sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Xenofobia Seletiva





Engraçado, até outro dia os brasileiros eram barrados com acesso restrito aos países europeus.

Agora, presidentes como o francês François Hollande nos visitam para assinar tratados de cooperação nos "autorizando" a viajar por mais tempo, estudar e trabalhar na França.

Os brasileiros ficam todos alegres e orgulhosos por finalmente serem reconhecidos por gente tão chique.

Acontece que com isso os Franceses também podem exportar seu excedente de desempregados bem preparados para competir em diversos setores econômicos aqui do Brasil. Sim! Colocando em risco o "seu" emprego.

Seria curioso se, igual ocorre na França, tivéssemos aqui lideres e movimentos xenofóbicos que exigissem a expulsão dos imigrantes que aqui estão para se beneficiar da nossa pujança econômica e concorrer no mercado de trabalho.

Mas fiquem todos tranqüilos. A xenofobia dos brasileiros é absolutamente seletiva.

Franceses, espanhóis, ingleses, portugueses, alemães e demais povos brancos fiquem a vontade para concorrer.

Aliás, seria uma "honra" perder seu emprego para um europeu ocidental.









Problema mesmo são os médicos cubanos. Esses sim devem ser varridos do mapa. Doutores com cara de pedreiro e empregada domestica, como disseram certa vez.

Brasileiros, o presidente Francês nos trouxe as boas novas. Agora fomos aceitos. Em troca também poderemos viajar por mais tempo para a França, gastar milhões de euros nas suas lojas, salvar a economia deles e de quebra tentar descolar um bico em alguma lanchonete barata. Mas isso seria mais difícil, porque eles estão cheio daquelas coisas de "pais subdesenvolvido": sindicato forte e políticas protecionistas

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Hipocrisia dos Presidentes dos Países Ricos no Funeral de Mandela

Agora os lideres mundiais se travestem de bons meninos. 

Mas se fossem minimamente honestos, a maioria deles deveria pedir perdão de joelhos pelo apoio ao Apartheid.

A musa inspiradora dos neoliberais Margareth Tchatcher dizia que Nelson Mandela era um terrorista. Reagan fazia coro.

Estados europeus patrocinavam o regime de separação. Aliás, os europeus deveriam gritar em alto e bom som que pedem desculpas pelos séculos de escravidão dos negros. Também pela exploração imperialista que desgraça as nações do continente africano. 

Os lideres dos países ricos que queiram homenagear efetivamente Mandela, deveriam deixar de gastar os trilhões de dólares para salvar banqueiros e especuladores e fazer um esforço conjunto para acabar com a fome. Deveriam quebrar as patentes de seus laboratórios para tratar com dignidade os doentes de AIDS na África.

Agora eles homenageiam Mandela. Mas homenageiam pelos motivos que são mais convenientes para eles. Aplaudem Mandela por ter sido conciliador e não ter colocado - como poderia - toda a corja racista no paredão ou na guilhotina. Aplaudem Mandela justamente porque esta elite MORRE DE MEDO DO POVO. Porque sabem que as populações pobres do mundo podem sim tomar o poder e este é o pesadelo de todo escravocrata e imperialista.

Mandela agiu com absoluta inteligência política diante das circunstancias que estavam impostas. Não foi cretino como seus algozes. As homenagens que ele recebe de seu povo certamente são muito mais sincera do que a cara de pau de alguns Chefes de Estados "libertários"

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Porque eu conto os dias para a Copa do Mundo.



Estou ansioso para ver a Copa do Mundo.

Feliz da vida em assistir pela primeira vez (e talvez a última) um mundial no meu país. Receber meus amigos estrangeiros na minha casa.

Amigos que conheci nas lindas viagens que a vida me permitiu.
Receber bem e com educação os turistas.Da mesma forma que os brasileiros são recebidos quando viajam.

Amo futebol como poucas coisas na vida. Vai ser muito legal. Vou farrear com a galera de todas as culturas pelas ruas e na medida do possível levá-los em locais bacanas.

Meu país é bom e gostoso pra car**ho. E não dou menor bola pros moralistas de plantão que fingem preocupação com a probidade enquanto as grandes injustiças devastadoras passam batido causando indiferença.

Passo longe daqueles que sentem vergonha das nossas favelas, mas não querem acabar com a pobreza e exigem que os pobres permaneçam como escravos.

Os ressentidos que não podem esconder tanta "sujeira" debaixo do tapete.

Em geral esse discurso de que o futebol, a copa, o samba e o carnaval alienam o povo é coisa de reacionário frustrado.

A alegria do carnaval, a poesia do samba, a sexualidade da nossa dança, a criatividade do nosso futebol, são todas faces da resistência de um povo insubordinado aos seus colonizadores.

As castas mais ricas da nossa sociedade não produzem nada. Não criam nada. Não tem cultura. E vivem ressentidas e morrendo de vergonha de não terem nascido na Europa ou nos Estados Unidos.

A potência criativa do Brasil vem do povão.

Depois a indústria cultural e os interesses corporativos arrumam um jeito de incorporar e corromper as expressões mais ricas da nossa gente. Transformam e corrompem tudo em algum produto vulgar e revendem com alguma etiqueta de grife.

Mas ninguém vai roubar nosso sorriso. Ninguém vai tirar o meu tesão em curtir demais a Copa do Mundo.
Ainda que eu não consiga ingresso para nenhum jogo, eu vou ficar na praça, na rua, no boteco, na praia.
Conhecendo gente do mundo todo. Tomando meus porres. E curtindo esse grande momento, que vai ser muito legal.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mandela foi muito mais que um líder pacifista. Foi um revolucionário para seu povo. Para os escravocratas um terrorista


Nelson Mandela é um dos homens mais importantes da nossa história.

Um líder com imensas qualidades pessoais e políticas que certamente foi decisivo nas transformações históricas de seu tempo.

Venceu inimigos terríveis que fizeram de tudo para destruí-lo.

As forças opressivas, racistas e escravocratas não puderam apagar sua figura e sua importância para o povo negro da África do Sul. Ainda que tenham trancado Mandela numa cadeia por 30 anos.

Também não puderam impedir que Mandela liderasse, ainda que encarcerado, a luta pelo fim do apartheid.

Mandela foi eleito presidente da África do Sul, ainda que as malignas forças do imperialismo esperassem o fracasso de seu governo e apostassem numa guerra civil que deixasse o país destruído e que "comprovasse" a incapacidade do povo negro dirigir o seu próprio país.

Mandela liderou um governo de conciliação e unificação nacional. Com a força de sua figura, apostou no futuro da África do Sul e colocou o país na rota do desenvolvimento, posicionando sua nação no cenário mundial entre os países emergentes, com infinitas possibilidades para o futuro.

Não usou o mesmo expediente do ódio para se vingar de seus opressores. Governou com a cabeça. Com imensa inteligência política, espírito público, grandeza, autoridade e sabedoria.

Na impossibilidade de derrotar Nelson Mandela durante o último século, a elite internacional tenta desqualificá-lo, transformando-o num singelo líder pacifista, com contornos de guru espiritual.

A verdade é que Mandela foi muito mais que isso.

Mandela lutou sim pela paz e pela justiça, mas como um verdadeiro revolucionário, capaz de enfrentar com coragem e audácia as forças opressoras.

Os mesmos que aplaudem cinicamente a força de Mandela são aqueles que o colocaram na cadeia. Que bradavam na televisão dizendo que Mandela seria um terrorista.

Sim. Os mesmos que tratam Mandela como um pacifista, acusaram este grande líder como terrorista.

A grandeza de Mandela ao chegar ao poder e as necessidades e desafios que estavam postos naquela ocasião, não podem esconder a derrota que os imperialistas sofreram na África do Sul que não foi de outra forma, senão pela força do povo negro Sul Africano.

Claro que a elite procura desencorajar os lideres populares a buscarem justiça e reparação. A burguesia pode não temer a Deus, mas certamente teme a guilhotina.

Neste cenário, os conciliadores são festejados a cada momento.

Imediatamente depois de escravizar, de roubar, de mentir e de extorquir, o que os poderosos mais clamam é pela "unidade" e congregação.

Fazem de tudo para que Mandela converta sua biografia vitoriosa num líder ingênuo que oferecia invariavelmente a outra face.

E tudo que os escravocratas do mundo mais temem é a força que emana do povo. A capacidade que tem as populações de derrotarem qualquer inimigo, por maior que eles sejam.

    

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Arrogância e Violência de Barbosa preservam a biografia de José Genoino

  




O episódio do "mensalão" deve ainda ser muito analisado por esta e pelas futuras gerações com farto conteúdo para estudos sob o ponto de vista jurídico, político, sociológico, cultural, etc.

A ocasião que foi ganhando massa ao sabor dos próprios acontecimentos, desde o inicio se converteu em uma gigantesca oportunidade política para os opositores do governo liderado pelo Partido dos Trabalhadores.

Se os setores políticos mais conservadores salivavam com o prato cheio que surgia à mesa, a própria esquerda - incluindo principalmente o PT - não soube na ocasião dimensionar a extensão do que acabava de ocorrer.

O debate merecia muita atenção, pois colocava em questão a fronteira ou convergência  entre corrupção, chantagem, construção de maioria politica, desvio de recursos públicos utilização de caixa dois, compra de apoio político, financiamento de campanha.
 
Tudo era discutido sem muito cuidado e quase ninguém se arriscou a refletir sobre onde começa a corrupção e onde ela desemboca. Pensar o histórico conflito na relação entre os privado e o publico no Brasil.

Existiam tarefas políticas em curso. Acreditava-se estar colocando a pá-de-cal no ainda recente Governo Lula que ainda não tivera tempo de cumprir a parte principal de seu legado político.

O fato é que no frigir do show midiático que cercou o evento, tanto a oposição como alguns setores que apoiavam o Governo fizeram cálculos políticos equivocados.

A oposição acreditava que Lula estava aniquilado politicamente e concentrou-se na guerra interna pela indicação do presidenciável do PSDB. Geraldo Alckmin fez valer a força do Palácio dos Bandeirantes para garantir sua candidatura.

Mas muitos quadros da esquerda também se precipitaram. Alguns se encolheram, outros abandonam o barco. Uma parte destes políticos se converteu em bobos da corte, incorporando o estereotipo de esquerdista arrependido nos cenários televisivos. Até hoje alguns deles permanecem fazendo papel de imbecis infantilóides como se não tivessem saído do transe dos anos sessenta e setenta.

Foram poucos os que tiveram coragem de defender suas posições políticas.

O espirito era de Inquisição. A imprensa cobrava inclusive o "silencio dos intelectuais". A ordem era aniquilar a esquerda.

Mais uma vez, entre tantas outras, o Presidente Lula foi subestimado. Imaginava-se que com a esquerda na parede, o governo estaria seqüestrado pelos setores mais conservadores,

O resto da história todo mundo conhece. Lula soube reconstruir sua base de apoio, aprofundou as bases do lulismo, aproveitou-se da incapacidade da direita em organizar seu discurso político para além do moralismo barato, venceu as eleições de 2006 mudando o mapa político do Brasil e elegendo posteriormente sua sucessora.

Muitos surfaram nas boas ondas da restauração econômica e pegaram jacaré na marolinha da crise mundial.

Os políticos mais inesperados juraram amor eterno ao presidente Lula no alto de sua popularidade de 80%.

Mas foram muito poucos, porém gloriosos, que arriscaram perder a popularidade pega de carona em defesa de quem ficou ferido em 2005. 

O episódio havia sido superado. Sua tarefa política havia sido cumprida, pelo menos até que novas demandas surgissem.

José Dirceu e José Genoino, duas das maiores figuras da esquerda brasileira, ainda que mantivessem o apoio e respeito de seus correligionários (e até mesmo de muitos detratores) estavam amaldiçoados.

Eram o prato predileto dos reacionários imberbes da televisão que não faziam questão nenhuma de superar sua ignorância histórica e preferiam - como bons yuppies - rebolarem a dança que fosse necessária para agradar o humor de seus patrões.

Mais do que qualquer senso de justiça, estava em jogo o ressentimento social. Era preciso se vingar das duas grandes figuras do petismo que ousaram instaurar uma república sindical no Brasil.

Mais do que a corrupção, incomodava a subversão de classes.

Dirceu é homem de guerra, com personalidade confrontativa e com reconhecida coragem pessoal. Sabia (e sabe) exatamente por que e por quem estava sendo julgado.

Igualmente corajoso, Genoino suportou o linchamento.

Elegeu-se novamente como Deputado chegando a quase cem mil votos de eleitores que escolheram seu nome, mesmo com a contra-informação e o constrangimento da velha mídia.

Sim, Genoino sofreu. Eu mesmo tive a oportunidade de conversar com ele em algumas ocasiões. Foi generoso em me contar muitas de suas experiências de vida. 

Genoino foi preso durante a ditadura. Foi torturado e ameaçado. Mas no fundo, sabia exatamente porque estava sendo preso. Não poderia se ressentir. Cumpria a consequência de suas escolhas históricas. Foi preso como guerrilheiro, porque efetivamente, durante dado momento, concordou em sê-lo.

Mas ser preso como corrupto era um castigo que ele não merecia. Porque efetivamente isso ele nunca foi.

Não é necessário que eu gaste muitas linhas para dizer o que muitas reportagens de blogs independentes e até mesmo da mídia tradicional vem dizendo a algum tempo.

Genoino é um homem sem posses. Com uma vida modesta, até mesmo abaixo do padrão salarial de um Deputado Federal. Trata-se de um grande brasileiro. Honesto, aguerrido e patriota.
Sim, eu disse patriota. Palavra fora de moda? Mas Genoino é um dos pouquíssimos políticos deste país e quase único parlamentar que se dedica a temática da segurança nacional.

Nacionalismo pode ser coisa de direita na Europa ou nos EUA. Mas aqui na América Latina, onde nossas elites perversas se dedicaram à tarefa histórica de entregar todas as nossas riquezas aos colonizadores e imperialistas, o nacionalismo é sim uma bandeira da esquerda. Pra direita brasileira, nem é necessária a discussão sobre segurança nacional. Precisa de um Deputado como Genoino pra iluminar esta questão tão obscura em nossa história.

Se muitos políticos, inclusive alguns da esquerda, não foram devidamente eloqüentes em defender Genoino até sua condenação, após o abuso e arrogância do Presidente do STF Joaquim Barbosa, diversos setores da sociedade se manifestaram em defesa de Genoino que há poucos meses escapou da morte, ficando internado durante um mês.

A postura revanchista e hipócrita da direita nacional, tentando vender a imagem de que se construía um Brasil mais justo com a prisão de Dirceu e de Genoino, mobilizou e unificou os setores mais progressistas.

Intelectuais, blogueiros, políticos, militantes, jornalistas.

São muitos os que se manifestam em defesa também de Dirceu, mas solidários com a situação de Genoino que corre sério risco de vida.

A arrogância, violência e oportunismo de Joaquim Barbosa só fez por restaurar a biografia política de José Genoino.

Se antes a confusão estabelecida pelo circo insano do processo do "mensalão" havia causado danos ao velho Genoino, a voracidade dos chacais direitistas resgatou o papel histórico deste grande brasileiro.

Isso também serve para José Dirceu. A cada dia de injustiça sua figura política só aumenta de importância.

Neste post me concentrei mais na figura de Genoino principalmente pelo momento delicado que ele atravessa e pela oportunidade que tive de conhecer este político espetacular.

Sociólogos, marqueteiros, publicitários, cientistas políticos, jornalistas, psicólogos, etc. Todos tentam entender de alguma forma a maneira muito particular que o povo tem de interpretar a realidade. Todos eles colecionam insucessos em maior ou menor grau.

Mas é possível dizer que estas prisões do "mensalão" podem ter o efeito contrário do esperado.

A prisão de Genoino não transmite a sensação de um pais mais justo, ao contrario, reforça a injustiça histórica em que só estão vulneráveis à punição os pobres desse pais.

Com tantos fraudadores, especuladores, golpistas, sonegadores, estelionatários, corruptos e charlatões. Todos eles muito ricos. Prenderam justamente o político pobre que estava na rota de colisão da elite nacional.
Mas é bom que se diga: abriram a caixa de Pandora.

Não é à toa que muitos órgãos de imprensa agora tiram o pé.

Amanhã há de ser outro dia e pela mesma porta que foram presos o Genoino e o Dirceu podem e devem entrar os verdadeiros e gigantes corruptos do Brasil.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

De Blasio e a "última tendência de Nova Iorque".






Nova Iorque elege Bill de Blásio, político acusado de socialista pela direita Estadunidense.


Ele condena a concentração de renda nos Estados Unidos, é a favor do aumento de impostos para os mais ricos em favor de programas sociais e serviços públicos para os mais pobres.


Defende modificar a ação da policia contra a população negra e latina em NY. É casado com uma mulher negra e orgulha-se dos filhos frutos da sua relação interracial.

Os conservadores brasileiros não vivem dizendo que "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil"?


Não voltam de suas viagens encantados com as novidades de New York?


Então talvez esta seja uma ótima oportunidade pra perceber que justiça social e distribuição de renda não são somente coisa de comunista.


Se os americanos gostam, tá liberado pra vocês gostarem também.


Quem sabe essa eleição de Nova Iorque não agregue valor para o nosso eleitorado conservador local?

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Brasil Escravocrata é o País dos Camarotes Vip's






Surpresa nenhuma com o tal Rei Tardado.


O Brasil é efetivamente o país dos camarotes Vip's.


Bom seria se os camarotes fossem restritos às baladas.


Dessa forma, nada mais aconteceria que não as patéticas confrarias de babacas inseguros em busca de reconhecimento e afirmação.


Triste mesmo é saber que os Camarotes Vip's estão nas Universidades, nos Hospitais, nos serviços públicos, nas Igrejas, no acesso à Justiça, nas cadeias, nas praias e até nas redes sociais, na atitude daqueles que fogem da "orkutização" e querem apenas se ver cercados de "gente bonita".


Este país detesta a igualdade, mas também odeia as diferenças. 


Tal qual na obra do Professor Roberto da Matta, permanecemos o país do "sabe com quem está falando?" e a convivência nos espaços públicos são marcadas pela tensão na negociação entre os iguais e os desiguais. 


Os espaços públicos, sendo o local de todos, configuram-se como um território de ninguém. Torna-se preciso privatizar os espaços. Hierarquizá-los tais quais as nossas experiências mais íntimas. E aí sim, no ambiente privado, o "dono" pode ser gentil e amistoso, tratando os seus com reverência e consideração. 



Continuamos sendo uma nação de escravocratas. A desigualdade já compõe a vida mental dos brasileiros. 


Tá "todo mundo" disposto a abrir as pernas no banheiro da "balada social" em troca de uma pulseirinha VIP. 


Pra ficar cercado no camarote da sociedade e sorrindo com escárnio diante da exclusão.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Elogio ao amor vagabundo



Saudemos aqueles que amam demais.
Que se desperdiçam pelas esquinas transpirando paixão.
São nobres os que não fazem contas na hora de amar. 
Que não puxam o extrato para verificar o saldo e saber se mais amou ou se mais foi amado. Se mais recebeu ou se mais foi doado.
Bem aventurados os despudorados. 
Aqueles que exibem seus corpos deliciosamente. Que não escondem a pele, a barriga, os pelos, as marcas colecionadas ao longo da vida. 
Que não sentem vergonha de tudo aquilo que nos torna humanos. 
Parabéns aos otimistas. Os generosos que enxergam o melhor na natureza do outro. Aqueles que miram o charme ao invés do defeito. 
Saudações aos que desprezam a soberba. Que não se crêem os mais belos dos belos. Os que não estão com o copo totalmente cheio. Que não perdem a capacidade de regozijar por alguém que habita além de seu espelho.
Graças aos desmoralizados. Aos que queimam na inquisição social por não aceitarem o controle, o pragmatismo, a moral e as normas de conduta.
Felicitações aos fodidos de tanta paixão. 
Que se abrem feito mala velha e se arriscam em nome do amor, já que há tempos prevalece a ferrugem nos sorrisos e nem os santos tem ao certo a medida da maldade.
Dedico um cálice de saliva aos que não se perdem em nojos tolos. Aos que não precisam de perfumes nem cremes. 
Aqueles que suam. Os que olham no fundo dos olhos e vão no fundo do corpo, no fundo da alma e transbordam.
No mundo da auto-ajuda, premiemos aqueles que se ajudam mutuamente.
Na era do consumismo, felizes daqueles que preferem as pessoas às mercadorias, ainda que homens e mulheres não tenham garantia contra defeitos originais.
Se acaso for verdade que chegamos ao fim da história, preservemos os seres humanos que ainda mantém um acréscimo de desejo e se renovam em novas e velhas histórias de amor.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

As Escolhas Históricas que o Corinthians deve Fazer.


O Corinthians tem perdido seus últimos jogos. Não faz gols há um zilhão de anos. Algumas contratações não deram certo. Outras ainda não despertaram.
Desde que o Corinthians se converteu em Campeão do Mundo - e seu esquema tático passou a ser estudado pelos principais (e também “não principais”) analistas de futebol nacionais e internacionais como um “case” de sucesso - o técnico Tite parece ser incapaz de se atualizar e apresentar variações táticas capazes de surpreender os adversários.
Apresenta-se para os Corinthianos o fim de um ciclo, e necessariamente o começo de outro. Alguns jogadores sentem nas pernas o peso da idade, ou o peso do bolso parece limitar maiores ambições do que as anteriormente conquistadas. Falta desejo. Falta o “encanto”.
Este “encanto” parece ser algo muito subjetivo para os profissionais planilheiros e tecnocratas de um futebol cada dia mais pragmático.
Porém, é necessário dizer que esse time que se converteu em campeão do mundo jamais se configurou como um súper time.
Houve um pacto coletivo entre o departamento de futebol e comunidade corinthiana, objetivando a conquista da Copa Libertadores e o triunfo no Japão. A expectativa geral de um feito histórico motivou os jogadores.
Era um time muito querido. Jogadores de sucesso no mundo da bola, porém que não foram verdadeiros ídolos em lugar nenhum. A maioria deles com considerável “rodagem”. Ainda que não fossem craques, eram os chamados jogadores de “jogo difícil”. Gostavam de partidas grandes. Sabiam decidir.
Foi um momento ímpar em nossa história, que para sempre será recordado.
Mas, como disse anteriormente, este time dependia desse “encanto” que também não é uma coisa só. É muito difícil de explicar em poucas palavras. O fato é que este “encanto”, como não poderia deixar de ser, haveria de acabar em algum momento. E acabou! Talvez tenhamos ainda alguns lampejos, mas estão mais para instantes de contemplação, do que um projeto futuro estável.
Mas o que se percebe, é que embora a “crise” de esgotamento deste elenco atormente os torcedores do Corinthians, não é a seqüência de jogos que preocupa verdadeiramente a comunidade.
A verdade é que estamos diante de grandes escolhas históricas daqui por diante.
A “crise” em si, é coisa do mundo da bola. Acontece de tempos em tempos. Nada desesperador, principalmente para o torcedor conrinthiano que projeta no clube uma representação fantástica da vida, com época de vacas gordas e também de vacas magras. Até que o Corinthians em crise fica muito mais próximo de quem a gente é de verdade.
Não somos colecionadores compulsivos de campeonatos.
O que diferencia o Corinthians das outras equipes é que mais do que títulos e esquadrões, o que encanta é a experiência de ser corinthiano. Isso sim é definitivo.
Logo, a crise no âmbito do futebol não é tão complicada. Isso se resolve.
O que preocupa mesmo é a crise nesta “experiência” de ser corinthiano.
Vou tentar ser mais preciso a diante.
O Corinthians é o Time do Povo. Não é o Time do Pop.
A chegada de Ronaldo, quatro anos atrás, foi uma verdadeira revolução no Corinthians.
Havia um consenso quanto ao infinito potencial do Corinthians no mundo dos negócios. Ser bem sucedido no “mercado da bola” seria fundamental para a realização de grandes sonhos esperados em nossa história. Sonhos que sonhamos desde o início de nossos dias. Uma realização que alguns especulavam como impossível de se concretizar.
Quando Ronaldo, o jogador mais espetacular e bem sucedido do futebol moderno escolheu o Corinthians para jogar, como forma de restaurar a sua imagem, concluir com sucesso a sua carreira e também ganhar muito dinheiro, houve um efeito decisivo na maneira como o Corinthians passou a ser visto pelos profissionais e investidores do futebol.
No passado, tivemos “pernas de pau” que passaram pelo Corinthians sem condições de reconhecer as possibilidades que se abriam e agindo com indiferença diante deste monstro chamado Corinthians, Depois de Ronaldo, nenhum outro jogador pôde deixar de reconhecer esta oportunidade.
Este foi o maior legado do Fenômeno.
As portas se abriram. O futebol no Brasil se profissionalizou ainda mais. Abriu-se a oportunidade para que os clubes negociassem mais do que jogadores, mas o valor de suas marcas.
E o Corinthians deslanchou.
Foi tudo tão rápido.
Não nos falta nenhum campeonato, nem Centro de Treinamento e agora nem estádio.
Todos os nossos “complexos” foram enterrados.
Olhamos para o futuro e sentimos certo temor, pois não nos reconhecemos totalmente.
A demanda por ingressos dos jogos aumentou muito nos últimos anos. O time vencia e a oferta era restrita para tanta paixão.
Voltemos à questão da experiência. Para o corinthiano, não basta o time vencer. Desde que nos entendemos por gente, nós queremos mesmo é viver o Corinthians. Estar com o Corinthians. Participar da história do Corinthians. Viver em comunidade. Compartilhar o Corinthians com os nossos irmãos. Exercitar a solidariedade tão característica entre os Corinthianos.
Mas a oferta restrita diante da demanda provocou um processo gradual de exclusão de torcedores apaixonados que cada dia mais foram “distanciados” dos estádios.
Não há nada que exista no Corinthians que não exista no conjunto da sociedade.
E o que dói no peito do Corinthiano, mas do que as derrotas no campo é a Exclusão Social.
Como quem pode mais chora menos, os torcedores mais pobres assistem um Corinthians próspero, mas gradativamente inalcançável.
E talvez, estes torcedores mais pobres sejam aqueles que mais sofrem com esta exclusão, pois o Corinthians era algo que compensava tantas outras perdas. A oportunidade de experimentar algo fantástico. A porta de entrada para a história, para a vida social e para a cultura popular foi de repente batida na cara do povo pobre.
Se a injustiça social é a principal causa da violência urbana que fere a alma de tantos brasileiros no dia-a-dia, o afastamento do torcedor pobre tem causado o “insolidarismo” entre os Corinthianos.
Neste momento, os torcedores apontam os dedos na cara uns dos outros, como que cobrando pela ruptura de um Corinthians que pouco a pouco vai se transformando.
Prova disso foi a mágoa de muitos torcedores que não puderam participar da Festa de Aniversário do Corinthians no último final de semana.
Esta festa que deveria mesmo ser encarada como um evento corporativo, que ocorre todos os anos nas grandes empresas, causou certa confusão.
Repetindo, não há nada no Corinthians que não exista no conjunto da sociedade. Simplesmente porque o Corinthians não está fora desta sociedade, igualmente, é parte integrante desta. Tudo bem, talvez a melhor parte. Mas é parte do todo. E a política continua se fazendo com as mesmas ferramentas de sempre.
O novo estádio de Itaquera é realmente fantástico. Impactante. Certamente será decisivo na construção de um “novo tipo de torcedor”. O ambiente será determinante para o jeito corinhiano de torcer. Não adianta fechar os olhos. Ainda bem que este estádio foi construído em Itaquera.
Se todos lamentamos as injustiças. Se por vezes denunciamos o descaso com o torcedor nos estádios de futebol, não devemos então relutar ao imaginar o nosso povo desfrutando um espaço confortável e bonito para exercer a antiga paixão.
Se sonhamos com bairros melhores, com infraestrutura urbana, esporte, lazer e educação, não tem porque deixar de desejar que nosso torcedor possa frequentar um lugar tão bonito e bacana.
Trata-se apenas de pensar para quem este Corinthians continuará existindo.
Assim como não adianta a gente lamentar a riqueza ou o crescimento do Brasil, trata-se também de discutir como essa riqueza será distribuída para o bem-estar social dos nossos cidadãos.
Estamos diante das mais importantes escolhas históricas e os torcedores devem sim agarrar pelas unhas o Corinthians que aprendeu a amar.
O Corinthians sabe de seu infinito potencial para num futuro próximo lutar de igual para igual com as grandes potencias do futebol mundial.
Sabe também que para que isso ocorra é preciso muito dinheiro e eficiência.
Mas talvez, os principais artífices desta reforma na gestão do Corinthians não tenham ainda entendido o que realmente a fiel torcida ambiciona.
Queremos sim vencer. Confirmar o potencial de nosso povo para as conquistas. No futebol e pedagogicamente para além dele. Mas não queremos um Corinthians inalcançável para nossa gente.

O período em que nossa torcida mais cresceu, foi coincidentemente no período em que ficamos décadas sem um título sequer. Santos e Palmeiras eram os clubes paulistas que estavam entre os grandes do futebol nacional. Ainda sim crescemos mais.
Por que seria? O povo gosta de sofrer? Hoje tudo é muito diferente?
Nada disso. A questão era a identidade social. A maneira como o Corinthians jogava era a mesma maneira como a vida de seu povo era vivida. O time dos pobres, retirantes, imigrantes, favelados era o Coringão no Nosso Coração, o Bão!
Esse povo lutou e continua lutando. Vencendo obstáculos. E não vai deixar de vencê-los.
Não temos perder nossa conexão com a vida social da nossa gente.
Se agora temos uma melhor condição econômica. Que bom! Isso não deveria ser um problema. Mas devemos tomar uma decisão definitiva para o futuro. Manter o Corinthians próximo da realidade de seu povo.
Não importa que a gente não vença todos os campeonatos possíveis. Não importa que não tenhamos sempre um esquadrão vestindo nossa camiseta que deve ser pra sempre preta e branca. O que não pode ocorrer, é que o Corinthians deixe de nos pertencer. Que escorregue entre os nossos dedos. Que ele crie asas e voe de nossas vidas simplesmente porque não temos mais dinheiro para acompanhá-lo.
O futebol – e em especial o Corinthians – atende a um propósito muito maior do que o entretenimento desportivo. É cultura, identidade. É a maneira como a gente projeta de verdade quem a gente é.
Se os argumentos sociais não são suficientes para os burocratas do futebol ou os marketeiros de plantão que imaginam terem inventaram o mundo. Vamos então falar de negócios.
Existe um discurso predominante – simplesmente porque os engomadinhos falam à rodo e não há ninguém para contestar – fruto da sanha neoliberal de nossos tempos, de que o futebol é um negócio como outro qualquer.
Pois bem, não existe somente um modelo de negócios possível.
Aliás, não é por acaso que o Corinthians tem faturado tanto com patrocínio e propaganda.
Acreditem, não é obra de nenhum gênio do Marketing Comercial.
Veja, o Corinthians é a porta de entrada para a nova classe média.
Pouco interessam (neste caso) os conceitos do que vem a ser o padrão de classe média, mas efetivamente, trata-se da classe em que houve maior mobilidade social nos últimos anos.
Embora as diferenças sociais continuem gritantes e escandalosas, os mais pobres tem aumentado sua renda comparativamente de maneira muito mais acelerada do que o topo da pirâmide, em termos relativos, obviamente.
As grandes empresas arregalam seus olhos para este filão de mercado que só vai crescer.
O mercado exterior vê com interesse este novo ator econômico e social que veio para ficar.
Não faz sentido o Corinthians, justamente neste momento, virar as costas para este povo.
Quarenta e três por cento da receita do Corinthians vem de direitos de televisão. Dezoito por cento de patrocínio e publicidade. Estas receitas dependem efetivamente do interesse do consumidor, basicamente, a paixão do corinthiano. Este interesse pelo futebol não se mantém aleatoriamente. A cultura de frequentar o estádio de futebol é decisiva na formulação da experiência do torcedor. É na arquibancada que o torcedor é formado. Onde ele se torna fanático, ou um consumidor interessante para o mundo dos negócios.
“Esfriar” o torcedor Corinthiano, para que ele se transforme em algo diferente do que ele efetivamente é, torna-se no mínimo uma estupidez.
Sem contar que para além dos negócios, isso seria uma violência cultural e histórica.
Manter a paixão Corinthiana, zelar por nossas tradições e manter a identidade social entre o Corinthians e seu povo são tarefas fundamentais daqui por diante.
O Barcelona que é o clube mais bem sucedido do mundo do futebol fez suas escolhas históricas, mantendo sua conexão com seu povo. Deixou de ganhar alguns bilhões se vendendo para certos tipos de faraós? Não se sabe. Mas certamente fez uma escolha justa que lhe confere um papel de destaque no cenário internacional.
Não queremos ser o Barcelona, nem o Chelsea, nem o Manchester, nem ninguém.
Nós queremos continuar sendo o Corinthians!
E vamos lutar contra o apartheid nos estádios, da mesma forma que devemos lutar contra a exclusão nas grandes cidades.
O Corinthians é do povo.

Estamos felizes com os títulos. O estádio vai ser mágico. Mas sem o povão lá dentro não vai ser nunca o estádio do Corinthians de verdade.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Krypto e Eu. Vivendo com um Lhasa Apso no centro de São Paulo.



Não entendo nada de raça de cachorro. 
Pra mim cachorro é cachorro. 
Cachorro grande, pequeno, branco, preto, cinza, marrom.
Sei que os vira-latas, mestiços iguais a mim, são mais fortes e com maior chance de superar as adversidades e condições excepcionais.
Agora eu tenho um lhasa apso.
Aprendi a escrever esse nome nesta ocasião.
Minha filha veio morar comigo e trouxe consigo um cachorrinho branquinho, já de oito anos de idade, que mais parece um ursinho de pelúcia.
Fiquei tão feliz com a chegada da minha filha que fui obrigado a aceitar o cãozinho que dedica boa parte do seu dia mijando em lugares estratégicos da casa. Grande sacana. Outro dia peguei ele no flagra levantando a perninha pra soltar um leve jato de mijo na porta do banheiro. Quando ele percebeu minha presença, disfarçou sua atitude, saindo dissimuladamente com a perna meio esticada como se estivesse brincando de saci-pererê. 
Outra tarefa a que ele se dedica com galhardia é pedir comida.
Mas só quando ele vê alguém comendo. Caso contrário ele fica de boa.
Ele tem uma estratégia pra ganhar algum belisco. Fica de pé, levanta as orelhas, olha nos olhos, no prato de comida, retorna para os olhos, bota levemente a língua para fora, pisca os olhos (um de cada vez). Faz cara de bonzinho. Cara de coitado. E finalmente acaba ganhando um pedaço de qualquer coisa.
É um artista, o filho de uma cadela.
Me lembra o Zé Colmeia e penso que sou um estúpido por cair sempre no mesmo truque.
 Minha filha passa os fins de semana com a mãe e me deixa responsável pelo Krypto. Esse cachorro tem me ensinado a lidar melhor com a diversidade sexual. Quando saio com ele a caminhar pelas ruas da Bela Vista sou tecnicamente um gay. Veja, moro quase na esquina com a Rua Frei Caneca. 
Tá cada dia mais complicado manter a minha fama de mau, caminhando com um cachorrinho fofo e gracioso que aparenta uma permanente doçura.
Na hora de mijar na minha estante ele não é nenhum pouco delicado. 
Quem conhece o Krypto, sabe que é um cachorro maloqueiro. Vira-latas mesmo. Se pudesse ele fumaria charutos, beberia uísque e faria algumas farras com as cadelinhas do bairro.
Mas não dá pra explicar isso a cada um que nota na rua um cara de um metro e noventa caminhando com um bichinho de aparência tão delicada.
Mas resolvi encarar as duas coisas. Saio com o cachorro numa boa, até porque quanto mais ele mija na rua, menos mija na minha casa. E também assumi o amor pelo Krypto. Vou fazer o que? Acabei me afeiçoando  ao bichinho. 
Qualquer dia mando cortar o pinto dele fora pra nunca mais mijar nas minhas coisas.
Quando ele morrer, imagino que o seu céu vai ser um lugar cheio de coisas para se mijar e cheio de comida caindo do alto. Deve ser assim.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Meu Primeiro Show do Metallica

Meu primeiro show do Metallica

Chega a dar vergonha de dizer, mas fui num show do Metallica em 1993.
20 anos, é isso?
Nessa época o Mano Menezes nem era o vocalista da banda.
O show foi no estádio do Palmeiras e era véspera de uma Greve Nacional dos Estudantes, organizada naquele ano.
Este era o primeiro grande movimento depois do Impeachment de Collor em 1992. Era um teste de fogo para medir nosso real poder de mobilização, posto que em poucos meses os estudantes se tornaram inimigos indesejáveis para a grande imprensa, depois de uma mentirosa simpatia dissimulada.
O movimento tinha lideranças brilhantes.
Eu era apenas um pentelho de 17 anos.
Apareceu na sede da Rua Vergueiro, um Trio Elétrico gigante, mas todo preto. Horripilante. Tosco na verdade. Pareceria que ia desabar, mas acho que foi o que deu pra pagar na ocasião. Ele serviria para fazer a chamada "mobilização" da estudantada.
Juntamos a molecada que fazia um tempo por lá e dissemos: "vamos colar na porta do Show do Metállica?"
Eu já estava preparado para o show e vestia uma camiseta do Sepultura toda preta e com uma caveira na frente.
Não sei ao certo se a galera do show realmente estava tão simpática a causa, mas a idéia foi muito boa.
Pra quem esperava horas na fila, aquele carro de som todo preto tocando heavy metal no último volume era pura diversão e quebrava o marasmo ao qual eles estavam submetidos.
Eu lá no microfone falando grosso e incorporando o astro do rock. A molecada do movimento toda delirando e aproveitando pra paquerar as gatinhas que davam bola.
Daí, algum filho da puta dos meus amigos desceu pra pegar o telefone, ou coisa assim, deixando o tampão que dá acesso à parte de cima do Trio.
Pra quem nunca subiu num troço desses, você sobe por uma escada improvisada e existe um buraco no chão da parte de cima, que deve ser devidamente tampado para que não haja nenhum acidente.
Lembre-se, tratava-se do Trio Elétrico mais tosco do mundo.
Estou eu falando no microfone e ridiculamente me sentindo um astro do rock ou uma grande liderança popular. Que mico.
Mas até que a galera estava gostando.
Foi quando eu disse:
- É isso aí galera! Até amanhã na Avenida Paulista. Amanhã não tem aula! Greve dos Estudantes! Tchaaaaaaauuuuu
Dei um passo atrás e cai no calabouço.
A galera lá fora gritava eufórica.
Pra quem via debaixo, aquilo parecia um efeito especial.
Rolei escada abaixo.
Alguém gritou "devolve o microfone".
Minhas costas doem até hoje.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Aceitar espionagem dos EUA é aceitar a injustiça e a barbárie.



O exercício da hegemonia no sistema interestatal, exige mais do que a imposição pela força e pelo poder econômico.

Uma nação que se propõe a exercer papel de influência global deve também exercer uma espécie de liderança moral, paralela às vantagens estratégicas que qualificam as condições excepcionais de orientador das grandes questões mundiais.

Sendo assim, a superioridade militar e econômica dos EUA, não confere à este país o direito de exercer esta vantagem para além das regras que disciplinam a relação global entre países igualmente soberanos.

Admitir que a superioridade de força, por si só permite a opressão e justifica a submissão de todas as outras nações, significa dizer também aos cidadãos do mundo que a força e a violência são ferramentas legítimas para a dissolução de conflitos de qualquer natureza. 

E mais! Significaria dizer que existem povos de primeira, de segunda e de terceira grandeza, destacados por suas vantagens de poder econômico e de força. Mais perigoso ainda, seria supor que existam raças superiores ou mais evoluídas, buscando uma explicação "natural" para a superioridade de nações e também de indivíduos.

As desventuras mais desastrosas da história humana partiram justamente deste mote.

Se os homens civilizados devem superar seus estados de natureza, cumprindo regras e leis universais a todos sem distinções de raça, cor ou condição social, o mesmo deve haver na relação entre os diferentes países.

O Estado se configurou como uma das mais bem sucedidas invenções do homem, capaz de oferecer o mínimo de proteção quanto a guerra "de todos contra todos". Mesmo com seus gigantescos problemas, não há experiência histórica tão bem sucedida para a garantia das liberdades individuais.

A quebra no "contrato" entre os Estados por meio da imposição do mais forte sobre o menos forte, permite a quebra dos conceitos de igualdade e fraternidade, suprimindo as liberdades através da violência como ferramenta admitida para sedimentação das hierarquias.

Aceitar calado o abuso de poder do Estado mais rico e poderoso do mundo, significa aceitar também a injustiça e a barbárie.

A Presidenta Dilma acertou em manifestar seus protestos de maneira tão educada, serena e significativa.

Sem verborragias ou atitudes irresponsáveis, mas exigindo respeito à soberania brasileira dentro das regras internacionais.

O Brasil exerce papel de liderança entre as nações em desenvolvimento. Submeter-se à violência e à injustiça, significaria trair a confiança de todos os povos que lutam por um mundo mais justo e igual.

No mais, a espionagem dos Estados Unidos contra os países latino americanos, não significa apenas uma questão de vantagem competitiva no comércio exterior ou de proteção contra seus inimigos terroristas.

Historicamente fomos submetidos à conspirações, golpes de Estado, governos de intervenção, quarteladas e imposições de agendas políticas e econômicas. Isso não é um discurso nacionalista, mas uma realidade histórica.

Por meio da espionagem e da conspiração exerce-se uma interferência ultrajante nos processos decisórios locais.

Na obscuridade das reuniões secretas foram tramados os grandes roubos contra nossas riquezas.

Países como o Brasil, historicamente tiveram seu processo de desenvolvimento subordinado aos interesses dos "países do centro". Não somos menos ricos, menos desenvolvidos ou mais injustos e violentos porque sejamos povos de vira-latas oriundos de escravos, muito embora alguns insistam em se enxergar assim. 

Na verdade, fomos vendidos na calada da noite por nossas elites em tenebrosas negociatas.

Por tudo isso, qualquer presidente que aceite a violência, o abuso e a injustiça como coisa normal está na verdade traindo seu povo, seu juramento e colaborando negligentemente para que a humanidade permaneça entregue às trevas da opressão e da miséria.




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A trilha estreita da servidão



Para os súditos inventaram a moral, a ética, a decência o temor de Deus, a parcimônia e o pudor. 
Para os poderosos existem os relativismos, os liberalismos, a libertinagem e as idiossincrasias. 
Os pobres devem pagar suas dívidas e terem seus nomes limpos. Devem respeitar as leis, serem trabalhadores e cumprirem com regularidade os ritos religiosos. 

Os ricos não precisam mais de deus. Criaram um complexo de crenças mais ou menos organizadas que servem apenas para justificar suas bênçãos e explicar a tão desejada acomodação de classes. 
Os servos são ciumentos e liquidificam toda sua adrenalina flertando e escapando da traição afetiva, como numa dança das cadeiras. Os nobres querem mesmo é o poder. 
Para os pobres foi criada a ordem, para os ricos foi inventado o progresso. 
Para os escravos existem as regras. Para os libertos existe o gozo. 
Para os crentes foi construído o inferno. Para os céticos existem os inferninhos, as praias, as montanhas, os chalés, os spas e as clinicas de bronzeamento artificial. 
Os pobres são castigados. Os ricos pagam suas indulgências. 
Os pobres sentem medo de Deus. A classe média sente medo do ladrão. O rico teme que o Estado escape às suas mãos. 
Os pobres olham para os ricos e mentem para si mesmos, acreditando que são santos. 
A classe média olha para os pobres e engana a si mesma, fingindo  que são ricos. Os ricos só olham para si mesmos e pensam que são imortais. Sonham com o Estado mínimo e com a cura para o câncer.