quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Preconceito, discriminação e injustiça contra os Corinthianos!

Não ha nada que possa justificar a morte do garoto boliviano na última semana.

Ainda que não tenha sido um homicídio doloso o episódio foi verdadeiramente triste e de dano irreparável.

Um dos acontecimentos mais tristes da história do Corinthians e também do futebol brasileiro.

No entanto, é muito importante dizer que nada pode justificar a avalanche de manifestações preconceituosas e verdadeiramente violentas contra os torcedores do Corinthians.

Em nome de um moralismo tardio e de uma indignação interessada, jornais e redes sociais estão recheados de acusações discriminatórias e persecutórias.

Que a indignação e solidariedade ao garoto morto sejam manifestadas e compartilhadas isso é mais do que legítimo.

Que se exija justiça e punição ao culpado pelo ocorrido também está dentro da normalidade.

Mas julgar, condenar e ofender uma coletividade é injusto e descabido.

No post anterior, expressei minha preocupação quanto ao perigoso precedente que se abre ao condenar uma determinada coletividade por conta de crimes eventualmente cometidos por um indivíduo. Hoje trata-se de um clube de futebol (com 30 milhões de pessoas), mas já foi ferramenta de perseguição de diversos povos ao longo da história das sangrentas guerras.

A preocupação central da comunidade corinthiana, neste momento tão delicado, está muito além das punições que a equipe sofreu na Copa Libertadores da América.

Estou certo que os torcedores do Corinthians estão menos preocupados com a eliminação na competição do que com a enxurrada de ofensas e agressões que os mosqueteiros tem sofrido de todos os lados.

Ora, se querem excluir o Corinthians desta Copa, vão em frente!

Mas a injustiça que estamos sofrendo, isso sim tem corroído nossos espíritos.

Virou coisa corriqueira ver manifestações de todos os lados chamando os corinthianos de assassinos e ladrões. Sem nenhum cuidado com a generalização.

Como se o Corinthians tivesse inventado a violência no futebol.

Como se jamais na história do futebol tivesse havido ocorrências semelhantes.

Como se todas as outras torcidas brasileiras fossem pacíficas e altruístas.

Conforme escrevi no primeiro parágrafo deste post, nada pode justificar o ocorrido na Bolívia, nem o comportamento equivalente dos rivais.

Mas se não devemos justificar o ocorrido, podemos ao menos tentar explicar o comportamento odioso e discriminatório, consequência imediata deste incidente.

Enquanto o Corinthians era visto como "coitadinho" do futebol brasileiro, sem patrimônio, desorganizado e vítima das gozações dos adversários, as hierarquias estavam bem definidas.

O futebol ainda nao era um negócio global e as cotas de televisão não se orientava pelo potencial de consumo dos torcedores dos clubes. O patrimônio de um clube era tão somente suas propriedades imobiliárias.

A massa de corinthianos fieis, maloqueiros, favelados e sofredores, embora causasse incômodo no establishiment futebolístico, não representava ameaça ao status quo, pois no imaginário de alguns elitistas, estávamos subjugados.

Mas quando o Corinthians se emancipou, apoiado justamente na afirmação de suas potencialidades e no histórico de "Time do Povo", vencendo fora e dentro das quatro linhas, a reação migrou rapidamente do escárnio para o puro ódio irracional.

O Corinthians incorporou a causa de todos os "males" da nossa sociedade, o que para muitos esta diretamente ligado a insubordinação de quem "deveria" estar "em baixo".

O ódio contra quem não tinha estádio (e agora tem), não tinha Centro de Treinamento (agora tem) ou não tinha Libertadores (agora tem), me perdoem, é muito semelhante ao ódio que existe em alguns setores da sociedade quanto aos que com muito esforço e dedicação conseguem uma melhor condição de vida e podem frequentar as universidades, comprar automóveis ou viajar de avião.

Os que discordam da minha comparação - e isso é plenamente aceitável - me respondam então por que as manifestações contra os corinthianos são tão generalizadas, odiosas e preconceituosas? O que justifica tamanho ódio? Ou seja, por que os corinthianos seriam tão diferentes dos torcedores das outras agremiações?

Quando o Corinthians "começou" a vencer, os estabelecidos automaticamente se sentiram mais derrotados.

Na nossa cultura em que o conceito de hierarquia social está introjetado no imaginário das pessoas, o crescimento de quem vem debaixo, por si só representa uma ameaça de igualdade.

A partir do momento em que os justos protestos contra a morte do garoto boliviano deixam de ser pautados pelo desejo de justiça e responsabilização do verdadeiro culpado, passando a ser manifestação de intolerância e preconceito generalizado contra uma coletividade, isso permite que duvidemos da veracidade de tal indignação.

Parece mais com manifestações de intolerância, preconceito e discriminação.

Da mesma forma, a prisão dos torcedores que foram apanhados aleatoriamente pela policia boliviana está muito mais orientada pelo desejo de vingança do que pelo senso de justiça. E não é isso que se espera da postura de um Estado Nação.

Todos estão muito a vontade para condenar. Os inquisidores estão soltos.

As motivações odiosas estão encobrindo a razão e o senso de justiça das pessoas. Ninguém se coloca no lugar dos cidadãos brasileiros que estão longe de casa pagando por um crime que não cometeram. Doze pessoas estão correndo o risco de perderem suas vidas numa cadeia boliviana.

Caso alguém duvide da efetiva culpa do menor de idade que se apresentou à policia em Guarulhos e considerando que um dos brasileiros detidos seja o verdadeiro culpado pelo disparo (o que é improvável), outros onze estariam sendo condenados injustamente.

Pouca gente está preocupada de verdade, o negócio é apedrejar o Corinthians!

Quer saber, que se dane essa tal Libertadores! O que nós queremos mesmo é justiça!




segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Joelho

Há anos adquiri a rotina de visitar o Rio de Janeiro com alguma freqüência.

O trabalho era um bom pretexto para que eu pudesse estar sempre conectado com aquela cidade deliciosa.

Paulistano que sou, entender as diferenças no ritmo de funcionamento das pessoas e das coisas não foi fácil. Porém, acostumar-se com aquilo que é bom, não é tarefa das mais difíceis.

As paisagens, o clima, o samba e as praias ajudam muito nesta adaptação.

Em uma das minhas primeiras incursões ao Rio fui à padaria descolar um café da manhã.

Olhei na vitrine de salgados e me dirigi ao balconista:

- por favor, eu gostaria de um Bauruzinho.

O rapaz entortou a boca e depois de um breve silencio retrucou:

- qui qui é isso o rapá?

Decidido a comer aquele pão assado recheado com presunto, queijo e tomate fui até a vitrine e apontei para o salgado.

- ó só, isso aqui é joelho mermão!

- então me dá um joelho, concluí.

No dia seguinte voltei à padaria. Considerava-me mais seguro em terras cariocas. Decidi ir mais relaxado.

Cheguei todo malandrão e logo encarei o mesmo balconista do dia anterior. Não entendia porque ele se comportava com todos os clientes de maneira tão irreverente e insubordinada.

Aboli o tal "por favor" aparentemente antiquado naquele ambiente:

- da aí um cotovelo pra mim...

- É joelho, paulista! JO.E.LHO! Berrou o atendente.

- então me passa um joelho, por favor. Respondi desconsolado.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A punição do Corinthians e o precedente da intolerância - Perigoso Sinalizador!

Obrigar o CORINTHIANS a jogar com os portões fechados é a mais severa punição possível para um clube com as características do Timão.

Mais severa inclusive do que a eliminação, pois para o Corinthiano, mais importante do que ser campeão, e participar ativamente da vida do Corinthians.

O que faz o corinthiano diferente dos outros torcedores não é uma equipe recheada de craques ou uma coleção de troféus, mas a experiência ser e de viver o Corinthians.

Caso a punição imposta pela CONMEBOL seja para disciplinar o comportamento das torcidas nos estádios sul americanos de maneira definitiva, entendo que o Corinthians deve aceitar a medida.

Mas ao que parece, seremos meros bodes expiatórios.

Nas últimas horas se viu mais do que indignação pela irreparável perda do jovem boliviano. Coisa que infelizmente não é novidade no mundo do futebol.

O que vimos desde quarta é a canalização e ressentimento de todo ódio efervescente contra o Corinthians.

Todo mundo jogando pedra na Geni.

Se fosse por senso de justiça e compaixão, a comunidade latino americana poderia dormir mais tranqüila. Mas não é!

Crimes ocorrem cotidianamente na sociedade. É um triste fato. O crime faz parte da vida social. Por isso existem instituições que regulam a relação entre os indivíduos, como a justiça e a polícia. O Estado detém o monopólio da violência. Assim deve ser.

Mas coletivizar a responsabilidade pelo crime cometido por um indivíduo é um precedente dos mais perigosos.

O criminoso não comete crimes por pertencer a um coletivo.

Caso um Sul Coreano cometa um crime no bairro do Brás, não se pode condenar a comunidade de Sul Coreanos residentes em São Paulo.

Se um nordestino esfaqueia a mulher com sua peixeira no meio do forró eu não posso dizer que os nordestinos são assassinos. Tampouco a justiça pode punir a comunidade de nordestinos e proibir novas festas desse tipo.

Não foram poucas as manifestações que acusavam a torcida corinthiana como bandidos e assassinos.

Outro precedente perigoso é a possibilidade de que um indivíduo cometa um crime no meio da torcida adversária de maneira deliberada apenas com o intuito de prejudicar a agremiação adversária. O crime torna-se um recurso eficiente para alcançar os objetivos mais pérfidos e escusos.

Se a punição for para valer, a policia não precisa mais proteger os jogadores com seus escudos nas laterais do campo, como muito se vê nos jogos da Libertadores, pois qualquer clube seria punido pelo comportamento de sua torcida de maneira indiscriminada, transparente e equivalente com o que agora acontece com o Corinthians.

A verdade é que a criminalização do torcedor de futebol é arma fácil na boca de reacionários e preconceituosos.

Todo hipócrita e demagogo adora esbravejar aos berros contra os torcedores de futebol.

Através do futebol, pode se manifestar todo o ódio e ressentimento contra o povo brasileiro.

Destaca-se o comportamento detestável de um ou outro criminoso e generaliza-se para um coletivo como quem diz: "tá vendo como se comporta essa 'gente', e eles ainda querem ser vistos como cidadãos".

E você, torcedor anticorinthiano. Não caia nessa porque a bronca também é com você.

Crimes acontecem toda hora e em qualquer lugar. Faz parte das responsabilidades das entidades que organizam o futebol disciplinar o comportamento nos estádios e evitar que absurdos como esse aconteçam.

Neste momento o Corinthians foi punido.

Muito bem, que assim seja.

Agora, mais importante do que o futebol é a vida. Será que culpar uma coletividade pela atitude de um indivíduo é a maneira mais correta para construirmos uma sociedade mais justa e tolerante?

Ou estamos reforçando os estigmas e preconceitos, imputando a um grupo a responsabilidade pelos males que permeiam toda a vida social?

Para mim este é um sinalizador dos mais perigosos!

E acreditem, não falo isso por conta do Corinthians. Está em jogo coisa muito maior do que a preferência clubística.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Enquanto Yoani Sanchez é bajulada, jovens internautas ingleses ainda estão na cadeia

A blogueira cubana Yoani Sanchez chegou ao Brasil após receber autorização do governo Cubano para viajar livremente fora do país.

A decisão não é benefício de Yoani, já que um pacote de reformas foi implementado pelo governo do presidente Raul Castro.

A chegada de Yoani é festejada pelos "defensores árduos" da liberdade de expressão.

Embora a blogueira seja tratada como refugiada política, Yoani exerceu suas atividades livremente, recebeu seu passaporte do governo e não há indícios de que tenha sofrido violência física.

Desejamos boas vindas à nova turista. Caso queira permanecer no Brasil logo perceberá as delícias do bem-estar e da liberdade.

Claro que esta liberdade e o bem-estar, como tudo no Brasil, são privilégios dos ricos. Mas quanto a isso creio que não haverá problemas para a cubana, já que ela está muito bem empregada por jornais internacionais, igualmente preocupados com a liberdade e os direitos dos indivíduos.

Por falar em liberdade, enquanto a blogueira é bajulada pela mídia internacional, dois internautas ingleses continuam presos por "provocarem" ataques e badernas nas manifestações de 2011 em Londres.

http://www.dailymail.co.uk/news/article-2026755/Manchester-Facebook-riot-inciters-Perry-Sutcliffe-Jordan-Blackshaw-jailed-4-years.html

No caso dos jovens ingleses, a ferramenta não foi o blog. As mensagens foram veiculadas através do Facebook e do Twitter.

Não consta que Perry Sutcliffe e Jordan Blackshaw façam parte de alguma organização terrorista.

As manifestações de simpatia pelos protestos em Londres 2011, talvez sejam irresponsáveis, mas os dois britânicos sequer exerciam liderança sobre o grupo de jovens que saiu as ruas denunciando o desemprego, a violência, a falta de oportunidades e a discriminação contra os filhos de imigrantes.

Foram manifestações privadas de apoio e convocação de novos protestos destinados aos seus contatos das redes sociais.

Foi o suficiente para a condenação dos dois jovens a quatro anos de cadeia, onde permanecem até hoje.

Os países ricos defendem a democracia e a liberdade, mas nos territórios alheios.

Grupos rebeldes são festejados na Síria, na Líbia, no Irã, em Cuba, na Venezuela, entre outras nações pertencentes ao "eixo do mal".

Os rebeldes dos outros são premiados com armas e muitos milhões de dólares.

Mas democracia "no dos outros" é refresco.

As manifestações recentes na Inglaterra, Espanha, Grécia ou Estados Unidos são reprimidas com polícia e cadeia.

Seus líderes são perseguidos e logo recebem a chancela de terroristas.

O tapete vermelho da hipocrisia estendido para Yoani Sanchez bem que podia ser oferecido para Julian Assange por algum país do "eixo do bem". No entanto, esperam apenas que ele saia da embaixada do Equador para ser levado rapidamente ao corredor da morte.

Seja bem-vinda Yoani. Separe alguns trocados para oferecer às crianças brasileiras que passam os dias fazendo malabarismos e acrobacias nos semáforos, bem longe das escolas. Logo eles estarão nas universidades do crime, sem a menor expectativa de um dia se tornarem médicos, engenheiros ou jornalistas.

Pois a única cidadania que alcançarão, talvez um dia, será através do consumo. A qualquer preço ou usando qualquer meio.

Porque por aqui, o único senso de justiça que dispomos é exclusividade dos ricos. Você vale o que você tem.

Se você não tem nada, é absolutamente descartável.

Boa estadia!





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O Carnaval de São Paulo e a reapropriação do espaço público!

São Paulo teve carnaval em 2013.

Daquele nosso jeito desengonçado e atrapalhado, mas foi sim muito bacana.

Com o céu carrancudo ostentando cinqüenta tons de cinza, inspirando, tal qual o best seller que não li (e não gostei), as sacanagens moderadas e socialmente aceitas.

Quem ficou em São Paulo economizou uma grana, evitou horas em engarrafamentos e aeroportos, mas se surpreendeu com uma festa que ninguém esperava.

Ao contrário do que se poderia supor, o renascimento (ou nascimento?) do carnaval paulistano não se deu em salões particulares, em clubes privados ou em festas caras, conforme manda a tradição paulistana.

O carnaval de 2013 estrapolou o sambódromo e ocupou as ruas da cidade.

Os blocos se multiplicaram e fizeram a diferença.

As redes sociais também foram decisivas para este novo carnaval. Através de sites de relacionamentos e blogs os paulistanos puderam acompanhar em tempo real a programação de eventos para seguir e curtir o bloco preferido, compartilhar suas experiências e também cutucar as suas paqueras.

E os blocos tem tudo a ver com São Paulo, prometem ser mesmo o futuro do carnaval paulistano.

Enquanto as Escolas de Samba representam na maioria das vezes uma região geográfica da cidade, e tem seus discursos ligados à sua comunidade local, os blocos estão fundamentados nos interesses comuns.

Em São Paulo, as pessoas não tem suas vidas necessariamente ligadas ao cotidiano de seus bairros. Aliás, muitos sequer sabem o nome de seus vizinhos.

Muitos estranham este modo de vida do paulistano. Quem vem de fora interpreta isso como frieza e indiferença.

Mas na verdade as pessoas tem seus núcleos de convivência principalmente regulados pelos interesses compartilhados e afinidades.

A internet facilitou demais estes encontros, pois as comunidades estão conectadas e aproximadas, ainda que seus indivíduos estejam distantes geograficamente.

A melhor novidade de todas não foi o carnaval em si mesmo. Mas ver o paulistano se apropriando do espaço público.

Em outras cidades brasileiras não seria novidade ver as pessoas nas ruas e praças se divertindo ao ar livre. Mas em São Paulo isso infelizmente ainda é incomum.

Normalmente as pessoas procuram bares, restaurantes, clubes e shoppings.

Falta reverter a "velhocracia" paulistana que ainda vê qualquer tipo de agito, ocupação pública e diversão como ameaças ao bem estar do "cidadão médio". Este, não deseja distúrbios e se incomoda muito com a felicidade alheia, pois induz que ele necessariamente esteja triste e com a coragem de alguns, que ameaça revelar uma insuportável covardia geral.

Se a diversão ainda é desnecessária e ameaçadora, vamos pensar no ponto de vista econômico. Quantos milhões de reais não escorrem pelas estradas e aeroportos quando os paulistanos viajam para destinos mais atrativos durante o carnaval? E quantos reais não poderiam ficar em São Paulo, caso uma parcela destas pessoas escolherem permanecer na cidade?

O carnaval de São Paulo foi muito gostoso e cheio de estilo.

E boas lições podem ser tiradas a partir desta experiência bem sucedida de eventos públicos x redes sociais. Como sistemas inteligentes de transporte coletivo, utilizando as redes como ferramenta de divulgação e organização de novas rotas e veículos.

Um prefeito nada pode fazer para modificar a conjuntura macroeconômica. A alta dos preços é um problema dramático para quem vive nesta cidade tão cara.

Mas os eventos públicos e festivais de música e gastronomia, quando bem organizados, podem aumentar a oferta de atracões e reduzir os preços muitas vezes abusivos na cidade São Paulo. Isso diminui o custo de vida numa grande cidade, além de fomentar novas cadeias produtivas.

Serviços públicos de qualidade tornam a vida das pessoas mais barata e pacificam os conflitos.

O primeiro passo já foi dado pelos cidadãos. Os paulistanos dão mostras claras que esperam viver em uma cidade mais humana.

Esta nova geração está livre dos traumas do passado dos retirantes e imigrantes que aqui chegaram fugindo da fome, das guerras, da pobreza e da seca.

Obviamente, tem seus próprios traumas e injustiças, mas querem muito mais do que uma cidade cinza e neurótica para se penitenciarem em escritórios e chãos de fábrica.

As pessoas estão saindo às ruas e isso não é pouca coisa. Uma revolução está em curso. Não adianta represar este movimento.

As águas vão rolar!


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Lei Seca sem transporte público = Apartheid

O endurecimento dos critérios para impedir que os motoristas brasileiros dirijam após terem consumido álcool, ainda que em pequenas quantidades deve sim ser apoiado pela sociedade.

Os acidentes de trânsito se converteram num flagelo brasileiro. Milhares de pessoas morrem todos os anos, com números assustadores, superiores aos de muitas guerras pelo mundo.

Muitas famílias brasileiras perderam entes ou amigos queridos por conta dos desastres nas ruas e estradas brasileiras. A mistura de álcool e direção é um dos fatores que mais contribuem para estas tragédias.

Os políticos perceberam que este é um tema muito sensível à sociedade brasileira.

Na impossibilidade, incapacidade ou desinteresse de melhorar as condições infraestruturais da malha viária brasileira, as políticas públicas coercitivas parecem alcançar resultados mais rápidos e eficazes. Aumentam a arrecadação dos cofres públicos e divide com o cidadão a responsabilidade na melhoria dos índices de traumas e mortes em acidentes de trânsito.

Uma verdadeira cruzada do poder público, da mídia e da sociedade civil converteu a questão em "tolerância zero".

Fica muito difícil propor reflexões e estabelecer debates sobre o tema, pois as paixões estão inflamadas e qualquer discussão técnica sobre a questão pode condenar os dissidentes ímpios a uma espécie de fogueira santa.

Muitos se transformaram em sacerdotes seguros de si quando o tema é a Lei Seca.

Durante o carnaval, até mesmo o Governador de São Paulo vestiu o colete fluorescente e liderou a blitz policial.

Ta tudo muito bem. Não sou eu que vou questionar a importância destas iniciativas.

Mas uma pergunta fica no ar.

Se os governos tem sido extremamente eficientes na apreensão de veículos e prisão de motoristas infratores, qual política pública esta sendo proposta para oferecer alternativas ao cidadão que deixa seu carro em casa para se divertir a noite?

Muitos desejariam que as pessoas ficassem em casa, não se apropriassem do espaço público, concentrassem suas energias para o trabalho e renunciassem à convivência social.

Transporte público nas grandes cidades brasileiras parece ser um direito apenas para que os indivíduos se desloquem na ida e na volta do trabalho.

E olhe lá, porque na maioria das vezes os ônibus são latas de sardinha, desconfortáveis e precárias.

Aos fins de semana, quando a oferta de transporte poderia ser mantida, possibilitando uma viagem mais confortável ao cidadão, os ônibus simplesmente desaparecem.

Ano passado, fiquei sem carro durante um bom período.

Um passeio simples com minha filha se tornou uma tarefa das mais difíceis.

Utilizar os taxis exige muito dinheiro porque para se deslocar dos bairros para a região central, onde estão os principais "aparelhos" da cidade, gasta-se muitas dezenas de reais.

Anos atrás, os automóveis eram coisa de gente rica.

Nos dias de hoje, por incrível que pareça, os carros e motos são itens de primeira necessidade principalmente para os pobres. Sobretudo os que vivem nas periferias.

Em São Paulo, o transporte público funciona predominantemente em horário comercial. Fora isso, quem precisa cruzar a cidade deve manter um carro, nem que seja um "pau velho" parcelado em infinitas prestações.

É muito fácil fazer propaganda e dizer para as pessoas deixarem o carro em casa quando forem a uma festa, show ou balada.

Mas quais alternativas estão sendo oferecidas para que o cidadão deixe seu carro em casa?
Nas madrugadas de São Paulo não existem ônibus nem Metrô.

Os grandes eventos e casas noturnas estão concentrados predominantemente da região central da cidade.

A periferia padece sem alternativas de cultura e lazer.

Aos pobres estão permitidos apenas os botecos de esquina com mesa de sinuca. Violência e diversão se confundem. Sem cultura e educação, os indivíduos estão marginalizados da cena dos grandes eventos de São Paulo. Alguns se limitam a uma disputa estúpida de personalidades em uma mórbida competição de "orgulho macho" onde a noite começa no boteco e muitas vezes termina no hospital ou no necrotério.

E não se trata apenas de gerar eventos culturais na periferia. Ora, as pessoas querem ocupar a cidade. Visitar seus pontos turísticos. Gozar a vida na paulicéia desvairada. Apropriarem-se dos espaços públicos.

O sono dos conformados parece estar garantido caso as pessoas deixem de sair para procurar diversão.

Mas se as ações da Lei Seca devem ser aplaudidas, devemos também denunciar o apartheid a que estão submetidos os paulistanos que vivem nos bairros mais distantes.

Sim, porque quem mora nos bairros centrais gasta muito menos com taxi do que aqueles que precisam cruzar quilômetros pelas avenidas de São Paulo.

E aos que consideram exagero falar em apartheid, devem olhar com mais atenção como foi construído o regime de separação na África do Sul.

Foram construídas cidades e bairros para os brancos e outros para os negros. A diferença é que no bairro dos negros simplesmente não havia transporte que ligasse este espaço às regiões exclusivas dos brancos. Não haviam muros nem cercas. Simplesmente não havia transporte.

Estão todos muito satisfeitos com o rigor da Lei Seca, mas sem investimentos equivalentes em transporte público noturno este discurso não passa de hipocrisia e exclusão!


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Breve comentário

Com instituições ainda precárias e fragilizadas e com baixíssimos níveis de acesso à justiça, cultura e educação, sobretudo na população mais pobre, não chega a ser surpreendente que as igrejas ocupem excessiva importância na regulação das relações e interesses dos indivíduos, inclusive como formuladora de opinião e "mediadora" de tarefas que seriam prioritariamente do Estado. 

Mas isso serve também para os grandes meios de comunicação, que prometem um outro tipo de "céu" hedonista. 

Iludem, enganam, exigem obediência, condenam ao inferno e defendem seus interesses corporativos.


Eu luto por um Estado laico. Porém, espero também que esta nação seja soberana e independente.

O Estado não pode ser refém do obsucarantismo religioso, mas também não deve obediência às forças ocultas da oligarquia.

Por isso, nossa luta não deve ser contra nenhuma igreja. Ao contrário, as convicções religiosas devem ser direito dos indivíduos.

O grande desafio é construir uma nação mais justa, com instituições mais sólidas e fortalecidas. Que o Estado prepare e proteja seus indivíduos para que eles sejam portadores de direitos e obviamente de deveres, independente do credo, raça e também da orientação sexual.

Justiça para todos.


Isso inclui mais educação para os Brasileiros!


Aí sim seremos verdadeiramente livres.