quarta-feira, 27 de março de 2013

Sobre botecos e baladas

Os bares e botecos têm nomes em português. Remetem intencionalmente à brasilidade.

Já as baladas, quase sempre tem nomes em inglês. Uma ou outra adota o francês.

Bares e botecos são propositadamente rústicos.

As baladas são desnecessariamente sofisticadas.

O curioso é que são justamente as mesmas pessoas que freqüentam os dois ambientes. Mas cada um dos locais exige um discurso e um comportamento distinto.

O cardápio dos botecos está repleto de comidinhas saborosas, cervejas de garrafa, chopp tirado na hora e cachaças de todos os tipos.

As baladas servem coquetéis espalhafatosos, drinques sofisticados e para estimular todas as compulsões vendem os energéticos, também com suas marcas em inglês.

No boteco, caso você beba demais, o dono te oferece um ombro amigo, te carrega pelo braço e te coloca dentro do taxi.

Na balada, se você ultrapassar os drinques o segurança também te carrega pelo braço, te leva até a porta, chuta a sua bunda e te atira na sarjeta.

No boteco as pessoas se tornam subitamente sinceras. Abrem o jogo e se expõem até demais. Falam de suas vitorias, mas também contam suas derrotas. Confessam seus casos, mas também desabafam sobre seus grandes cornos.

Na balada todos são bonitos, bem sucedidos, receberam promoção no trabalho e estão extravasando felicidade. Querem a todo custo escapar dos amores asfixiantes.

No bar, a barriguinha é um acessório dos mais interessantes. Sinal de simpatia e garantia de boas historias.

Na balada a forma física é importante. Você não pode usar a camiseta que ganhou de brinde no posto de gasolina. Você deve parecer atraente.

O boteco - com nome em português - é o lugar das grandes verdades. Inclusive as mais devastadoras. Cenário das grandes revelações.

A balada - com nome gringo - é o espaço das fantasias. Onde se contam as grandes mentiras, inclusive aquelas mais sinceras. Na balada as pessoas podem projetar a imagem que gostariam para si mesmos. Uma idealização sobre a própria realidade.

Alguns podem imaginar que este é um discurso contra a balada (e a favor dos botecos), mas não é nada disso.

Todo mundo precisa de um pouco de fantasia. Usar as diferentes máscaras guardadas na gaveta das roupas íntimas.

Porque nas vezes em que falamos as "grandes verdades", nem sempre estamos sendo sinceros.

Também, certas vezes em que se contam mentiras, estamos tentando dizer (mesmo sem querer) grandes verdades cruas.

Acho que todo mundo tem o melhor e o pior dentro de si. O bem e o mal concorrem na nossa cabeça.

Balada é bom. São tão lindas certas fantasias noturnas.

Mas, cá entre nós, nada pode superar um bom papo de boteco.


terça-feira, 26 de março de 2013

O paraíso fiscal quebrou! E agora?




Via Facebook


O Chipre, famoso paraíso fiscal dos magnatas e mafiosos europeus, acaba de decretar um calote. 

O curioso é que o discurso hegemônico quer convencer a comunidade global que a atual crise mundial se deu pelo "endividamento dos Estados". 


Como se as grandes economias tivessem quebrado por conta das garantias sociais e investimentos públicos, não pela farra especulativa dos banqueiros gananciosos.


O Mercado (com M maiúsculo) exige o cumprimento de metas de "superávit primário" cobrando dos países cortes nos investimentos e nos programas sociais, agravando ainda mais a recessão. 


Tudo para garantir o pagamento da banca. 


E agora? Vão dizer que o Chipre faliu por conta dos gastos sociais?


O país tem menos de um terço da população da Zona Leste da Cidade de São Paulo, e os bilhões depositados nos bancos do Chipre lá estão justamente com a promessa de estarem livres de tributos e contrapartidas sociais.


Será que agora vão assumir que o país quebrou pelo castelo de cartas dos especuladores que também desgraçou a economia mundial?


Claro que não.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Magia da Camisa Preta com Listras Brancas





Nove em cada dez corinthianos fanáticos idolatram a camisa preta com listras brancas.

É só olhar ao redor.

Ainda que seja igualmente fantástico assistir o Corinthians num lindo dia de sol no Pacaembu vestindo a camisa branca com calções pretos e meias pretas.

Mas a camisa preta com listras brancas é única. Só o Corinthians se veste daquele jeito.

É só bater o olho na tevê, deparar-se com o uniforme e qualquer fã do esporte sabe que se trata do alvinegro do Parque São Jorge.

Não sei quem foi o gênio do marketing que sacrificou a camisa preferida dos corinthianos para fazer laboratório de novas experiências em peças publicitárias.

Mesmo depois de anos suspensa, a camisa preta com listras brancas permaneceu vendendo muito mais do que suas derivações.

Quem ganhou dinheiro com isso, ao invés da fornecedora oficial de material esportivo do Corinthians, foi a empresa que produz as réplicas históricas das camisas consagradas.

A impressão que se tem é que a fornecedora oficial coloca seus estagiários da Malásia para produzir a camisa do Corinthians. Não é possível.

Abrir mão da camisa mais linda do universo é no mínimo uma estupidez, ou mesmo obra de quem está completamente desconectado da realidade e do cotidiano do Corinthians.




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À Camisa Preta com Listras Brancas.

Como é lindo ver o Corinthians jogar com essa camisa. Foram tantos momentos épicos. O maior deles no dia 13 de Outubro de 1977. O gol mais fantástico da história do futebol mundial. A Páscoa de todo Corinthiano.

A camisa do Corinthians é pura magia.

Talvez magia negra, mas com listras brancas.

É a constatação empírica de que existe um lado ainda oculto na existência humana. Aquilo que foge ao nosso entendimento. Que não se pode racionalizar nem explicar. Melhor mesmo é viver.

Certas coisas simplesmente existem. Permeiam a natureza e não são materiais. Por isso mesmo não são palpáveis. O Corinthians é uma delas.

A camisa preta com listras brancas é meta-física.



O futebol mundial está repleto de camisas interessantes. Algumas bonitas e elegantes. Outras são feias e desajustadas. Existem camisas espalhafatosas, outras discretas e opacas. Existem camisas poderosas. Camisas caras. Outras são muito simples e até mesmo engraçadas.

Mas a camisa preta com listras brancas tem alma. Rola alguma coisa na atmosfera daquela camisa que o mundo gira diferente.

A camisa é enigmática.

Tem um montão de camisas dos grandes clubes do planeta que seus fãs usam casualmente, muitas vezes para passear, vestindo algo mais informal.

Mas quem veste a camisa preta com listras brancas não pode ser casual. Ninguém usa esta camisa de maneira despretensiosa. O impacto é inevitável. Para muitos a camisa é até mesmo ameaçadora.

A camisa preta com listras brancas é subversiva.



O amor dos torcedores dos outros clubes por suas camisas é evidente. Não se pode desrespeitar este sentimento verdadeiro do indivíduo pelas cores do seu time.

Os outros torcedores até beijam o seu distintivo.

Mas com a camisa preta de listras brancas a paixão é muito mais enlouquecida. Quem veste essa camisa não dá apenas um beijinho respeitoso. Ama com ardor. Oferece beijos pornográficos. Entrega a própria alma. Respira o mesmo ar. Olha fundo no olho de quem se ama e não sente vergonha de nada. Porque não existe fronteira entre o amor carnal, afetivo ou espiritual. Porque o Corinthians não está descolado dos outros amores da vida da gente. É tudo a mesma coisa. Tudo misturado.

Quem veste a camisa preta com listras brancas não ama o trabalho em horário comercial, a família aos fins de semana e o clube de futebol às quartas e domingos em dias de decisão.

Aqui é Corinthians!  E não existe amor burocrático. É tudo intenso e desmedido.

Um brinde à irracionalidade. Às paixões patológicas.

A camisa preta de listras brancas tem energia.

Quero mesmo ver o meu coringão vestindo aquela velha camisa preta com listras brancas. Sem invenções. Sem rabiscos oblíquos.

Pelo amor de Deus, que não mexam mais nesta camisa sagrada.

Registrem em nosso estatuto, a fim de que esta camisa para sempre seja louvada e jamais corrompida. Proponho que sejam inclusive obrigatórias as medidas exatas das listras brancas para que não haja outras deformações.

Que seja eternizada a camisa de 1977 e ela seja o padrão obrigatório para as outras camisas que virão.


segunda-feira, 18 de março de 2013

O Papa é POPulista

O Papa é POPulista




Na América do Sul, qualquer líder que governe buscando apoio político para além das alianças regulares com a elite, é considerado um populista. 

Enquanto o governante mobilize todas as energias produtivas do Estado em defesa dos interesses da elite, de acordo com as principais experiências ao longo da história está tudo de acordo com a normalidade.

Afim de garantir o apoio da grande imprensa e as grandes subvenções financeiras às campanhas eleitorais, os grandes políticos procuram a todo momento o apoio político das oligarquias locais, com favores, afagos e grandes negociatas.


O chamado "populismo" prosperou na história republicana da América Latina porque sempre houve um contingente populacional carente de representação política, e por conseguinte, carente de inclusão social na ordem estatal.


Neste infeliz continente, onde a elite se apropria de todas as riquezas nacionais, cooptando os servos das classes médias brancas e deixando as migalhas para os pobres, não seria motivo de surpresa que os políticos mais ousados capturassem a carência  de representatividade das grandes populações amontoadas nas roças, vilas e favelas, e alijadas do cenário político.


Nos anos 30 e 40  foram os operários e trabalhadores industriais os novos protagonistas políticos.


Os governantes que criaram as primeiras legislações trabalhistas no continente, ganharam o estigma de demagogos e foram posteriormente qualificados como populistas.


Nos anos seguintes, as mulheres ganharam o direito ao voto.


Mais recentemente, na virada do novo século, os miseráveis, sem vínculo formal com o mercado de trabalho, sem acesso à terra, à justiça, à educação, à saúde e qualquer outra garantia de proteção do Estado, foram incluídos no processo democrático por governos que estabeleceram uma rede de benefícios sociais e principalmente souberam estabelecer uma comunicação direta com este grande eleitorado que foi desvinculado do histórico domínio político dos velhos coronéis.


Os líderes deste processo também foram qualificados como populistas.

O Papa Francisco, nascido na Argentina, berço esplêndido de grandes políticos populistas, foi imbuído da tarefa de restaurar a Igreja e arrebanhar um novo contingente de fiéis.

Não foi escolhido à toa. Conhece muito bem quais os recursos possíveis para executar esta responsabilidade sagrada.

O Papa Francisco dispensou o trono de ouro e ao invés de abençoar os fiéis pediu que eles todos o abençoassem primeiro.

Pagou a própria conta no hotel, deixou ser fotografado andando de ônibus e ao invés de ostentar um crucifixo de ouro, exibe uma modesta cruz de latão.


Ao invés do tradicional sapato vermelho da autoridade eclesiástica, apareceu na missa com simples sapatos pretos de cadarço.


Pois bem, será que o novo Papa também será chamado de populista pela elite eclesiástica ressentida?


Hay que endurecer, pero sin perder la catimba jamás!





sábado, 16 de março de 2013

Resposta do Ministério das Relações Exteriores ao Manifesto em Defesa dos Brasileiros Detidos Injustamente na Bolívia

Amigos,

Segue abaixo a resposta que recebi do Ministerio das Relações Exteriores, após o envio do Manifesto em defesa dos brasileiros detidos injustamente na Bolívia.

Embora, ao meu ver, considere a resposta satisfatória, creio que devemos permanecer com todo tipo de pressão institucional e não afrouxarmos neste momento.

Caso contrario, depois o caso pode entrar no esquecimento.

Obrigado a todos que enviaram o manifesto.

Entendo que nos brasileiros devemos aprender a nos relacionarmos com as nossas instituições como forma de fortalecimento da nossa democracia.

Abraço

Rafael Castilho

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Divisão de Assistência Consular - Itamaraty
Data: sexta-feira, 15 de março de 2013
Assunto: Res: Manifesto em defesa dos doze corinthianos presos injustamente na Bolívia
Para: "25brasil@gmail.com" <25brasil@gmail.com>




Prezado Senhor.

Acuso recebimento da mensagem eletrônica de Vossa Senhoria enviada a este Ministério na data de hoje, 13 de março do corrente. Transmito, a seguir, informação sobre a assistência prestada aos brasileiros detidos pela Embaixada do Brasil em La Paz e gestões feitas junto às autoridades locais com vistas a assegurar que seja dispensado tratamento digno a nossos conacionais naquele país.

A Embaixada do Brasil em La Paz vem prestando assistência consular aos brasileiros detidos preventivamente na Bolívia desde o momento em que tomou conhecimento de sua detenção pelas autoridades bolivianas. No exercício das obrigações inerentes à assistência consular devida a qualquer cidadão brasileiro em dificuldades no exterior, diplomatas lotados na Embaixada do Brasil em La Paz têm visitado os detidos frequentemente. No dia 24 de fevereiro, por exemplo, o Embaixador do Brasil na Bolívia, autoridade brasileira mais alta naquele país, deslocou-se a Oruro e realizou visita aos brasileiros detidos. Naquele momento, as autoridades locais providenciaram o que seriam as melhores dependências prisionais para os detidos, e a Embaixada adquiriu colchões, cobertores e alguns mantimentos para os brasileiros, para prover-lhes maior conforto.

No início de março, seis dos torcedores brasileiros receberam aplicação de medida punitiva e foram enviados para celas no subsolo da penitenciária, por portarem celulares cuja posse, apesar de não funcionarem na Bolívia, são proibidas pelas normas carcerárias do vizinho andino. A Embaixada do Brasil procedeu com rapidez para por a termo a medida punitiva. Nesse contexto, o Ministro-Conselheiro da Embaixada dirigiu-se ao presídio em Oruro para suspender a medida punitiva, já que não havia motivo para a punição. Após intensa e longa gestão junto ao Diretor do presídio, foi possível retirar os brasileiros do subsolo do presídio e retorná-los para o convívio com os outros seis brasileiros detidos. Nessa mesma data, por ocasião de visita a Cochabamba, o próprio Ministro das Relações Exteriores solicitou ao Presidente Evo Morales que os brasileiros recebessem tratamento digno e julgamento adequado.

Do ponto de vista jurídico, o Dr. Miguel Blancourt, advogado boliviano contratado pelos dirigentes do Corinthians para a defesa dos brasileiros, atua diretamente no caso, em coordenação com a Embaixada. Na primeira audiência, os brasileiros eram representados por advogado cuja contratação foi feita sem referências adequadas de quais seriam os melhores profissionais habilitados a defendê-los. Durante essa audiência, o Dr. Blancourt efetuou algumas intervenções em favor dos brasileiros. Cumpre esclarecer, que compete ao poder judiciário boliviano deliberar sobre a culpabilidade dos brasileiros, após a argumentação da defesa e da promotoria. A Embaixada, com vistas a verificar se as autoridades bolivianas estão agindo em conformidade com os ritos processuais bolivianos, seguirá acompanhando as audiências referentes ao caso.

Com relação a veiculação de notícias sobre o possível autor do disparo que agora se encontra em território nacional, a Embaixada e o advogado dos brasileiros deram ciência às autoridades bolivianas do fato. A Embaixada em La Paz manifestou a disponibilidade do Governo brasileiro para colaborar com a Bolívia em matéria de cooperação jurídica. Compete ao judiciário boliviano solicitar às autoridades policiais brasileiras a tomada de depoimentos de pessoas que estão no Brasil que pudessem esclarecer os lamentáveis fatos ocorridos durante a partida de futebol.

Permaneço à disposição de Vossa Senhoria para prestar quaisquer outros esclarecimentos que julgar pertinentes.

Cordiais saudações,

Divisão de Assistência Consular

MSCFF


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Manifesto em defesa dos doze brasileiros detidos injustamente na Bolívia.
Senhor Ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota

Senhora Presidenta da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara Federal Deputada Perpétua Almeida

Senhor Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal Senador Ricardo Ferraço

A tragédia ocorrida na cidade de Oruro na Bolívia, com a morte do jovem Kevin Espada, causou justa comoção e indignação na Bolívia, no Brasil e em diferentes partes do mundo.

A perda da vida do jovem Kevin entristece não somente os amantes do esporte, mas todos aqueles que lutam pela paz e pela justiça.

Nenhuma disputa desportiva pode justificar um feito tão violento. Devemos todos perseverar para que este episódio não se repita. Que nenhum outro jovem perca sua vida por dolo ou por imprudência ocorrida no interior de um estádio de futebol, local onde deveria sempre imperar a alegria e a confraternização. Que nenhuma outra família tenha de chorar a perda de um ente querido, que na busca de uma atividade lúdica e apaixonada, torna-se vítima de imperdoável violência.

Todos queremos justiça.

Mas se a rivalidade futebolística não pode de forma nenhuma justificar atos de violência, da mesma forma, tal rivalidade não pode encobrir grandes e cruéis injustiças contra cidadãos brasileiros presos injustamente no país vizinho.

Os doze homens presos num calabouço boliviano não são meramente torcedores corinthianos. Antes de tudo, são cidadãos brasileiros submetidos a tratamento cruel e desumano, sem condições mínimas de saúde e higiene.

Sendo assim, a questão dos doze brasileiros detidos na Bolívia não é simplesmente um problema das autoridades desportivas, mas uma questão de Estado.

Nos últimos dias, peritos criminais foram entrevistados pela Rede Globo. Ao compararem as imagens do jovem que se apresentou às autoridades brasileiras como culpado pelo lançamento do objeto que vitimou o garoto boliviano, com as imagens do momento exato do lançamento do "sinalizador marítimo" divulgadas por uma rede de tevê boliviana, além da própria Rede Globo, não tiveram dúvidas em afirmar que se tratava da mesma pessoa. Da mesma forma, os peritos não reconheceram nenhum dos brasileiros presos na Bolívia como eventuais colaboradores do delito cometido.

Claro que as manifestações dos entrevistados não tem efeito algum no processo judicial que corre na Bolívia. No entanto, temos a evidencia que uma grave injustiça está sendo cometida contra nossos irmãos brasileiros presos como "bodes espiatórios" de um crime que não cometeram.

O desejo de justiça presente na sociedade - principalmente entre os bolivianos pelo crime cometido - não pode e não deve ser confundido com a sanha por vingança.

Se respostas devem ser dadas à sociedade após a perda do jovem Kevin, não será o sacrifício de inocentes a melhor maneira de encontrar justiça.

Os doze brasileiros não são cúmplices e não colaboraram de forma nenhuma para a morte do garoto Kevin Espada.

Por isso pedimos o apoio das autoridades da política externa para defenderem estes brasileiros submetidos à violência e à injustiça e sensibilizar as autoridades bolivianas para libertarem imediatamente nossos compatriotas.

O Brasil possui relações mais do que amistosas com a Bolívia.

Centenas de milhares de bolivianos vivem somente na cidade de São Paulo.

Infelizmente, muitos destes irmãos bolivianos estão submetidos à condições de trabalho degradantes, motivando permanentes esforços por parte das autoridades brasileiras para evitar abusos e proteger a população de imigrantes dos criminosos e exploradores.

Devemos todos caminhar juntos em busca da justiça. Jamais procurando vingança.

Os doze homens que estão presos na Bolívia não são apenas corinthianos, mas principalmente cidadãos brasileiros.

O Estado brasileiro tem obrigação de defender seus filhos, ainda mais com exemplo tão claro e notório de injustiça.

Esperamos sinceramente que nossos apelos sejam ouvidos e possamos contar com nossas autoridades neste momento tão difícil e delicado.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Essa nossa direita...

Via Facebook

A direita do Brasil é tão ridícula e pobre de idéias que tem no Jair Bolsonaro sua grande manequim, no Silas Malafaia seu líder espiritual, na Revista Veja sua cartilha e no Merval Pereira seu guru intelectual.

Não é à toa que no Brasil ninguém se assuma como de direita, tampouco como liberal. Até mesmo FHC, Serra e Aécio são agora chamados de ESQUERDA DEMOCRÁTICA pelo Roberto Freire (a Sarah Palin brasileira), alçado à condição de grande timoneiro da articulação de uma frente renovadora de oposição que pretende salvar o Brasil.

Agora vai!

Ps: seria bom que tivéssemos uma direita com mais qualidades e propósitos nacionais. Isso contribuiria entre outras coisas para que o Brasil contasse com uma esquerda mais decente!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Manifesto em defesa dos doze brasileiros detidos injustamente na Bolívia.

Senhor Ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota

Senhora Presidenta da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara Federal Deputada Perpétua Almeida

Senhor Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal Senador Ricardo Ferraço

A tragédia ocorrida na cidade de Oruro na Bolívia, com a morte do jovem Kevin Espada, causou justa comoção e indignação na Bolívia, no Brasil e em diferentes partes do mundo.

A perda da vida do jovem Kevin entristece não somente os amantes do esporte, mas todos aqueles que lutam pela paz e pela justiça.

Nenhuma disputa desportiva pode justificar um feito tão violento. Devemos todos perseverar para que este episódio não se repita. Que nenhum outro jovem perca sua vida por dolo ou por imprudência ocorrida no interior de um estádio de futebol, local onde deveria sempre imperar a alegria e a confraternização. Que nenhuma outra família tenha de chorar a perda de um ente querido, que na busca de uma atividade lúdica e apaixonada, torna-se vítima de imperdoável violência.

Todos queremos justiça.

Mas se a rivalidade futebolística não pode de forma nenhuma justificar atos de violência, da mesma forma, tal rivalidade não pode encobrir grandes e cruéis injustiças contra cidadãos brasileiros presos injustamente no país vizinho.

Os doze homens presos num calabouço boliviano não são meramente torcedores corinthianos. Antes de tudo, são cidadãos brasileiros submetidos a tratamento cruel e desumano, sem condições mínimas de saúde e higiene.

Sendo assim, a questão dos doze brasileiros detidos na Bolívia não é simplesmente um problema das autoridades desportivas, mas uma questão de Estado.

Nos últimos dias, peritos criminais foram entrevistados pela Rede Globo. Ao compararem as imagens do jovem que se apresentou às autoridades brasileiras como culpado pelo lançamento do objeto que vitimou o garoto boliviano, com as imagens do momento exato do lançamento do "sinalizador marítimo" divulgadas por uma rede de tevê boliviana, além da própria Rede Globo, não tiveram dúvidas em afirmar que se tratava da mesma pessoa. Da mesma forma, os peritos não reconheceram nenhum dos brasileiros presos na Bolívia como eventuais colaboradores do delito cometido.

Claro que as manifestações dos entrevistados não tem efeito algum no processo judicial que corre na Bolívia. No entanto, temos a evidencia que uma grave injustiça está sendo cometida contra nossos irmãos brasileiros presos como "bodes espiatórios" de um crime que não cometeram.

O desejo de justiça presente na sociedade - principalmente entre os bolivianos pelo crime cometido - não pode e não deve ser confundido com a sanha por vingança.

Se respostas devem ser dadas à sociedade após a perda do jovem Kevin, não será o sacrifício de inocentes a melhor maneira de encontrar justiça.

Os doze brasileiros não são cúmplices e não colaboraram de forma nenhuma para a morte do garoto Kevin Espada.

Por isso pedimos o apoio das autoridades da política externa para defenderem estes brasileiros submetidos à violência e à injustiça e sensibilizar as autoridades bolivianas para libertarem imediatamente nossos compatriotas.

O Brasil possui relações mais do que amistosas com a Bolívia.

Centenas de milhares de bolivianos vivem somente na cidade de São Paulo.

Infelizmente, muitos destes irmãos bolivianos estão submetidos à condições de trabalho degradantes, motivando permanentes esforços por parte das autoridades brasileiras para evitar abusos e proteger a população de imigrantes dos criminosos e exploradores.

Devemos todos caminhar juntos em busca da justiça. Jamais procurando vingança.

Os doze homens que estão presos na Bolívia não são apenas corinthianos, mas principalmente cidadãos brasileiros.

O Estado brasileiro tem obrigação de defender seus filhos, ainda mais com exemplo tão claro e notório de injustiça.

Esperamos sinceramente que nossos apelos sejam ouvidos e possamos contar com nossas autoridades neste momento tão difícil e delicado.




segunda-feira, 11 de março de 2013

Em São Paulo, os canibais se alimentam de ciclistas, pedestres e outros subordinados.

Um jovem de 23 anos, voltando da noitada, sente-se no direito de dirigir perigosamente em ziguezague na Avenida Paulista. Se diverte derrubando os cones colocados no asfalto para estabelecer uma faixa de trânsito reservada aos ciclistas.

Mas não há limites para o deleite individual do jovem facínora que só pôde aprender na vida a lição de elevar ao máximo seus desejos e estímulos mais instantâneos, desconsiderando os limites da convivência social e coletiva.

Aliás, viver coletivamente, respeitando normas e regras de convivência, certamente não é lição que se aprende, nem nas escolas dos pobres, muito menos nas escolas dos ricos, onde desde muito cedo se ensina ao aluno, quero dizer, ao cliente, a ser dono de tudo.

Contrariando a superação do egocentrismo, no processo de socialização do indivíduo, reforça-se a potencialidade destrutiva e a idéia de que todo ambiente que permeia a existência individual está disponível e servindo ao propósito de seus gostos pessoais.

Como não poderia deixar de ser, a relação com o professor é decisiva neste aprendizado. Porém, não são as aulas que ensinam. É uma estranha pedagogia em que o aluno desde criança aprende que seu mestre, ainda que seja autoridade na sala de aula, está subordinado a ele na hierarquia social. Afinal de contas "é ele que paga o salário de professor!".

Em situações de conflito com seus alunos clientes, a maioria das escolas particulares prefere arrancar o braço, ou seja, demitir o professor à causar alguma indisposição ou embaraço com seus pequenos faraós.

Voltando para a Avenida Paulista, um infeliz ciclista - também jovem - estava no caminho da diversão do motorista e, tal qual em um desses jogos de vídeo game, foi atropelado e seu braço decepado instantaneamente por seu algoz.

Sujou! Logicamente o menino fugiu de suas responsabilidades e deu no pé. Ao se deparar com o braço da vítima no interior de seu veículo, decidiu se livrar daquele pedaço de gente e jogou o "objeto" em um dos tantos córregos poluídos da infeliz Cidade de São Paulo.

Não conheço a biografia deste psicopata, mas quem vive em SP sabe que os absurdos se tornaram cenas do cotidiano.

Mais de 10 milhões de pessoas vivendo amontoadas, mas cada uma delas exigindo que a cidade seja só sua. A gente escapa de tragédias diárias pela sorte ou pela benção divina, porque todo mundo esta submetido à crueldade sádica de motoristas, motociclistas, caminhoneiros, motoristas de ônibus, lotação, skatistas, ciclistas, pedestres, etc.

Não importa qual meio de transporte. As pessoas simplesmente desconsideram que além de direitos possuem obrigações. Que o respeito ao coletivo é parte fundamental da vida em sociedade.

Mas quem está preocupado com coletivo e sociedade? Vivemos em uma sociedade hedonista que reconhece apenas o gozo instantâneo. A ideologia e a religião dos nossos tempos é o culto ao individualismo.

Seja pobre, ou seja rico, a competição de personalidades extravagantes é um recurso contra o desaparecimento. Numa sociedade tão hierarquizada como a nossa os subordinados são facilmente esmagados.

Violência!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Parabéns às mulheres...

Parabéns a todas as mulheres pelo seu dia.

Em especial aquelas mulheres que se respeitam e se valorizam, sem medo de se posicionar.

Aquelas que não se disfarçam de submissas, temendo inibir o potencial autoritário dos homens.

Parabéns às mulheres que não se fazem de estúpidas, contentando os homens para que estes se sintam mais inteligentes.

Parabéns às mulheres que não se dissimulam como pudicas, aceitando a opressão da sociedade que ainda exige que elas sejam virgens e castas.

Meus parabéns às mulheres que gozam! Aquelas que entendem que o prazer sexual não é privilegio exclusivo dos homens. As que não aceitam o controle social sobre seu corpo.

Parabéns às mulheres tímidas, acanhadas e reservadas.

Parabéns às mães.

Parabéns às mulheres religiosas.

Mas quero dar também um parabéns todo especial às putas e vadias. Sejam donas de seus corpos e exijam respeito, pois nada que vocês façam nem nada que vocês vistam dá o direito para que alguém lhes toquem sem consentimento.

Parabéns às mulheres que cuidam de seus corpos e da aparência, tornando a nossa vida mais encantada e deliciosa.

Mas quero oferecer um beijo de língua à todas as mulheres que se acham feias. As mulheres de beleza incomum. Aquelas que são exageradamente exigentes consigo mesmas. Estes seus "defeitinhos" são adoráveis e tornam vocês mulheres muito mais humanas e reais.

Parabéns às mulheres vaidosas.

No entanto, quero dar vivas às mulheres tranqüilonas, seguras de si e que se vestem da maneira mais conveniente e confortável.

Mulheres, sejam donas de seus destinos.

Desejo que o futuro lhes reserve muita justiça e igualdade.

Que as mulheres não sejam mais vitimas de violência e opressão.

Feliz dia das mulheres!

Rafael Castilho


quarta-feira, 6 de março de 2013

Chorão foi um grande artista do seu tempo






O Chorão não tinha a mesma bagagem e o leque de influênciasda grande leva de roqueiros nos anos 80, como Legião, Paralamas, Titãs, Ira,Peble Rude, Ultrage, Barão Vermelho, entre outros nomes que beberam diretamentena fonte dos grandes arquitetos da Música Popular Brasileira.

Até porque o momento histórico em que foi inserido na cena musical era totalmente diferente, sendo injusta e desnecessária qualquer comparação com estes grandes nomes da música brasileira que fizeram história.

Certa vez, tentava explicar para um amigo colombiano que recentementese mudara para o Brasil, o porquê da imensa importância do Rock para a nossageração.

Os jovens que nasceram ao final dos anos 70 ou no começo dos anos 80 são todos “meio roqueiros”. A formação musical e cultural dessa galera é absolutamente embriagada pelo Rock Brasileiro. Quem tem mais ou menos trinta anos nutriu devoção e admiração pelas grandes bandas tendo, inevitavelmente, um grupo especial de sua preferência.

No meu esforço de explicação, argumentei que o Rock para anossa geração era muito mais do que um estilo musical, mas um movimentocultural.

Durante o período do regime militar, as grandes aglomeraçõesde jovens eram inevitavelmente vistas como ameaçadoras ao regime.

O período de redemocratização do Brasil convergiu com agrande explosão do Rock Brasileiro.

O primeiro Rock in Rio, por exemplo, ocorreu no mesmo momento em que Tancredo Neves era eleito presidente pelo colégio eleitoral, marcando o fim do Regime Militar.

O Rock talvez não fosse uma novidade, mas a oportunidade de expressão e aglomeração era uma boa nova para a juventude que podia agora se posicionar frente às grandes questões nacionais e também sobre os dilemas comportamentais.

Se a geração dos anos 80 estava entorpecida pelas grandes preocupações estruturais de seu tempo, com ferozes críticas às nossas instituições,a geração do Charlie Brown Jr. tinha uma pegada diferente.

No caso do Chorão, os conflitos existenciais do jovem ocupavam grande espaço na sua obra.

Era latente o trauma do individuo que se tornava adulto e era obrigado a se relacionar com a ética, a moral e o conjunto de normas da sociedade, quando dispunha apenas da ética privada de seus círculos sociais.

Chorão era o jovem descolado das instituições que historicamente orientaram o comportamento dos indivíduos. Não se reconhecia na escola, na família, nem na igreja. Dispunha de poucos recursos. Não estava disposto a se enquadrar nas demandas dos anos 90, que exigia dos indivíduos a absoluta rendição e devoção aos novos valores da globalização.

Seu escritório era na praia. Ele era o jovem que recusava a domesticar-se,vestir-se como um almofadinha, arrumar um emprego descente e servir a umacorporação para ser alguém na vida. Pra socialite ele não tinha vocação, comodisse em uma de suas canções.

Daí o seu grande potencial de comunicação com a juventude.

Nem todos estão dispostos a “fazer tudo direitinho” para talvez um dia serem agraciados com alguma promoção.

Esta é uma falha endêmica deste sistema. A maioria das pessoas pode até não contestar o modelo, mas tampouco está disposta a servi-lo caninamente.

As pessoas maximizam seus interesses pessoais, aproveitam de uma ou outra eventual garantia social, mas tocam suas vidas da maneira mais conveniente possível.

Chorão foi um dos grandes artistas de seu tempo.

Seus críticos percebem com rapidez que as grandes questões estruturais “passaram batido” na sua obra.

Mas o compositor é um bom retrato do flagelo desta geração. Todas as fórmulas estão prontas. Um “outro mundo” não está disponívelno momento. Não há nada por que se possa lutar. A realização material é um consolo para as satisfações cada vez mais instantâneas.

Quem não se identifica, torna-se automaticamente um impertinente. Sofre porque sente que não tem lugar no mundo.

Chorão era honesto com ele mesmo e perplexo com a própria existência.

No fundo, o Chorão era um romântico. Queria mesmo viver (e morrer) de amor.

Ainda que não fosse aceito pelo pai da namorada, porque não era bom pra filha dele.

Ainda que tivesse um cabelo engraçado.

Ele falava tudo o que a galera gostava de escutar.

E fez o rock de um jeito que ninguém mais vai esquecer.











  

terça-feira, 5 de março de 2013

A importância de Hugo Chavez

A década de 90 foi marcada pela consagração do projeto neoliberal na América Latina.

Imediatamente após a queda do Muro de Berlim e o colapso dos Estados sob influencia da União Soviética (inclusive a própria URSS), o discurso liberal ortodoxo se proliferou com voracidade.

Não havia mais espaço para contestações e os países ao sul dos Estados Unidos da América que viviam sob as tensões do período da Guerra Fria, não dispunham mais da "promessa" do socialismo como alternativa ao projeto de desenvolvimento subordinado aos interesses norte-americanos.

Se nas décadas anteriores a ferramenta de dissuasão da "ameaça" comunista foram as ditaduras militares sangrentas impostas na maioria dos países do Sul, nesta nova década, que se iniciava com o desaparecimento da União Soviética, a coerção tornou-se moral.

Os políticos falavam com toda a pompa em "choque de capitalismo".

A "esperança socialista" seria a grande culpada pelo atraso na modernização dos países latino americanos.

Os políticos engomadinhos ganharam rápida projeção e popularidade repetindo mantras como eficiência, concorrência e competitividade.

No conjunto da sociedade isso também ocorreu. Os Mauricinhos, antes vistos como ridículos, rapidamente ganharam destaque. Os yuppies chegaram com mais de uma década de atraso em "latinoamérica".

Os emergentes faziam de tudo para ostentar suas quinquilharias importadas, compradas após a abertura econômica desenfreada que gradativamente foi destruindo o já precário parque industrial dos países subdesenvolvidos.

Os sindicatos e movimentos sociais poderiam fechar as suas portas, pois já não fariam falta a mais ninguém. O capitalismo venceu e a história teria chegado ao seu fim.

As pessoas deveriam encontrar respostas nos livros de auto-ajuda. Esta seria a melhor maneira para buscar a superação dentro de si próprio. Tornar possível a convivência neste novo mundo repleto de competitividade e eficiência, deixando de procurar inutilmente um inimigo político causador das mazelas individuais.

Obviamente, as raízes do subdesenvolvimento nos países da América Latina eram muito mais estruturais do que ideológicas, o "choque de capitalismo" causado pelo desfibrilador do Livre Mercado não pôde reanimar por muito tempo os Estados do sul, repletos de precariedades históricas. Ao contrário, em médio prazo só vieram a agravar os problemas estruturais das economias e aprofundar as desigualdades sociais.

Quando Hugo Chavez assumiu a presidência da Venezuela os países "emergentes" viviam sob ataques especulativos. O próprio Mercado (com M maiúsculo) desconfiava da capacidade dos Estados honrarem suas dívidas e manterem suas economias nas bases absurdas que este proprio Mercado ditou. Na prática, os especuladores sabiam que aquele modelo não se sustentaria por muito tempo. Quem "investiu" ganhou o que pôde e a partir de então foi um salve-se quem puder.

Depois da euforia inicial, os países latino americanos contaram com índices de desemprego assombrosos, economias com baixíssimo crescimento e falta de capacidade de investimento, com consequente caos em suas infra-estruturas.

Chavez, tão logo assumiu, conduziu um processo de nacionalização da economia venezuelana. A idéia era superar com alguma rapidez a crise econômica apoiando os setores produtivos, fazendo do Estado o grande indutor do desenvolvimento econômico, regulando o mercado e assumindo sua responsabilidade na diminuição das desigualdades sociais.

Claro que isso não seria possível sem que fosse estabelecida as bases de uma nova hegemonia política. Chavez percebeu que havia um ator ainda alijado do jogo político e encontrou no subproletariado sua principal base de sustentação política.

Até então, o jogo político estava restrito aos chamados "formadores de opinião", com grande peso das classes médias urbanas.

Embora inicialmente Chavez contasse com grande apoio da classe média, o presidente percebeu que esta seria facilmente cooptada pelo discurso conservador. Temerosa por perder o status adquirido e os pequenos privilégios, a chegada à classe média de um grande contingente populacional, outrora subordinado, causava incômodo nos setores mais conservadores.

Por outro lado, quando Chavez decide investir politicamente nessa massa de venezuelanos como mola propulsora do modelo chavista, cria-se um problema de representação política. De uma maneira geral, Chavez manteve relações interessadas com certa parte da elite econômica. Claro que pouco a pouco foi forjando esta elite segundo seus interesses, provocando fissuras e abismos, como no caso da imprensa. Mas ao estabelecer parcerias com parte desta elite e mobilizar incrível energia política para atrair as camadas mais pobres, as classes medias urbanas passaram a carecer de representação política no âmbito do Chavismo.

Mais do que qualquer presidente do seu tempo, Chavez buscou agudizar as transformações sociais e políticas no que chamou de Revolução Bolivariana. A propaganda de governo lembrava os processos chamados de "populistas" ocorridos na Argentina nos anos 40 e 50 com Perón e no Brasil dos anos 30, 40 e 50 com Getúlio Vargas.

Em geral, são chamados de populistas todos e quaisquer governos que buscam sustentação popular em suas ações políticas para além das alianças regulares com a oligarquia.

Mas no caso de Chavez, deve-se dizer que o uso da propaganda política foi sim exagerado e seu discurso parecia até mesmo anacrônico sob muitos aspectos.

Hugo Chavez interferiu exageradamente nas instituições venezuelanas e foi desnecessariamente centralizador, perdendo a grande oportunidade de fazer um sucessor político que pudesse garantir a continuidade do projeto.

Existem muitas criticas que podem ser feitas ao presidente Chavez. Mas não se pode aceitar com seriedade quando seu governo é acusado de ditatorial.

As eleições foram livres, com a presença de observadores internacionais. O presidente aprovou reformas na constituição que permitiram que ele se candidatasse a um novo mandato. Porém, não foi nada diferente do ocorrido no Brasil de Fernando Henrique Cardoso.

Houve por diversas vezes manifestações livres contra seu governo com a presença de milhares de pessoas. Muito diferente do que ocorre em verdadeiras ditaduras.

Em verdade, foi justamente o presidente Hugo Chavez que foi vitima de um golpe tramado com a complacência dos Estados Unidos que se apressaram em reconhecer um novo governo composto por aventureiros marginais.

Chavez chegou a ser detido. Mas, surpresa! Não contavam com sua astúcia e ele voltou nos braços do povo num episódio que reforçou definitivamente sua figura como um grande guia da nação venezuelana.

Efetivamente, a condição de vida das camadas mais pobres da Venezuela mudou muito. Houve avanços expressivos e sensíveis na saúde e na educação.

As conseqüentes intervenções econômicas provocaram permanentes ataques especulativos e a maior dificuldade do governo foi o controle da inflação, muito alta nos anos de Chavez no poder. Os índices foram maquiados, existindo uma fissura entre a economia formal e a paralela.

Mas Chavez não foi importante somente na Venezuela.

Sua figura foi verdadeiramente decisiva no novo desenho da geopolítica da América do Sul.

No inicio deste novo século, uma agenda estava dada como certa para os países americanos. Deveria ser implantada como um rolo compressor pelos governos leais ao império dos Estados Unidos. A ALCA, Área de livre comercio das Américas permitiria que mercadorias circulassem livremente entre os países do continente que deveriam abrir mão de suas barreiras comerciais e suas políticas de proteção aos mercados internos.

Ora, os Estados Unidos poderiam exportar com facilidade seus produtos manufaturados. Já os demais países deveriam se contentar em fornecer produtos primários, sem valor agregado e sem desenvolvimento de uma cadeia produtiva, tendo em vista que seria impossível competir com os produtos ianques. Enquanto os estadunidenses poderiam "exportar" sua moeda, os demais países tinham serias dificuldades infraestruturais e taxa de juros elevadas para financiamento da produção que impediam a competição com igualdade de condições.

Em conjunto com os novos governos eleitos no Brasil e na Argentina, Hugo Chavez mandou literalmente a ALCA "al carajo" num marcante evento ocorrido em Mar Del Plata na Argentina.

Antes de Chavez, a ALCA era considerada como um destino inexorável. Depois dele, tornou-se um projeto sepultado antes mesmo de ter nascido.

Evitando os erros das experiências de governos do passado, Chavez buscou em todos os momentos superar o isolacionismo. Só assim poderia criar o ambiente para as transformações ambicionadas e garantir maior segurança estratégica contra a pressão dos EUA.

Tornou-se parceiro comercial fundamental para a recuperação da economia Argentina, desgraçada pelo desmonte neoliberal de Carlos Menem. Gerou condições objetivas para que o governo Kirchner lograsse condições de adquirir estabilidade política num momento de impasse na Argentina.

Da mesma forma, apoiou os novos governos da Bolívia e do Equador. Influenciou, é verdade, o processo decisório destes países, apoiando economicamente os governos de Evo Morales e Rafael Correa. Mas soube criar um bloco (ALBA) para consolidação e cooperação de seus projetos políticos, em países marcados por governos frágeis em permanentes conspirações.

Aliás, este é o ponto, o estilo de Chavez poderia ser encarado como provocativo, caso seu governo (e de seus vizinhos) seja visto de maneira isolada. Mas falamos aqui de democracias precárias e governos frágeis. Os golpes de Estado jamais foram novidades nos países da América Latina. A mobilização nacional e a concentração das energias políticas eram ferramentas retóricas de Chavez.

Enquanto George Bush se desgastava em suas guerras no Oriente Médio, a América Latina - com impulso econômico da China - conseguiu reunir condições políticas para importantes transformações.

A UNASUL foi importante forum político dos Estados sul americanos. Para além da cooperação econômica, a instituição foi fundamental para superar crises entre os países membros, como as tensões entre Colômbia e Venezuela, por exemplo.

O século XXI ainda está florescendo. Mas já é possível dizer que Hugo Chavez Frias foi seu principal nome, até o presente momento.

Certamente, a América Latina era uma antes de Chavez, agora é outra muito mais forte e bem posicionada.

Durante mais de uma década, Chavez impôs duríssimas derrotas à oligarquia escravocrata do continente.

Justamente por isso, ele incomodou tanto e jamais será perdoado por seus inimigos.

Assim como Evita Perón, que dedicou seus melhores dias no poder para se dedicar aos miseráveis e injustiçados, denunciando o abuso das elites e seu entreguismo. Não foi perdoada sequer em seu leito de morte. Enquanto padecia, a residência oficial foi pixada com os dizeres: "Viva o Câncer".

A América Latina continua sendo um continente colonizado.

Qualquer um que fale em nome de sua independência continuará sendo tratado como um caudilho.

Qualquer líder que coloque à frente os interesses nacionais será chamado de autoritário.

Qualquer chefe de Estado que tenha um olhar sensível às injustiças, para além dos interesses ordinários das elites será acusado de populista.

Chega a ser curioso, a oligarquia Sul Americana acusando Chavez de ser um ditador. Logo estes que historicamente conspiraram e patrocinaram sangrentas ditaduras neste infeliz continente.

A verdade é que Chavez colaborou decisivamente para a democracia. Valorizou a democracia. Pois de agora em diante, qualquer força política que proponha se submeter à vontade das urnas, terá de olhar também para os mais pobres, caso contrário será rejeitado.

Este povo não aceita mais ser subjugado. Não mais subordinará seus interesses aos interesses dos poderosos.

Isso é definitivo.