quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O discurso de Mário Gobbi no evento de 102 anos do Corinthians





O presidente do Corinthians, Mário Gobbi fez um importante discurso na abertura na festa de 102 anos do clube.

O evento gera reclamações por parte dos torcedores, já que a festa é restrita à diretoria, conselheiros e alguns colaboradores.

A questão da elitização do Corinthians – bem como a elitização do futebol de maneira geral - é assunto muito debatido entre a coletividade corinthiana.
Não é para menos. O futebol atende a um propósito social e cultural que vai muito além do mero entretenimento esportivo. O gradual processo de afastamento das populações de baixa renda dos estádios é justificadamente discutido pelos principais interessados no assunto, no caso, os torcedores.

Se isso é assunto pertinente ao futebol como um todo, imaginem quando o assunto é Corinthians, que tem sua identidade forjada como “O Time do Povo”.

O mito fundador do Corinthians é justamente o de um clube construído pelo proletariado paulistano.
Mas a chamada “festa de aniversário” tem mesmo um caráter de evento corporativo, como aquelas festas de final de ano das grandes empresas. O intúito, inevitavelmente, é de confraternização, fazendo um balanço do período recente e estabelecendo estratégias futuras, buscando sempre criar laços de solidariedade entre a rede de colaboradores.

Sendo assim, torna-se relevante este tipo de iniciativa, já que é possível captar o espírito das grandes decisões, compartilhando a estratégia para além do núcleo duro da diretoria.

Quando se faz qualquer tipo de elogio a quem ocupa um cargo de primeira importância, como é o caso do Presidente do Corinthians, corre-se o risco de ser chamado de “chapa branca”.

Mas não se defende uma instituição apenas fazendo oposição, tarefa esta de primeira importância, como elemento de fiscalização e moderação de poder. O apoio crítico (diferente de apoio cego e subserviente) também é instrumento de colaboração para a vida política do clube.

Portanto, é importante ressaltar as boas iniciativas, até para que haja distinção daquelas que são degradantes ou desinteressantes.

Havia grande curiosidade para saber como se comportaria o novo presidente, depois da vitoriosa e renovadora gestão de Andrés Sanchez.

Andrés tem uma natureza aglutinadora e articuladora. Sempre esteve presente na vida cotidiana do clube e foi durante seu mandato muito receptivo aos sócios e torcedores. Mário Gobbi, com sua personalidade mais reservada despertava relativa insegurança entre aqueles que se acostumaram com o estilo do ex-presidente.

Mas pouco a pouco, Gobbi tem tranqüilizado a torcida sob alguns aspectos.

Em seu discurso, o presidente destacou que a principal vitória do Corinthians nos últimos anos (e o principal legado de Andrés) foi o novo estatuto.
Nenhuma vitória dentro de campo – nem mesmo a Libertadores – pode substituir o apego que os Corinthianos têm pela democracia. O direito de votar para presidente do Corinthians que foi interrompido por quase duas décadas deve ser preservado a qualquer custo.

Ainda que o leitor tenha uma posição de absoluta objeção com a atual gestão, a alternância de poder garantida pelo estatuto deve ser um valor de todos os corinthianos. Não podemos depreciar esta conquista ou subordina-la às vitórias nas quatro linhas, sob pena de repetirmos a tragédia da Ditadura Dualib.

E o presidente ratificou que não haverá reeleição para presidentes daqui em diante.

Em sua fala, ventilou até um retorno futuro de Andrés, porém obedecendo ao prazo estatutário de afastamento.

Fazendo referência ao show que viria na seqüência de seu discurso, o presidente citou uma linda frase de uma linda música cantada pelo Zeca Pagodinho: “Vou comprar uma faixa amarela, bordada com o nome dela e vou mandar pendurar NA ENTRADA DA FAVELA".

O discurso foi cheio de recursos e muito bom.

Quando o presidente disse que “mais do que o Corinthians ganhar a Libertadores foi a Libertadores que ganhou com o Corinthians” pode parecer provocação com os adversários. Porém, para quem viveu a história recente do Corinthians, a afirmação ganha um significado mais amplo.
Durante a ditadura de Dualib, os títulos conquistados (acompanhados do subtítulo “Adm. Alberto Dualib”) rapidamente tornavam-se justificativa para o regime autocrático do ex-presidente.

Portanto, nenhum título pode ser maior do que a identidade social do corinthiano.

As críticas que por ventura esta atual gestão venha a merecer podem e devem ser feitas. Isso é obrigação de todo corinthiano.

Mas apoiar as ações afirmativas é a principal maneira de separar as boas iniciativas das ruins. Se não vira tudo uma coisa só e não conseguimos crescer.

Da mesma forma não esquecer a tragédia que foi a Ditadura Dualib é o primeiro passo para não permitir que isso aconteça novamente.

Agora não somos uma República Popular? Pois bem, não faz sentido algum a existência de estúpidos tiranos.

Precismos sim de instituições consolidadas e instâncias representativas, aumentanto o potencial de participação. Este deve ser o próximo passo!

2 comentários:

  1. Excelente post amigo. Gosto muito dos seus textos e opinioes. Parabens

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  2. Tenho muitas diferenças com relação a algumas ideias da atual diretoria, mas não dá negar que ela representa um avanço no clube, no que diz respeito às conquistas democráticas - que ainda podem ser melhores, mas são enfim - e na seriedade que hoje existe no departamento de futebol. Falta caminhar um pouco mais na direção do caráter popular do clube, sobretudo no lance do elitizado preço das entradas, mas tenho a esperança de que isso pode ser revertido no futuro, justamente graças à maior democracia interna. VAI CORINTHIANS!!

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