sexta-feira, 23 de março de 2012

A Genialidade de Chico Anysio e os neo-humoristas fascistas.



Cada vez que eu ouço as piadinhas da geração stand up, mais eu sinto falta do Chico Anysio.

Para certo tipo de comediantes, a ofensa parece ser prerrogativa inalienável de uma boa piada.

Embora Chico tenha feito piada de tudo (e inevitavelmente ofendido muita gente) a construção de sua obra não estava marcada exclusivamente pela ofensa.

Tudo bem. A ofensa pode ser um recurso eficiente para injuriar alguns inimigos   compartilhados pela sociedade em determinado tempo e espaço. A comédia irreverente conseguiu durante anos, através do riso, desconstruir a imagem e a natureza do poder de nobres e poderosos.

Mas a genialidade de Chico Anysio deixa exposta a covardia de alguns "comediantes" que se apropriaram do conceito do politicamente incorreto para destilar toda a nostalgia dos tempos em que os extratos sociais estavam muito bem definidos e ninguém se ofendia com as piadas jocosas contra as minorias, porque "todos sabiam muito bem o seu lugar na sociedade".

Claro que o Chico tinha personagens gays, feias, negros, pobres, etc. Mas ele nunca precisou se colocar numa escala de superioridade arrogante buscando se diferenciar das suas criaturas.

O Chico era um pouco de cada uma daquelas figuras.

Não tentava caricaturizar os personagens segundo os estigmas atribuídos pela classe dominante. Ao contrário, fazia valer seu olhar de brasileiro comum para interpretar a realidade, inclusive o comportamento da própria elite. Era assim quando fazia o político Justo Veríssimo, o ator pedante Alberto Roberto, entre outros.

Chico não colocava nenhum personagem numa distancia inatingível de si mesmo.

Não era "o político", "o ator", "o pai de santo", "o professor", "o gay".

Talvez o grande mérito dele era encontrar humanidade em cada um dos tipos interpretados.

Não precisava fazer piada sobre estupro, xingar deputado no congresso ou humilhar alguma sub celebridade.

A verdade é que grande parte destes comediantes yuppies é composta por fascistinhas e reacionários.

Defendem-se dizendo que são humoristas anárquicos.

Mas esta anarquia jamais pode entrar em conflito com os interesses do patrão.

O bobo da corte não serve ao riso. Serve ao rei.

Chico vai fazer falta.

Poucos interpretaram tão bem o Brasil.

E essa molecada criada com sucrilhos no prato tem que tomar um banho de rua  pra conseguir falar direto com o coração do povo.

Ps: menções super honrosas para o Bruno Mazzeo (filho do homem) e o incrível Marcelo Adnet.

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