível de se concretizar.

Quando Ronaldo, o jogador mais espetacular e bem sucedido do futebol moderno escolheu o Corinthians para jogar, como forma de restaurar a sua imagem, concluir com sucesso a sua carreira e também ganhar muito dinheiro, houve um efeito decisivo na maneira como o Corinthians passou a ser visto pelos profissionais e investidores do futebol.

No passado, tivemos “pernas de pau” que passaram pelo Corinthians sem condições de reconhecer as possibilidades que se abriam e agindo com indiferença diante deste monstro chamado Corinthians, Depois de Ronaldo, nenhum outro jogador pôde deixar de reconhecer esta oportunidade.

Este foi o maior legado do Fenômeno.

As portas se abriram. O futebol no Brasil se profissionalizou ainda mais. Abriu-se a oportunidade para que os clubes negociassem mais do que jogadores, mas o valor de suas marcas.

E o Corinthians deslanchou.

Foi tudo tão rápido. Não nos falta nenhum campeonato, nem Centro de Treinamento e agora nem estádio. Todos os nossos “complexos” foram enterrados.

Olhamos para o futuro e sentimos certo temor, pois não nos reconhecemos totalmente.

A demanda por ingressos dos jogos aumentou muito nos últimos anos. O time vencia e a oferta era restrita para tanta paixão.

Voltemos à questão da experiência. Para o corinthiano, não basta o time vencer. Desde que nos entendemos por gente, nós queremos mesmo é viver o Corinthians. Estar com o Corinthians. Participar da história do Corinthians. Viver em comunidade. Compartilhar o Corinthians com os nossos irmãos. Exercitar a solidariedade tão característica entre os Corinthianos.

Mas a oferta restrita diante da demanda provocou um processo gradual de exclusão de torcedores apaixonados que cada dia mais foram “distanciados” dos estádios.

Não há nada que exista no Corinthians que não exista no conjunto da sociedade.

E o que dói no peito do Corinthiano, mas do que as derrotas no campo é a Exclusão Social.

Como quem pode mais chora menos, os torcedores mais pobres assistem um Corinthians próspero, mas gradativamente inalcançável.

E talvez, estes torcedores mais pobres sejam aqueles que mais sofrem com esta exclusão, pois o Corinthians era algo que compensava tantas outras perdas. A oportunidade de experimentar algo fantástico. A porta de entrada para a história, para a vida social e para a cultura popular foi de repente batida na cara do povo pobre.

Se a injustiça social é a principal causa da violência urbana que fere a alma de tantos brasileiros no dia-a-dia, o afastamento do torcedor pobre tem causado o “insolidarismo” entre os Corinthianos.

Neste momento, os torcedores apontam os dedos na cara uns dos outros, como que cobrando pela ruptura de um Corinthians que pouco a pouco vai se transformando.

Repetindo, não há nada no Corinthians que não exista no conjunto da sociedade. Simplesmente porque o Corinthians não está fora desta sociedade, igualmente, é parte integrante desta. Tudo bem, talvez a melhor parte. Mas é parte do todo. E a política continua se fazendo com as mesmas ferramentas de sempre.

O novo estádio de Itaquera é realmente fantástico. Impactante. Certamente será decisivo na construção de um “novo tipo de torcedor”. O ambiente será determinante para o jeito corinhiano de torcer. Não adianta fechar os olhos. Ainda bem que este estádio foi construído em Itaquera.

Se todos lamentamos as injustiças. Se por vezes denunciamos o descaso com o torcedor nos estádios de futebol, não devemos então relutar ao imaginar o nosso povo desfrutando um espaço confortável e bonito para exercer a antiga paixão.

Se sonhamos com bairros melhores, com infraestrutura urbana, esporte, lazer e educação, não tem porque deixar de desejar que nosso torcedor possa frequentar um lugar tão bonito e bacana.

Trata-se apenas de pensar para quem este Corinthians continuará existindo.

Assim como não adianta a gente lamentar a riqueza ou o crescimento do Brasil, trata-se também de discutir como essa riqueza será distribuída para o bem-estar social dos nossos cidadãos.

Estamos diante das mais importantes escolhas históricas e os torcedores devem sim agarrar pelas unhas o Corinthians que aprendeu a amar.

O Corinthians sabe de seu infinito potencial para num futuro próximo lutar de igual para igual com as grandes potencias do futebol mundial.

Sabe também que para que isso ocorra é preciso muito dinheiro e eficiência.

Mas talvez, os principais artífices desta reforma na gestão do Corinthians não tenham ainda entendido o que realmente a fiel torcida ambiciona.

Queremos sim vencer. Confirmar o potencial de nosso povo para as conquistas. No futebol e pedagogicamente para além dele. Mas não queremos um Corinthians inalcançável para nossa gente.

O período em que nossa torcida mais cresceu, foi coincidentemente quando ficamos décadas sem um título sequer. Santos e Palmeiras eram os clubes paulistas que estavam entre os grandes do futebol nacional. Ainda sim crescemos mais.

Por que seria? O povo gosta de sofrer? Hoje tudo é muito diferente?

Nada disso. A questão era a identidade social. A maneira como o Corinthians jogava era a mesma maneira como a vida de seu povo era vivida. O time dos pobres, retirantes, imigrantes, favelados era o Coringão no Nosso Coração, o Bão!

Esse povo lutou e continua lutando. Vencendo obstáculos. E não vai deixar de vencê-los.

Não temos perder nossa conexão com a vida social da nossa gente.

Se agora temos uma melhor condição econômica. Que bom! Isso não deveria ser um problema. Mas devemos tomar uma decisão definitiva para o futuro. Manter o Corinthians próximo da realidade de seu povo.

Não importa que a gente não vença todos os campeonatos possíveis. Não importa que não tenhamos sempre um esquadrão vestindo nossa camiseta que deve ser pra sempre preta e branca. O que não pode ocorrer, é que o Corinthians deixe de nos pertencer. Que escorregue entre os nossos dedos. Que ele crie asas e voe de nossas vidas simplesmente porque não temos mais dinheiro para acompanhá-lo.

O futebol – e em especial o Corinthians – atende a um propósito muito maior do que o entretenimento desportivo. É cultura, identidade. É a maneira como a gente projeta de verdade quem a gente é.

Se os argumentos sociais não são suficientes para os burocratas do futebol ou os marketeiros de plantão que imaginam terem inventaram o mundo. Vamos então falar de negócios.

Existe um discurso predominante – simplesmente porque os engomadinhos falam à rodo e não há ninguém para contestar – fruto da sanha neoliberal de nossos tempos, de que o futebol é um negócio como outro qualquer.

Pois bem, não existe somente um modelo de negócios possível.

Aliás, não é por acaso que o Corinthians tem faturado tanto com patrocínio e propaganda.

Acreditem, não é obra de nenhum gênio do Marketing Comercial. Veja, o Corinthians é a porta de entrada para a nova classe média.

As grandes empresas arregalam seus olhos para este filão de mercado que só vai crescer. O mercado exterior vê com interesse este novo ator econômico e social que veio para ficar.


Não faz sentido o Corinthians, justamente neste momento, virar as costas para este povo.

Quarenta e três por cento da receita do Corinthians vem de direitos de televisão. Dezoito por cento de patrocínio e publicidade. Estas receitas dependem efetivamente do interesse do consumidor, basicamente, a paixão do corinthiano. Este interesse pelo futebol não se mantém aleatoriamente. A cultura de frequentar o estádio de futebol é decisiva na formulação da experiência do torcedor. É na arquibancada que o torcedor é formado. Onde ele se torna fanático, ou um consumidor interessante para o mundo dos negócios.

“Esfriar” o torcedor Corinthiano, para que ele se transforme em algo diferente do que ele efetivamente é, torna-se no mínimo uma estupidez.

Sem contar que para além dos negócios, isso seria uma violência cultural e histórica.

Manter a paixão Corinthiana, zelar por nossas tradições e manter a identidade social entre o Corinthians e seu povo são tarefas fundamentais daqui por diante.

O Barcelona que é o clube mais bem sucedido do mundo do futebol fez suas escolhas históricas, mantendo sua conexão com seu povo. Deixou de ganhar alguns bilhões se vendendo para certos tipos de faraós? Não se sabe. Mas certamente fez uma escolha justa que lhe confere um papel de destaque no cenário internacional.

Não queremos ser o Barcelona, nem o Chelsea, nem o Manchester, nem ninguém.

Nós queremos continuar sendo o Corinthians!

E vamos lutar contra o apartheid nos estádios, da mesma forma que devemos lutar contra a exclusão nas grandes cidades.

O Corinthians é do povo.



Estamos felizes com os títulos. O estádio vai ser mágico. Mas sem o povão lá dentro não vai ser nunca o estádio do Corinthians de verdade.




sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eu sou uma tartaruga



Pressa pra que?

Faz um tempo, comprei uma camiseta com uma tartaruga estampada. Adoro esta camiseta. Ela já está velha e gasta. Mesmo assim continuo a usá-la. 

Para mim foi uma grande conquista quando me descobri como uma tartaruga.

Pode levar um tempo, mas se a gente não fechar os olhos e não mentir tanto para si mesmo, descobre quem realmente é. E eu sou uma tartaruga.

Não adianta me acelerar.

Demoro para levantar, despertar, me despir, escovar os dentes, cuspir, cagar, banhar, me vestir novamente. 

Demoro para tudo. Demorei até para perceber que eu sou uma tartaruga.

Talvez por isso eu goste tanto dos charutos. Os cigarros seriam muito rápidos para mim. Não sou do tipo compulsivo. Nem para fumar, nem para fazer. Nem para consumir, tampouco para realizar.

Sou um cara lento. Lento igual uma tartaruga.

Não tenho metas de curto, de médio nem de longo prazo. Só tenho mesmo os prazos. A minha linha do tempo não é uma linha, é uma esfera. O meu tempo é circular.

E não há nada que me convença que se caso eu fosse mais rápido eu seria melhor do que sou.

Porém, existem alguns inconvenientes em ser assim. Esqueço datas importantes. As vezes deixo de dizer coisas que seriam desejáveis que fossem ditas. Muitas vezes não sei qual o presente certo que eu deveria dar.

Houve quem quisesse me acelerar, mesmo assim eu perdi aquele trem. Ainda bem. Quando se é uma tartaruga, passamos boa parte da nossa vida arrastando o nosso casco e dizendo adeus.

Eu sou como um tanque de guerra. Lento, porém destrutivo e inabalável. A não ser que a bomba seja muito explosiva.

Talvez eu seja mesmo uma mula, um jumento, uma besta, um burro.

Nada disso! Eu sou mesmo uma tartaruga. Sem pressa para morrer e me decompor. Sou uma tartaruga pronta para viver duzentos anos.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Brasil do Ayrton Senna



Quem tem mais ou menos a minha idade não aceita que falem um A do Ayrton Senna.

Era verdadeiramente o ídolo da molecada.

Alguém que se queria ser. Que não decepcionava. Que não vacilava.

Durante os anos em que o Ayrton brilhou, o futebol brasileiro andava meio mal das pernas. Depois da derrota trágica na copa de 1982 e tentativa fracassada de restauração em 1986, o futebol teve uma significativa queda. Tentávamos encontrar um novo caminho que explicasse nossos fracassos incorporando algumas técnicas dos europeus. Deu no que deu e chegamos à Geração Dunga".
Foi nessa época também que o vôlei se alastrou e se popularizou. Hortência e Paula também brilhavam no basquete. Nosso futebol é que não andava bem.

O Ayrton Senna nos redimia. Nos fazia vencer.

O processo de redemocratização do Brasil caminhou à duras penas.
Lutamos, superamos duas décadas de ditadura. Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito pelo congresso morreu sem poder assumir. Mergulhamos no governo do Sarney tendo de lidar - sem legitimidade - com demandas históricas. Nossos problemas foram agravados e mergulhamos numa crise de hiper-inflação. O primeiro presidente eleito em eleições diretas depois de três décadas foi o Collor. Todo mundo sem dinheiro no bolso, sem emprego, sem empresa. Uma tristeza.

Mas por que eu falo tudo isso?

Por que o Senna nos reparava. Ele era o Brasil que nós sabíamos que poderíamos ser. Um país vencedor.

Enfrentava sem medo os adversários gringos. Sem reverência. Sem babação de ovo, como vemos desde sempre.

Vejo algumas reportagens em que alguns ressentidos questionavam os "métodos" de Ayrton e se ele era realmente uma pessoa "simples".

Verdadeiramente, o Ayrton Senna não era o que se chama hoje de "coxinha". Não tinha o discursinho para agradar a imprensa e cativar alguns possíveis anunciantes. Nem através de desculpas esfarrapadas para cada derrota. O Senna enfrentava a tudo e a todos sem medir consequências.

Ayrton Senna não era um "carreirista". Não tomava a decisão mais fácil e com menor nível de confronto para garantir o seu lugar ao sol. Ele jogava duríssimo com os empresários e donos de equipe. Negociava grandes contratos e exigia o melhor para que pudesse vencer.

Com seus adversário também era implacável. Protegia como ninguém os seus interesses.

Ora, não é assim que todos jogam com o Brasil ou no mundo dos negócios para além das questões esportivas?

Quanto a questão da tal "simplicidade", para a imprensa (território absoluto da arrogância), ser simples é cair de joelhos cada vez que surjam os flashes ou as câmeras. E, principalmente, que não seja um vencedor. Para eles, o sucesso é uma agressão.

Os ídolos do esporte, de uma maneira geral, são impedidos de se posicionar com seriedade. São colocados na prateleira das personalidades folclóricas, chamados sempre para alguma entrevista engraçadinha. Mesmo o Pelé, o maior de todos os tempos, que tem certa dificuldade com o domínio do discurso, é explorado sempre com frases publicadas fora do contexto, carregadas de jocosidade.

Querer hoje transformar o Ayrton Senna num santo é deturpar suas reais qualidades.

O Senna não era um líder espiritual. Era um vencedor. E para vencer, muitas vezes temos que contrariar interesses poderosos, enfrentar situações difíceis, acreditar nas nossas principais potencialidades, fazer melhor, apostar no nosso talento, deixar de nos enxergarmos como inferiores.

Era muito bacana ouvir o Galvão Bueno gritar ao final da corrida: "Ayrton Senna do Brasil".
Mas e o Brasil de Ayrton Senna? 

O Brasil precisa de bons recursos para vencer. Neste caso, não falo de um bom carro, uma boa equipe, uma chance para brilhar. Precisamos estar preparados com boas escolas e universidades, bem cuidados com hospitais decentes, proteger os nossos interesses como nação, porque de resto, talento nós já temos de sobra.

Mas tudo isso só será possível se deixarmos os complexos de lado e acreditarmos mais em quem somos. Somos um "da Silva", como o Ayrton e outros tantos. E daí?

Precisamos acreditar mais nas nossas potencialidades e também, como consequência, sermos mais arrojados, tomarmos decisões difíceis, fazermos grandes manobras e assumir também certos riscos.

Um pouco de sorte não faria mal a ninguém.

PS: não falei do Ayrton dentro das pistas porque há material visual suficiente disponível para provar que ele foi o maior piloto de todos os tempos. Um talento absurdo. Corria com raça. Um espetáculo acima do normal.