terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os donos das boas e os donos das más notícias.


Quem são os donos das boas e das más notícias?

Quem é que escolhe quando devemos regozijar em êxtase coletivo ou arrancar os cabelos uns dos outros esperando um inevitável apocalipse?

A vida da gente é a gente que toca. Nosso cotidiano está repleto de momentos agradáveis. Com satisfação e alegria. Ou mesmo com dias de tristeza. Depressões, tragédias, desilusões amorosas. Perda de entes queridos.

A economia tem grande poder de influência no nosso bem-estar. Mas não pode garantir a nossa felicidade.

As "marés boas" coletivas podem ser um fardo. Por que raios estariam todos ganhando dinheiro e tocando projetos enquanto alguns vivem seu momento de caos? A sensação de incompetência pode nos esmagar nestes ciclos de otimismo generalizado.

Do mesmo modo, algumas crises geram oportunidades de ouro para os mais astutos ou para aqueles que foram agraciados com uma onda de sorte.

Saindo um pouco da economia. Existem momentos em que a humanidade está amplamente satisfeita consigo mesma. Estaríamos em fim iniciando uma nova era de prosperidade e harmonia entre os homens.

Revoluções, términos de guerra, tratados de paz ou até a morte de um ditador.

Pessoas saem às ruas celebrando o inicio de "novos tempos". Não é assim?

Mas inevitavelmente a vitória de alguns representa a necessária derrota de outros que serão entregues aos flagelos, aos refúgios e aos paredões.

E quando homem subiu ao espaço pela primeira vez? Ao ver as primeiras imagens do nosso planeta, de cima para baixo, as pessoas ficaram maravilhadas com a "nossa" conquista. Sim, nós todos homens e mulheres teríamos pisado juntos na Lua com o astronauta americano. Mesmo os homens que já morreram ou os que não haviam nascido. Isso seria uma conquista de toda humanidade e deveríamos todos estar felizes com isso.

Os esportes também eclodem alegrias coletivas mundo afora. Seja nos EUA, na Rússia, na China, na intelectualizada França ou em Cuba. Podemos imediatamente acreditar no nosso potencial de nação ao vencermos um campeonato qualquer e nos colocarmos no lugar mais alto do pódio acima de todos os outros povos.

Uma ditadura sangrenta pode se transformar imediatamente num regime forte liderado por um líder decisionista.

O Brasil em 70, esmagado por tanques e afogado em meio ao próprio sangue deveria ser um país otimista e feliz. "Um país que vai pra frente". O mesmo ocorreu com a Argentina em 1978.

Agora, parece que nem a Copa sendo realizada aqui seria motivo de felicidade. Ao contrário, deveria nos causar vergonha, hostilidade, repulsa, revolta.

Sim, pois este não é o momento de sermos felizes. Não são dias para gozar a vida.
Foi decidido que devemos esperar apavorados o apocalipse que se avizinha. O momento é das más notícias.

Pois é, meu amigo. Há quem prefira acreditar na astrologia, outros nas hordas espirituais malignas. Há quem prefira entender que o planeta chegou no esgotamento ou que Deus estaria furioso. Existem também os mais otimistas que nos explicam calmamente que o caos em que vivemos é o prenúncio de um novo tempo em que apenas os bons espíritos selecionados poderão conviver em harmonia uns com os outros.

Embora eu mantenha um profundo respeito por todas as crenças e sinceramente até prefira acreditar em algumas delas, eu recomendo que você reflita um pouquinho mais sobre um tema muito desagradável, nada romântico, porém absolutamente necessário.

Ainda que você não goste, a política está por trás de tudo. 
Está por trás da guerra, da paz, das revoluções, das religiões, do homem na Lua, da cura das grandes doenças, da fome, da caridade, do alimento, do esporte.

A política está por trás do medo e também da coragem. Ela tem a capacidade de escolher os momentos em que ela gostaria que você estivesse se sentindo feliz, ainda que caminhando para a morte. E outros momentos espera  que você fique triste, para que ninguém se encoraje a roubar o osso de ninguém.

Há quem acredite que a alegria leva a alienação. Já a resignação das caras fechadas seria sinônimo de consciência e rebeldia.

Mas saiba que a alegria e a irreverência podem ser subversivas. O bom humor inabalável de um samba pode ser sim um sinal de resistência e insubordinação.

Por fim, essa política tão asquerosa, acreditem ou não, está muito menos na mão dos políticos burocratas e engravatados do que vocês imaginam. Ainda que o discurso permanentemente oportunista e demagógico cause profunda irritação, esses caras não ditam mais as regras do jogo.

Nós todos, digo a humanidade, como grandes políticos que somos, entregamos sem saber o nosso destino a um novo ente que pretende nos subordinar em uma nova idade de trevas.

O Mercado decide a hora que você deve sorrir e a hora que você deve cagar de medo. Eles são os donos das boas e das más notícias. Em meio as essas ondas de bom e mau humor, trilhões de dólares e de euros jorram de país em país, justamente onde há um caminho mais fácil para apropriação das riquezas.

E nós vamos tocando a nossa vidinha, torcendo para que chegue logo o momento em que podemos estar felizes com nossa própria realidade. Como um boi mugindo na fila do abate. Como um condenado fazendo seu último banquete antes do corredor da morte.

Por hora, devemos ficar apavorados com a água que vai acabar.

   

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