quarta-feira, 26 de junho de 2013

Parasitária nos protestos, a PEC foi pro Saco!



Esquartejaram o bode no meio da sala e jogaram o bebê junto com a água do banho.
A famigerada PEC 37 foi arquivada.
Nos últimos dias, muitos têm combatido a fecundação de uma intentona fascista que iguala a classe política, sem claras distinções entre os atores políticos e combate os partidos, clamando por um elemento externo ao ambiente político para reorganizar as relações de poder de cima para baixo.
Mas o pior de tudo é perceber que em boa medida os congressistas merecem esse limbo moral em que estão imersos durante anos.
Ao menor inconveniente que venha a alterar suas rotinas de despachos pragmáticos ou protocolos gerenciais, “eles” se travestem dos arquétipos do bom-mocismo propagandeado pela mídia tiram o problema da frente.
Depois mendigam atrás de um holofote para dar entrevistas e vender a imagem de que são diferentes dos outros quinhentos e tantos deputados.
Não existe quem seja capaz de defender as próprias ideias com coragem.
Não existem ideias. Não existe coragem. Não existem paixões. Não existe ideologia.
Talvez, estes mais corajosos já estejam satanizados pela imprensa e correm em alguma lista de “parlamentares malditos” divulgados nas redes sociais e que os pobres brasileiros compartilham sem saber o porquê. Certamente querem um Brasil melhor, mas dispõem de parcos subsídios para acompanharem profundamente o que se passa na vida nacional.
 Dispõem apenas da moldura televisiva para enxergar a vida com medo do futuro, medo dos bandidos, medo da violência, medo da Copa do Mundo, medo da inflação, medo da infidelidade, medo de não entenderem a piada, medo dos sem-terra, medo do ditador da Coréia do Norte, medo dos comunistas, medo dos pedófilos, medo do descrédito, medo de serem queimados na cadeira do dentista, medo da PEC.
A própria presidenta desistiu do plebiscito que havia defendido no dia anterior. Comete o erro político de avançar e recuar ao sabor das tempestades midiáticas.
A presidenta é honesta, séria, dedicada, talentosa e com uma visão estratégica muito aguçada do desenvolvimento nacional. Foi forjada da luta e trabalha duro para alcançar resultados que sejam sensíveis para a população.
Mas falta política. Falta a ela o que sobrava no Ex-Presidente Lula. Uma percepção quase que intuitiva do pensamento das massas e de como se manejar no ambiente político para alcançar seus objetivos.
Aliás, falta a presidenta o que é também é escasso nos políticos de seu tempo.
Mas fique claro que sobra na presidenta o que falta na maior parte da chamada “classe política”. Firmeza de propósitos e compromisso com o povo.
Desde a desastrosa aparição de Regina Duarte na campanha de 2002, dizendo que “tinha medo do Lula e do PT”, este governo fez de tudo para não ser qualificado como uma filial do chavismo no Brasil.
Esquivando-se das velhas conspirações da oligarquia.
Avançando em reformas fundamentais, mas cumprindo sempre uma espécie de pacto conservador.  
A PEC 37 morreu.
As pessoas comemoram festivamente sem saber exatamente o que estão comemorando.
A “luta” contra a PEC 37 foi implantada como um parasita no meio nas manifestações pela redução das tarifas do transporte público. Quase ninguém percebeu. Mas fomos todos contaminados.
Marchamos do Largo da Batata até a porta da Rede Globo, com palavras de ordem e tudo mais. Seria um momento histórico.
Exaustos, chegamos em casa e vimos no noticiário que a Rede Globo apoiava as manifestações contra a PEC 37.
Outros tantos saíram às ruas e encontraram uma pauta que servia como uma grife elegante, em meio aos protestos por transporte público e justiça social.
Foi uma espécie de camarote VIP dos protestos. Só faltou abada e a corda de isolamento.

Fomos expulsos da balada e a pequena burguesia se apropriou, corrompeu e degradou os protestos, assim como fizeram com o samba, o carnaval, a poesia e o amor.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protesto Self Service



A vitória alcançada através dos protestos liderados pelo movimento Passe Livre foi gigantesca. Feito inédito e talvez incomparável. Isso ninguém nunca poderá roubar dessa galera.
A sociedade se sensibilizou diante da violência sofrida pelos manifestantes e tomaram as ruas, assumindo a conseqüência de seus atos, lutando por melhores condições no transporte público, numa cidade tão marcada pelos projetos individuais.
Foi o protesto do protesto.
A vitoria não foi pequena. Esta cidade tão acostumada a sentir medo de tudo, venceu seus fantasmas e ocupou as ruas, superando o discurso demagógico e terrorista dos conservadores.
Libertou-se o desejo aprisionado de apropriação do espaço público numa cidade que ao longo dos anos favoreceu a ganância e a especulação, alienando o indivíduo de seu próprio espaço de convivência.
Muito bem. Ponto.
Quero tratar agora do protesto do protesto do protesto.
Não foi apenas o espírito de justiça libertado neste momento tão especial.
Pela mesma porta aberta para os espíritos livres, escaparam monstros e dragões terríveis que durante anos estavam famintos e sofreram mutações aterrorizantes, fruto da crise do pensamento conservador.
Estes monstros são o efeito colateral da degradação do modelo neoliberal e se alimentam de dejetos deixados pelos especuladores e fraudadores dos mercados financeiros mundiais. Foram gestados na escravidão e matam sua sede com as lágrimas de sofrimento da desigualdade e injustiça social. Depois de libertados, os dragões estão furiosos. Ressentidos.  
O triunfo do neoliberalismo ao final da Guerra Fria criou um novo tipo de homem. Aquele que só conhece um modelo de mundo. Que desconhece o contraditório, pois o mundo se tornou “uma coisa só”.
As questões políticas se converteram em dilemas existenciais.
As fronteiras ficaram livres para os capitais e para as mercadorias, porém quase intransponíveis para as pessoas.
Se o Muro de Berlin veio abaixo, muitos outros muros foram levantados. Seja nos condomínios fechados, seja na divisa entre os territórios.
Sem alternativas de modelos, sem aspirações políticas e possibilidade de realizações históricas, restou ao homem culpar os outros homens por seus flagelos pessoais.
O homem retornou a seu estado de natureza e nutriu o desejo de eliminar aquele que está mais distante de sua realidade para preservação de seu modo de vida.
Na Europa, os imigrantes passaram a ser perseguidos como culpados pela falta de postos de trabalho, violência urbana e degradação dos valores culturais.
No Brasil (e na América Latina), o ódio aos pobres e o mal estar pela quebra das velhas e tradicionais hierarquias, atormentou as classes médias urbanas, inconformadas por nutrirem durante anos o desejo de alcançarem os salões restritos às elites, mas não preparadas para compartilharem seus espaços e instituições com quem antes era subalterno.
O conceito de liberdade na nossa sociedade se tornou a mera maximização do desejo de realização individual, imediatamente frustrada quando acompanhada de compromissos e deveres.
Os camarotes Vips tão comuns nas baladas e nos carnavais, estão presentes também nas escolas, nos hospitais, no acesso à justiça, e agora nas passeatas.
Tronaram-se o espaço de garantia de preservação da exclusão social e racial.
Um território almejado por todos, principalmente por quem está subordinado na sociedade, buscando aceitação e pertencimento.
Para além da crise de representação dos partidos políticos, desgaste do discurso político tradicional, incapacidade dos partidos formularem respostas que atendam os anseios e desejos da sociedade. Para além da responsabilidade dos próprios partidos e líderes políticos que foram capturados pelos interesses corporativos do mercado, se rendendo a falta de perspectiva de realizações coletivas, tornando suas agendas pragmáticas e oportunistas.
Para além de tudo isso reside o fato de que numa sociedade tão individualista e desconfiada “do outro”, torna-se muito difícil a aceitação de lideranças políticas e adesão a qualquer movimento político interessado em participar da política tradicional.
Existe uma geração que está muito preparada para administrar relações e situações da esfera privada, mas que reconhece muito pouco as grandes experiências públicas.
Este novo ser não consegue reconhecer no outro, principalmente se ele estiver excessivamente distante, o poder de representar uma coletividade.
Assim como o individualismo parece ser algo muito natural. Até quando se compartilha uma mesa e cada qual dá a atenção ao seu próprio Smart Fone. É natural também considerar o apartidarismo como uma virtude necessária e a ausência de lideranças identificadas com as velhas formas de se liderar.
É muito mais fácil confiar nas informações transmitidas através das redes sociais do que ouvir um longo discurso numa praça pública.
Assim sendo, ainda que os líderes e colaboradores dos movimentos que estartaram a onda recente de protestos tenham sido honestos com seus “seguidores” e com os ideais de seu tempo, a ausência de um discurso comum e de grandes lideranças à altura das também grandes manifestações, possibilitou-se a captura e o galope dos protestos para todo tipo de manifestação oportunista.

Num universo tão heterogêneo de manifestantes, o que se viu nos últimos dias foi uma espécie de bricolagem na arte de protestar.
A Avenida Paulista mais parecia um bloco do “vai quem quer”.
Como em um restaurante self service o manifestante dispunha de um bandejão repleto de opções para protestar.
Cada um escolheu o que lhe parecia esteticamente mais aceitável.
Milhares de cartazes com frases de até 140 caracteres, tal qual certos pronunciamentos da internet.
Num protesto saído das redes sociais, foram ressuscitadas as antigas comunidades do Orkut.
Havia a comunidade dos médicos brasileiros indignados com a vinda de médicos cubanos. A comunidade dos mauricinhos e patricinhas protestando contra o “bolsa esmola”. A comunidade dos advogados que protestavam contra os valores cobrados pela OAB. Os jovens senhores que desejavam redução de impostos. Os que protestavam contra o aborto, por serem à favor da vida, mas ao mesmo tempo defendiam a pena de morte. O protesto das senhoras contra a corrupção do Congresso Nacional. A garotinha de 14 anos que protestava contra a PEC 37 por ser um absurdo. A comunidade dos carecas bombados que caminhavam com camisetas do Capitão Nascimento. E por aí vai!
Manifestavam-se também pseudo-anarco-punks protestando contra o protesto dos outros.
Havia pegação e clima de carnaval.
A máscara do “V de vingança” era primeiro lugar nas paradas de sucesso.
Gosto bastante do filme, mas por trás da máscara do “V de Vingança” cabe de tudo. Principalmente a própria vingança, ressentimento social e político, nostalgia das velhas hierarquias, inconformismo eunuco, e tantas outras coisas.
O que a princípio pode parecer uma manifestação da vitalidade da nossa democracia, nos mostra que simplificar as questões, responsabilizando nossa classe política por conta de todos nossos males é sinal de ingenuidade e infantilidade, pois estamos longe de alcançar um projeto de nação apoiado na sociedade brasileira. Esperamos ainda revoluções de cima para baixo, capazes de ordenar as relações econômicas e sociais orientados por um ser iluminado, hora conciliador, hora severo.
Acalanta-nos o fato de que essa turma sozinha não leva ninguém às ruas. O “Cansei” se cansou facilmente e precisou montar na garupa dos movimentos que lutavam por mais direitos sociais, não por menos.
Certamente, depois das últimas noites de protesto, nossos governantes de todas as esferas e instâncias dormiram mais tranquilos pensando: “ufa, então é isso?”.
Por outro lado, a euforia pelas últimas vitórias foi rapidamente engolida com um nó na garganta de todos aqueles que lutam por justiça e liberdade, com a grave percepção de que chegamos somente na ponta do iceberg.







quarta-feira, 19 de junho de 2013

O movimento é horizontal, mas a sociedade brasileira é vertical. Os limites (e riscos) das manifestações "sem lideranças"



Quero de antemão me desculpar, caso seja incompreendido por alguns de meus melhores amigos que colaboram com o Movimento Passe Livre, principal ator na realização dos últimos protestos na Cidade de São Paulo e no Brasil.

Deixo claro meu irrestrito apoio aos protestos pela redução das tarifas de transporte público e reduzir as “catracas” que fissuram o mapa da exclusão nas grandes cidades brasileiras.
Antes de tudo, gostaria de admitir que sou um dinossauro em matéria de política e movimentos sociais.

Faço parte de uma geração que valorizava grandes lideranças políticas, nas ruas e nas urnas.
Cantávamos o Hino Nacional sem repúdio e éramos politicamente “engajados” justamente quando exercíamos o nacionalismo, algo tão démodé e indesejado nos dias de hoje.

Naturalmente, não compus as fileiras dos grandes militantes que lutaram contra a Ditadura Militar no Brasil, mas posso dizer que fui formado politicamente por grandes expoentes deste movimento. Sendo assim, recebi forte influência desses grandes brasileiros.

“Minha geração” cometeu erros e acertos, como todas as outras.

Nesse cenário atual em que os partidos políticos vivem uma crise mundial de representação na sociedade, certamente não significamos referência alguma para vocês.

Mas posso dizer que nossa turma lutou como pôde contra o rolo compressor que foi a agenda neoliberal nos tristes anos 90, não só no Brasil, mas na América Latina.

Tínhamos poucos recursos frente ao triunfo neoliberal e euforia em torno da globalização, depois do fim da Guerra Fria.

Não pensem que foi tranquilo. Que não enfrentamos a truculência e a violência. Com o agravante de que não existiam as redes sociais para denunciar à sociedade os abusos que sofremos. Também não contávamos com as redes para convocar manifestações, tampouco para contrariar a “versão oficial” da grande mídia.

Como eu disse, não quero fazer nenhuma defesa da “minha geração” até porque a “minha geração” é agora, pois estou vivo, forte e atento.

Ontem estava no centro da cidade, colaborando com este novo ato, ainda sob a ressaca do sucesso no dia anterior.

Em frente à Prefeitura de São Paulo as cenas eram terríveis.

Não vou me revestir de um discurso moralista, mas sinceramente considero lamentáveis os atos de vandalismo nesta ocasião.

No dia anterior, o movimento havia obtido vitórias significativas. Recebeu o apoio de milhares de brasileiros que além de concordarem com a bandeira de redução do preço das tarifas nos transportes públicos, também não aceitaram a repressão policial contra as manifestações livres pelos direitos sociais.

Além disso, o movimento rendeu a velha mídia que como último recurso para não se isolar frente à sociedade brasileira, mudou radicalmente sua posição tradicional e passou a mobilizar grande esforço para se apropriar das manifestações e resiginificá-la da maneira mais conveniente para as elites.

A batalha estava ganha (talvez ainda esteja). O prefeito já preparava o discurso para acatar a redução do último aumento. O governador tirou a polícia das ruas apostando que uma onda de vandalismo reverteria o jogo em favor da polícia, fazendo com que a sociedade clamasse pelo retorno da Tropa de Choque.

Neste contexto, a violência seria uma verdadeira burrice. Se as manifestações continuassem pacíficas, dispensando a interferência policial, estaríamos dando um passo decisivo para derrotar o discurso opressor.

Mas testemunhei um vandalismo eunuco.

Algumas lideranças do movimento tentaram dissuadir os revoltosos, mas o que se viu foi uma manifestação de ódio pelo Brasil. Não que eles sejam obrigados a amar o Brasil. O país deve garantir o direito, inclusive, de que eles odeiem o Brasil, como se viu  e ouviu em seus gritos raivosos. Mas ficou evidente que o grupo não tinha nenhum interesse pelo movimento coletivo.
Um guarda solitário tentava defender a bandeira nacional que ameaçava ser incendiada.

Os prédios e monumentos eram pixados. Mas nenhuma frase política era escrita. Nada relacionado às manifestações. Nenhuma palavra de ordem. Nenhuma poesia. Nenhum palavrão. Nada! Apenas assinaturas de gangues, absolutamente indecifráveis para os “leigos”.

Ficou evidente que eles não tinham compromisso nenhum com causa alguma. Apenas compromissos com eles próprios.

Efeito colateral mais abjeto do neoliberalismo, estes “neo-psuedo-anarcos” saquearam aparelhos celulares numa loja, para demonstrar o tamanho exato de suas aspirações.

Quem olha o ocorrido com um mínimo de atenção irá perceber que tais acontecimentos estão absolutamente desconectados com o propósito que mobilizava milhares de pessoas em outros sítios da cidade.

Nos dois últimos dias de protesto, me chamou a atenção o caráter heterogêneo dos manifestantes, cada um com motivações e aspirações diferentes dos demais.
Este país paga hoje um preço muito alto pela desigualdade social histórica, negligenciada durante anos.

Mesmo com objetivos imediatos comuns, as pessoas não se reconhecem umas nas outras, ao ponto de haver agora certo incômodo e desconfiança sobre os diferentes propósitos abrigados sob a mesma bandeira de protesto.

Não existe carro de som para “dar a linha” ao conjunto de manifestantes. Cada um sai às ruas com suas pautas íntimas. Em meio ao protesto, cada um procura se manifestar contra seu inimigo mais íntimo. Alguns ofendem a mídia, outros as elites. Alguns berram contra o prefeito, outros contra o governador.

Depois que o movimento “cresceu” e ganhou as ruas, com a adesão de milhares de pessoas, o que poderia ser considerado tolerância entre as diferenças se converteu em aparente cinismo ao lidar com o propósito alheio.

Se o movimento é horizontal a sociedade brasileira é rigorosamente vertical.

O esforço, a honestidade e a firmeza de propósito destes ativistas em construir um movimento com lideranças orgânicas, mas sem partidos políticos ou representantes formais que respondam invariavelmente pelo movimento está absolutamente conectado com os grandes movimentos sociais de seu tempo.

A crise de representação política e a perda de legitimidade dos partidos políticos impulsionou o surgimento de grandes movimentos sociais ao redor do mundo, desconectados do sistema político formal.

Os jovens destes movimentos adquiriram absoluta rejeição aos partidos políticos e reagem com desconfiança às lideranças políticas tradicionais, inclusive com aquelas que são gestadas naturalmente dentro do  movimento.

Transparecer aspirações políticas eleitorais é motivo de vergonha e intimidação.
Compreensível a frustração desta geração com a “política oficial”.

O estágio mais degradado do neoliberalismo, fez com que os Estados fossem sequestrados pelo Mercado (com eme maiúsculo).

Aliás, não somente os Estados foram sequestrados, mas a própria história foi sequestrada pelo neoliberalismo.

Os cidadãos foram convertidos em meros consumidores. A realização dos indivíduos está restrita à esfera doméstica, com a aquisição de mercadorias e certos prazeres instantâneos. A solução dos conflitos que afetam o cotidiano das pessoas deve ser encontrada nos livros de autoajuda. Os verdadeiros inimigos estariam dentro de cada um de nós, sem eleger um inimigo político responsável pelas frustrações. A história acabou, e resta apenas um modelo a ser seguido. Sindicatos, partidos políticos e entidades de classe não seriam mais necessários.
As grandes experiências coletivas foram furtadas e o homem foi alienado de si mesmo.
Se o triunfo do cristianismo levou o homem à Idade das Trevas, por mais ou menos 1.500 anos, o triunfo do liberalismo econômico ameaça condenar os homens a outra era de escuridão, alienando os indivíduos de sua própria história.

Os movimentos sociais apartidários estão desconectados da política formal, porque assim foi necessário para que eles existissem de fato. São uma malcriada “falha no sistema”.

Mas apesar das brilhantes demonstrações de força e perseverança, estes movimentos têm um limite em si mesmo, quando se pensa em avançar rumo a maiores transformações.

Sem lideranças políticas formais e alijados das disputas pelos cargos de representação política, depois de bem sucedidas, as ocupações limitam-se numa carta de boas intenções.

Os movimentos estão permanentemente sujeitos a verem suas vitórias políticas apropriadas pelas forças regulares da política, como parece ocorrer nesse momento pré-eleitoral no Brasil. Ainda que os manifestantes sejam absolutamente honestos com a causa e leais aos compromissos assumidos, vê-se a tentativa maliciosa de capturar a energia política do movimento para influenciar o processo decisório.

A crise na Argentina de 2001, com a aguda deterioração do modelo neoliberal, serve hoje como referencial às principais economias europeias como um exemplo possível do  “que vem depois”, para o bem e para o mal. Os protestos deste início de século tinham um slogan muito comum nos dias de hoje: “que se vayan todos”. Mas “eles” não se foram, e muito da energia política dos “piqueteros” foi capturada pelas forças oficiais da política.

Voltando para o nosso contexto atual, a dificuldade (ou impossibilidade) do movimento reconhecer e destacar algumas lideranças políticas dificulta a possibilidade de conter grupos que boicotam e prejudicam o alcance de resultados e objetivos.

Cabe aqui uma reflexão mais profunda. Seria tão ruim assim indicarmos lideranças políticas comprometidas com o movimento?  Será que a máxima de que “ninguém me representa” não passa de uma falsa virtude?

Será que vivemos um tempo em que somos incapazes de reconhecer a liderança de alguém?

 Que a decepção afete definitivamente nossa capacidade de nos sentirmos representados? 

Que olhemos com tanta desconfiança todo aquele que tenha atitude de liderança e busque influenciar decisões coletivas?

É muito comum escutar que “fulano quer tirar proveito político” de determinada situação. Ora, será que a capacidade de liderança de uma pessoa deve significar necessariamente o ocaso de outra?

A impossibilidade de que uma pessoa se sinta representada por outra, revela a ausência de solidariedade e um estágio avançado do individualismo tão comum no nosso tempo.

A experiência do movimento que redundou nestes protestos gigantescos é absolutamente atraente e interessante.

Mas proponho certas reflexões.

Existe uma ideia falsa na sociedade, disseminada pela elite, de que o Estado é o território dos maus, enquanto o Mercado é o território dos bons. Que a política é corrupta e degradante, enquanto no setor privado tudo é permitido, pois estaríamos apenas maximizando nossos interesses, algo muito natural e justificável nos dias de hoje.

Não quero dizer que os organizadores deste movimento não entendam esta lógica. Que não combatam as forças opressoras das elites.

Mas seria muito positivo se eles pudessem falar isso em alto e bom som, para todos os manifestantes, os antigos e os novos, para que todos percebam e não caiam em certas armadilhas. Para que saibam orientar os seus “canhões” e dimensionar com exatidão os seus inimigos.

Ainda que a ambição seja lutar contra tudo e contra todos, derrotar todas as forças opressoras, a história recomenda que seja escolhida e alcançada uma vitória de cada vez.














terça-feira, 18 de junho de 2013

Fala a Presidenta

Fala a Presidenta Dilma: "O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de ontem comprovam a energia da nossa democracia. A força da voz da rua e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pai, o avô juntos com a bandeira do Brasil cantando o Hino Nacional, dizendo com orgulho eu sou brasileiro e defendendo um país melhor. O Brasil tem orgulho deles."
Essas vozes, que ultrapassam os mecanismos tradicionais, os partidos políticos e a própria mídia, precisam ser ouvidas"
Agora vem a melhor parte... 
"A mensagem direta das ruas é por mais cidadania, por mais escolas, melhores hospitais, direito de participação. Essa mensagem das ruas mostra a exigência de melhorias no transporte a preço justo, e o direito de influir nas decisões de todos os governos. Essa mensagem das ruas é de repúdio à corrupção e ao uso indevido de dinheiro público e comprova o valor intrínseco da democracia, da participação dos cidadãos por seus direitos."
Realmente, o Brasil está diferente!
Entenderam o porquê eu estava na passeata, mesmo apoiando nossa presidenta? É importante olharmos menos para os atores e mais para a estrutura. Caso contrário não superaremos certas doenças infantis da nossa democracia...

Xô Reaça!

Xô Reaça!

Ontem bandidos. Hoje heróis. Amanhã simpáticos. Mas depois de amanhã inimigos indesejados.





Quem saiu às ruas nesta noite mágica, se deparou com uma galera que não se acovardou e não aceitou o atentado explícito contra o livre direito de manifestação.

Percebia-se que era uma turma que pela primeira vez se apropriava do espaço público e saía às ruas para protestar, assumindo todos os riscos pela decisão que acabavam de tomar.

Molecada querida.

Sejam todos muito bem-vindos à luta!

Não somente à luta pelo preço da passagem do transporte público, mas à luta por um país mais livre, justo e democrático.

Por um Brasil com mais justiça social, distribuição de renda, serviços públicos de qualidade, saúde, educação e que aprofunde os direitos sociais, não que retroceda.

É com êxtase de alegria que o Brasil se dá conta que essa juventude não caiu na ladainha da direita reacionária e conservadora.

Que a garotada não foi capturada pelos fascistas e preconceituosos, ressentidos pela quebra das velhas hierarquias.

Que não ficaram reféns daqueles que odeiam os pobres e reivindicam o antigo direito de escravizar e humilhar.

Que subestimam o poder de escolha e força de espírito do povo brasileiro.

Juventude esperta, vocês escaparam de várias armadilhas. Dos movimentos forjados pela velha mídia em seus estúdios de televisão.

Provaram que esse povo não pode e não vai ser massa de manobra.

Vocês superaram todos os enganos. Enfrentaram não somente as balas e cassetetes dos jagunços da elite, mas o terrorismo daqueles que trataram vocês como vândalos, criminosos, desordeiros e formadores de quadrilha.

Agora, todos parecem lhes render apoio.

A velha mídia trata de se apropriar do movimento e os articulistas mais ferozes e odiosos, ressurgem com loas e parecem homenagear a todos vocês pela coragem e determinação.

Mas não se enganem! Que superem mais essa armadilha!

Até ontem éramos bandidos. Hoje somos heróis. Amanhã seremos simpáticos. Mas depois de amanhã seremos inimigos indesejados.

Vão exigir que vocês se conformem em cumprir nas ruas à pauta estabelecida nas redações dos telejornais.

Que vocês não quebrem os “propósitos” do movimento. Propósitos estes, logicamente, nos limites da conveniência para as elites.

Vão impor que os protestos se restrinjam a acusar os políticos pelos males do Brasil, mas que poupem as elites, o mercado e a mídia.  

Hoje, vocês que saíram às ruas fizeram história.

Amanhã, os chacais estarão prontos para cobrarem a fatura e responsabilizarem “os comunistas”, a “Nova República”, os “Caras Pintadas” os “Vândalos” os “Anarquistas”.

Dirão que vocês saíram às ruas por modismo. Que não contribuíram em nada para o Brasil. Que são revolucionários de apartamento. Que não sabiam o que estavam fazendo nas ruas.

Quando vocês chegarem à “maturidade”, vão fazer vocês acreditarem que a rebeldia é coisa própria da juventude, mas que depois de certa idade, seria natural que vocês se convertam em senhores e senhoras precavidos e preocupados apenas com o próprio patrimônio. A não ser que sejam velhos ingênuos e tolos.

Estou certo que vocês, meus queridos, não serão capturados pela indústria da desinformação.  

Que não acreditem na repentina bondade e tolerância de quem historicamente soube apenas semear a discórdia e a desunião.

Que não creiam na honestidade e boas intenções daqueles que, desde sempre, roubaram e conspiraram contra o Brasil.





sexta-feira, 14 de junho de 2013

O PT não deveria "vestir a carapuça" dos protestos em SP. Deveria celebrar esta molecada tão esperta!



O Brasil continua conservador.

Permanece ambicionando se modernizar sem romper com as velhas hierarquias e contratos sociais.

O desenvolvimento econômico continua sendo uma obsessão nacional. Uma das poucas bandeiras que converge direita e esquerda, conservadores e progressistas.

Mas não se pode negar que nos últimos anos o Brasil acumulou uma série de transformações sensíveis, capazes de provocar fissuras e abalos.

Enfim, com séculos de atraso, a diminuição das desigualdades sociais se tornou mais do que um discurso dos movimentos sociais, mas um estandarte do Governo Federal.

Embora as políticas públicas de combate à miséria extrema tenham sido ainda insuficientes para garantir vida digna a todos os cidadãos brasileiros, e que tais avanços venham acompanhados da manutenção dos grandes acordos com as elites, esta década em que o governo finalmente reconheceu sua dívida com os pobres deste país, provocou mudanças definitivas na estrutura.

O ressentimento social e político de alguns setores da sociedade, com declarações preconceituosas e violentas polui o debate e impede uma discussão séria sobre os programas de transferência de renda.

Mas o que isso tem a ver com os recentes protestos?

O Governo Lula de fato transformou a sociedade brasileira.

O esforço de recuperação da atividade econômica, com aumento do salário mínimo, superação do desemprego crônico da década passada e inserção de milhões de brasileiros no mercado de consumo, não pôde ser feito sem resistência.

 Até mesmo a escolha política do atual governo de superar a crise mundial (a partir de 2008) “forçando a marcha” da economia brasileira, suprindo a retração da demanda privada, garantindo o poder de compra do trabalhador e apostando forte no mercado interno, não foi devidamente reconhecida nos diferentes setores da sociedade. Ora, é óbvio que houve significativo aumento nos gastos públicos, e que o governo tomou medidas econômicas nem sempre articuladas entre si, para estimular setores econômicos com maior retração. Claro que existem efeitos colaterais, ataques especulativos e um sensível aumento dos preços. Mas foi uma escolha política para que a população brasileira não pagasse os pecados da crise neoliberal dos países do centro.

Mas o que isso tem a ver com os recentes protestos aqui em São Paulo?

Se os governos de Lula e Dilma foram muito felizes na inclusão social, por outro lado, este processo não veio acompanhado da politização da sociedade brasileira. Ao contrário do que se podia imaginar anteriormente, o atual governo “despolitizou” a sociedade.

O acesso à cidadania se deu concomitantemente com o acesso ao mercado de consumo.

Não que isso seja de todo errado, mas tal processo veio acompanhado de uma cruzada de conciliação política, concessões gigantescas com as elites e um pavor terrível do potencial de conspiração da grande mídia.

Tudo começou com a Regina Duarte durante a campanha de 2002, dizendo que “sentia medo do Lula no poder”.

Fez-se um esforço hercúleo para provar aos setores mais conservadores que o Governo Lula não era uma filial do Chavismo no Brasil.

Pesa também o fato de que Lula percebeu com imensa habilidade que a classe “subproletária” brasileira tradicionalmente é conservadora. Mas isso é tema para um próximo debate.

O fato é que fomos todos convertidos em consumidores. E nunca estivemos tão despolitizados.

Talvez seja este o grande pecado do lulismo.

Mas o que isso tudo tem a ver com os protestos?

O PT (ou boa parte de seus dirigentes e militantes) não deveria ter vestido a carapuça dos protestos ocorridos aqui em São Paulo.

Tão logo os efeitos econômicos dos programas sociais surtiram resultados políticos, emergiu como uma chaga todo tipo de preconceito, ódio e ressentimento social da camada mais reacionária da sociedade, manifestando sem pudor nenhum, sua bronca contra os pobres e a quebra das velhas hierarquias.

Como o discurso vazio e preconceituoso depende menos da coerência do que a crítica séria e embasada, isso foi a primeira coisa que subiu à superfície tal qual fezes na água.
É verdade que as manifestações preconceituosas e xenofóbicas da extrema direita se espalharam pelo mundo, fruto da crise do pensamento conservador afetado decisivamente pela degeneração do neoliberalismo.

Mas no Brasil a coisa ficou triste. Não foram poucas as pessoas que clamam por um golpe e declaram nostalgia da Ditadura Militar como uma saída para a carência de representação política.

Esta crise de representação política se dá principalmente na classe média que ficou espremida entre os grandes acordos com as elites e o ambicionado mercado eleitoral das classes pobres.

O ambiente político estava ficando pesado. Por um lado, o governo defendendo suas conquistas sociais. Do outro, o discurso golpista e ressentido.

Sendo assim, os protestos espalhados pelo Brasil em defesa do transporte público foram uma novidade mais que excelente.  A luta pelo transporte público é também a luta contra a exclusão social e o Apartheid maquiada nas grandes cidades brasileiras. É um desafogo que isola ainda mais a direita vil.

Quando em 2003 o PT chegou ao Palácio do Planalto, boa parte das políticas macroeconômicas dos anos FHC foi mantida. Não sem resistência dos setores mais progressivas que aguardavam ansiosamente mudanças estruturais.

Mas de alguma forma todo mundo entendeu o que se passava. Seria preciso manter o “contrato” com a elite financeira para reunir condições políticas para as transformações que viriam em seguida.

Depois da crise de 2005, com o episódio do Mensalão. O governo precisou ampliar o seu leque de alianças para garantir a chamada governabilidade. Desembarcaram os velhos caciques liderados pelo ex-presidente José Sarney e por Renan Calheiros. O PT entendeu como o jogo estava sendo jogado e percebeu que precisava sim compartilhar espaço e enxergar inclusive virtudes em políticos antes inimagináveis, como outro ex-presidente Fernando Collor de Melo.

Para eleição de Dilma a direita ficou esmagada e sem agenda, apelando para o obscurantismo e preconceito. Embalada pela aprovação impressionante de Lula, a aliança se converteu em hegemonia política, liderada pelo PT, mas com uma frente de partidos que dividem espaço no governo.

Para eleger Haddad, o PT teve de convencer sua militância de que seria sim necessário ganhar o apoio de Paulo Maluf e quebrar resistência nos setores mais conservadores da sociedade paulistana.

Ora, o PT aprendeu tão bem que para governar é preciso dialogar com as diferentes forças políticas e que para avançar nas transformações que pretende para o Brasil é preciso garantir as condições políticas necessárias. Por que então não pode atender às justas manifestações dessa molecada esperta que tem enfrentado a truculência dos capangas da elite carcomida e atrasada de São Paulo?

Por que não aproveitar este potencial  transformador para avançar na ampliação das grandes reformas que carecem de condições políticas favoráveis?

Por que o Haddad, ao invés de “achar que é com ele”, não absorve as aspirações deste movimento e cria as condições para fazer uma revolução no transporte público de São Paulo, que passa naturalmente na reversão de certas “prioridades” da última gestão.

Por que não aproveitar a energia dessa molecada e mobilizar a sociedade para a necessidade de uma transformação drástica na educação municipal, já que o temor das políticas de longo prazo sempre foi a ausência de resultados políticos?

Os editoriais dos jornais denunciam e acusam o movimento de querer mais do que os 0,20 centavos na tarifa de ônibus, almejando outros bônus políticos.

Que coisa, heim? Demorou pra entender! Perdeu Playboy!

É lógico que quem está saindo às ruas quer muito mais do que 0,20 na passagem do busão.
Os protestos são contra uma cidade injusta e excludente, onde impera a ganância e a especulação.  Uma cidade onde quem tem grana pode tudo e quem não tem vive esmagado sem acesso ao eldorado que um dia foi chamado de “terra das oportunidades”.

Os protestos são também resposta à elite fétida que teme a chegada de GENTE DIFERENCIADA através do transporte público em suas ilhas de prosperidade.
São Paulo é uma cidade absurdamente cara, onde quem pode mais chora menos.
E pior. Há quem goste de pagar caro! Nas lojas, nos shoppings, nos restaurantes, todo mundo pede o preço que quer.

Numa cidade em que o dinheiro é só o que importa e o reconhecimento social depende tão somente do dinheiro, não é de espantar que a violência seja tão grande e que as relações estejam tão degradas, sem menor sinal de solidariedade entre os indivíduos.

São Paulo é um barril de pólvora que com uma simples faísca pode explodir.

Quando a grande mídia preparava todo o balão de ensaio para reverter as conquistas sociais, direitos trabalhistas e previdenciários, eles recebem esse tapa na cara, com as manifestações gigantescas exigindo mais justiça social, não menos, como eles gostariam.

Quando esperavam uma inevitável guinada para a direita com a geração Luciano Huck saindo às ruas com vassouras na mão e nariz de palhaço, eles se deparam com essa molecada esperta embalada ao som do Criolo, Emicida, Mano Brown, tudo misturado com música e atitude punk nesse novo caldo cultural na cidade de São Paulo.

Frustrante demais para a direita. Não à toa que a imprensa marrom exija que a polícia vandalize a cidade e espanque esta surpresa tão indesejada.

A elite se incomodar com as manifestações seria muito mais do que previsível. Mas algumas figurinhas do PT vestirem a carapuça e desqualificarem o movimento é de doer!

Ah “porque são do PSOL do PSTU do PCO” sei lá mais o quê... Que nada! E se forem também que se dane...É um direito deles.  Isso não quer dizer nada nesse momento.

O PT não pode e nem deve polarizar com este movimento. Primeiro por questão de coerência política, compromisso de Estado e visão estratégica.  Segundo porque se polarizar vai trazer para si um sério risco que não precisaria correr. De besteira. Porque assumiu há seis meses esta cidade depois de anos desastrosos.



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo Antônio's Day





Valentine's Day é a porra! 

O dia é hoje molecada. 

Bora todo mundo ser deliciosamente brega, cafona e meloso. 

Quem quer namorar trate de agraciar (ou chantagear) o Santo Antônio, que continua sendo o santo casamenteiro.

E aproveita esse ano porque ano que vem a Copa do Mundo vai começar bem no Dia dos Namorados e o clima vai ficar meio esquisito com todo mundo entrando no motel bebaço, com confete na cabeça e de cueca e lingerie verde e amarelo.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Brasileiro vaquinha de presépio ou baderneiro? Quem quer manter a ordem? Quem quer criar desordem?



Então... Cresci ouvindo que o brasileiro é pacifico. 

Seríamos todos como vaquinhas de presépio.

Que o povo apenas se mobiliza para organizar o Carnaval, torcer pelo time do coração e pra seleção.

Que a Copa do Mundo é um absurdo porque o povo não se importa com o que realmente afeta sua vida.
Que o povão está acostumado à levar na tarraqueta e aceitar tudo o que vem dos políticos.

Que os argentinos sim são aguerridos em seus panelaços.

Que os europeus são mais desenvolvidos porque lá as revoluções sangrentas lavaram a alma e fizeram justiça.

Que deveríamos fazer como os árabes em sua primavera tão discutível e controversa.



Mas acontece que ao menor sinal dos ruídos e transtornos próprios de protestos e manifestações, os mesmos que faziam o discurso do "brasileiro acomodado" viram o disco e começam a salivar, indignando-se com a ação criminosa dos baderneiros.

Ora, pelo visto devemos contar apenas com os trimiliques do Jô Soares e as carteiradas do CQC para nos redimirem e lutarem pelos nossos direitos?

Sou absolutamente contra a depedração do patrimônio público. Por principio e também pelo efeito político negativo que isso desencadeia na sociedade. Temos que sensibilizar a população, não afastá-la.

Mas é preciso dizer que ninguém mais aguenta essa cidade cara e insensível.

A passagem do transporte público é só um exemplo da carestia endêmica de São Paulo.

Neste bojo está toda uma teia de preços abusivos, serviços públicos péssimos e um Apartheid disfarçado que afasta e exclui quem vive longe demais do eldorado prometido na "cidade das grandes oportunidades".
Não! Nossa cidade tão querida há tempos deixou de ser a terra das oportunidades.

São Paulo se converteu na terra do "quem pode mais chora menos". Da ganância, da violência, da especulação imobiliária, dos preços abusivos. Ta todo mundo vendendo a alma pro diabo e jogando às favas qualquer sentimento de respeito e solidariedade para com o próximo.

O negocio agora é grana. E só!

terça-feira, 4 de junho de 2013

Exposição Tucana

Na Folha de hoje li uma nota que o PSDB está preocupado com sua imagem elitista.

Para tanto, em celebração aos 25 anos de fundação do partido realizará uma {exposição} com imagens de seus programas sociais.

Além disso reformará seu site com essa nova visão.

Exposição de fotos? Reestruturação do site?

Depois tem gente que fala que o PT vai ficar duas décadas no poder porque capturou as instituições, manipulou os miseráveis e implantou uma ditadura disfarçada no Brasil.

Como diria o Hebert Viana nos anos 90: "Livro pra comida, prato para educação".


O Brasil merecia uma oposição melhor e uma direita mais decente.



segunda-feira, 3 de junho de 2013

Casagrande e seus demônios. Alguns comentários de um grande fã.



Terminei de ler a biografia do Casagrande. 

Embora o livro esteja "entorpecido" com foco exagerado na sua experiência com as drogas e seu esforço de superação, o livro presenteia os fãs com uma narrativa empolgante que retrata a geração dos anos 80, mobilizada pelo esforço da redemocratização do Brasil embalada pelo rock e permeada de irreverência e insubordinação. 

Foi empolgante conhecer melhor os bastidores da Democracia Corinthiana e constatar mais uma vez sua relevância e conexão com os movimentos sociais de seu tempo.

Ao final, o depoimento pessoal do Casão (escrito por ele mesmo) é de chorar. 

Os maldosos e ressentidos colocam o rabo entre as pernas com uma linda declaração de amor ao Corinthians das mais apaixonadas! Os que especulavam o contrário não têm mais nada a dizer. 

Ele foi muito corajoso, honesto e transparente para narrar seu novo cotidiano, zelando permanentemente, um dia de cada vez, em busca de serenidade. 

Se comportou como um verdadeiro artista expondo suas vísceras. Acho até que ele próprio deveria ter escrito os outros capítulos de sua memória. Talvez numa próxima oportunidade. 

O grande ídolo da minha infância permanece vivo e presente no meu imaginário. 

Fico feliz por ele não ter virado mais um cuzão depois de "velho". Tal qual certos cantores de rock dos anos 80.

Sempre me identifiquei muito com o cara e depois do livro esta identificação só aumentou.