quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Krypto e Eu. Vivendo com um Lhasa Apso no centro de São Paulo.



Não entendo nada de raça de cachorro. 
Pra mim cachorro é cachorro. 
Cachorro grande, pequeno, branco, preto, cinza, marrom.
Sei que os vira-latas, mestiços iguais a mim, são mais fortes e com maior chance de superar as adversidades e condições excepcionais.
Agora eu tenho um lhasa apso.
Aprendi a escrever esse nome nesta ocasião.
Minha filha veio morar comigo e trouxe consigo um cachorrinho branquinho, já de oito anos de idade, que mais parece um ursinho de pelúcia.
Fiquei tão feliz com a chegada da minha filha que fui obrigado a aceitar o cãozinho que dedica boa parte do seu dia mijando em lugares estratégicos da casa. Grande sacana. Outro dia peguei ele no flagra levantando a perninha pra soltar um leve jato de mijo na porta do banheiro. Quando ele percebeu minha presença, disfarçou sua atitude, saindo dissimuladamente com a perna meio esticada como se estivesse brincando de saci-pererê. 
Outra tarefa a que ele se dedica com galhardia é pedir comida.
Mas só quando ele vê alguém comendo. Caso contrário ele fica de boa.
Ele tem uma estratégia pra ganhar algum belisco. Fica de pé, levanta as orelhas, olha nos olhos, no prato de comida, retorna para os olhos, bota levemente a língua para fora, pisca os olhos (um de cada vez). Faz cara de bonzinho. Cara de coitado. E finalmente acaba ganhando um pedaço de qualquer coisa.
É um artista, o filho de uma cadela.
Me lembra o Zé Colmeia e penso que sou um estúpido por cair sempre no mesmo truque.
 Minha filha passa os fins de semana com a mãe e me deixa responsável pelo Krypto. Esse cachorro tem me ensinado a lidar melhor com a diversidade sexual. Quando saio com ele a caminhar pelas ruas da Bela Vista sou tecnicamente um gay. Veja, moro quase na esquina com a Rua Frei Caneca. 
Tá cada dia mais complicado manter a minha fama de mau, caminhando com um cachorrinho fofo e gracioso que aparenta uma permanente doçura.
Na hora de mijar na minha estante ele não é nenhum pouco delicado. 
Quem conhece o Krypto, sabe que é um cachorro maloqueiro. Vira-latas mesmo. Se pudesse ele fumaria charutos, beberia uísque e faria algumas farras com as cadelinhas do bairro.
Mas não dá pra explicar isso a cada um que nota na rua um cara de um metro e noventa caminhando com um bichinho de aparência tão delicada.
Mas resolvi encarar as duas coisas. Saio com o cachorro numa boa, até porque quanto mais ele mija na rua, menos mija na minha casa. E também assumi o amor pelo Krypto. Vou fazer o que? Acabei me afeiçoando  ao bichinho. 
Qualquer dia mando cortar o pinto dele fora pra nunca mais mijar nas minhas coisas.
Quando ele morrer, imagino que o seu céu vai ser um lugar cheio de coisas para se mijar e cheio de comida caindo do alto. Deve ser assim.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Meu Primeiro Show do Metallica

Meu primeiro show do Metallica

Chega a dar vergonha de dizer, mas fui num show do Metallica em 1993.
20 anos, é isso?
Nessa época o Mano Menezes nem era o vocalista da banda.
O show foi no estádio do Palmeiras e era véspera de uma Greve Nacional dos Estudantes, organizada naquele ano.
Este era o primeiro grande movimento depois do Impeachment de Collor em 1992. Era um teste de fogo para medir nosso real poder de mobilização, posto que em poucos meses os estudantes se tornaram inimigos indesejáveis para a grande imprensa, depois de uma mentirosa simpatia dissimulada.
O movimento tinha lideranças brilhantes.
Eu era apenas um pentelho de 17 anos.
Apareceu na sede da Rua Vergueiro, um Trio Elétrico gigante, mas todo preto. Horripilante. Tosco na verdade. Pareceria que ia desabar, mas acho que foi o que deu pra pagar na ocasião. Ele serviria para fazer a chamada "mobilização" da estudantada.
Juntamos a molecada que fazia um tempo por lá e dissemos: "vamos colar na porta do Show do Metállica?"
Eu já estava preparado para o show e vestia uma camiseta do Sepultura toda preta e com uma caveira na frente.
Não sei ao certo se a galera do show realmente estava tão simpática a causa, mas a idéia foi muito boa.
Pra quem esperava horas na fila, aquele carro de som todo preto tocando heavy metal no último volume era pura diversão e quebrava o marasmo ao qual eles estavam submetidos.
Eu lá no microfone falando grosso e incorporando o astro do rock. A molecada do movimento toda delirando e aproveitando pra paquerar as gatinhas que davam bola.
Daí, algum filho da puta dos meus amigos desceu pra pegar o telefone, ou coisa assim, deixando o tampão que dá acesso à parte de cima do Trio.
Pra quem nunca subiu num troço desses, você sobe por uma escada improvisada e existe um buraco no chão da parte de cima, que deve ser devidamente tampado para que não haja nenhum acidente.
Lembre-se, tratava-se do Trio Elétrico mais tosco do mundo.
Estou eu falando no microfone e ridiculamente me sentindo um astro do rock ou uma grande liderança popular. Que mico.
Mas até que a galera estava gostando.
Foi quando eu disse:
- É isso aí galera! Até amanhã na Avenida Paulista. Amanhã não tem aula! Greve dos Estudantes! Tchaaaaaaauuuuu
Dei um passo atrás e cai no calabouço.
A galera lá fora gritava eufórica.
Pra quem via debaixo, aquilo parecia um efeito especial.
Rolei escada abaixo.
Alguém gritou "devolve o microfone".
Minhas costas doem até hoje.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Aceitar espionagem dos EUA é aceitar a injustiça e a barbárie.



O exercício da hegemonia no sistema interestatal, exige mais do que a imposição pela força e pelo poder econômico.

Uma nação que se propõe a exercer papel de influência global deve também exercer uma espécie de liderança moral, paralela às vantagens estratégicas que qualificam as condições excepcionais de orientador das grandes questões mundiais.

Sendo assim, a superioridade militar e econômica dos EUA, não confere à este país o direito de exercer esta vantagem para além das regras que disciplinam a relação global entre países igualmente soberanos.

Admitir que a superioridade de força, por si só permite a opressão e justifica a submissão de todas as outras nações, significa dizer também aos cidadãos do mundo que a força e a violência são ferramentas legítimas para a dissolução de conflitos de qualquer natureza. 

E mais! Significaria dizer que existem povos de primeira, de segunda e de terceira grandeza, destacados por suas vantagens de poder econômico e de força. Mais perigoso ainda, seria supor que existam raças superiores ou mais evoluídas, buscando uma explicação "natural" para a superioridade de nações e também de indivíduos.

As desventuras mais desastrosas da história humana partiram justamente deste mote.

Se os homens civilizados devem superar seus estados de natureza, cumprindo regras e leis universais a todos sem distinções de raça, cor ou condição social, o mesmo deve haver na relação entre os diferentes países.

O Estado se configurou como uma das mais bem sucedidas invenções do homem, capaz de oferecer o mínimo de proteção quanto a guerra "de todos contra todos". Mesmo com seus gigantescos problemas, não há experiência histórica tão bem sucedida para a garantia das liberdades individuais.

A quebra no "contrato" entre os Estados por meio da imposição do mais forte sobre o menos forte, permite a quebra dos conceitos de igualdade e fraternidade, suprimindo as liberdades através da violência como ferramenta admitida para sedimentação das hierarquias.

Aceitar calado o abuso de poder do Estado mais rico e poderoso do mundo, significa aceitar também a injustiça e a barbárie.

A Presidenta Dilma acertou em manifestar seus protestos de maneira tão educada, serena e significativa.

Sem verborragias ou atitudes irresponsáveis, mas exigindo respeito à soberania brasileira dentro das regras internacionais.

O Brasil exerce papel de liderança entre as nações em desenvolvimento. Submeter-se à violência e à injustiça, significaria trair a confiança de todos os povos que lutam por um mundo mais justo e igual.

No mais, a espionagem dos Estados Unidos contra os países latino americanos, não significa apenas uma questão de vantagem competitiva no comércio exterior ou de proteção contra seus inimigos terroristas.

Historicamente fomos submetidos à conspirações, golpes de Estado, governos de intervenção, quarteladas e imposições de agendas políticas e econômicas. Isso não é um discurso nacionalista, mas uma realidade histórica.

Por meio da espionagem e da conspiração exerce-se uma interferência ultrajante nos processos decisórios locais.

Na obscuridade das reuniões secretas foram tramados os grandes roubos contra nossas riquezas.

Países como o Brasil, historicamente tiveram seu processo de desenvolvimento subordinado aos interesses dos "países do centro". Não somos menos ricos, menos desenvolvidos ou mais injustos e violentos porque sejamos povos de vira-latas oriundos de escravos, muito embora alguns insistam em se enxergar assim. 

Na verdade, fomos vendidos na calada da noite por nossas elites em tenebrosas negociatas.

Por tudo isso, qualquer presidente que aceite a violência, o abuso e a injustiça como coisa normal está na verdade traindo seu povo, seu juramento e colaborando negligentemente para que a humanidade permaneça entregue às trevas da opressão e da miséria.




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A trilha estreita da servidão



Para os súditos inventaram a moral, a ética, a decência o temor de Deus, a parcimônia e o pudor. 
Para os poderosos existem os relativismos, os liberalismos, a libertinagem e as idiossincrasias. 
Os pobres devem pagar suas dívidas e terem seus nomes limpos. Devem respeitar as leis, serem trabalhadores e cumprirem com regularidade os ritos religiosos. 

Os ricos não precisam mais de deus. Criaram um complexo de crenças mais ou menos organizadas que servem apenas para justificar suas bênçãos e explicar a tão desejada acomodação de classes. 
Os servos são ciumentos e liquidificam toda sua adrenalina flertando e escapando da traição afetiva, como numa dança das cadeiras. Os nobres querem mesmo é o poder. 
Para os pobres foi criada a ordem, para os ricos foi inventado o progresso. 
Para os escravos existem as regras. Para os libertos existe o gozo. 
Para os crentes foi construído o inferno. Para os céticos existem os inferninhos, as praias, as montanhas, os chalés, os spas e as clinicas de bronzeamento artificial. 
Os pobres são castigados. Os ricos pagam suas indulgências. 
Os pobres sentem medo de Deus. A classe média sente medo do ladrão. O rico teme que o Estado escape às suas mãos. 
Os pobres olham para os ricos e mentem para si mesmos, acreditando que são santos. 
A classe média olha para os pobres e engana a si mesma, fingindo  que são ricos. Os ricos só olham para si mesmos e pensam que são imortais. Sonham com o Estado mínimo e com a cura para o câncer.