sábado, 31 de março de 2012

1964 - A FARSA NÃO SE REPTIRÁ. NEM COMO ESTÓRIA!

Há mais de 1964 entre nós do que podemos imaginar.

E não me refiro às cicatrizes expostas que a ditadura deixou na nossa sociedade como a precariedade e atraso nas relações entre os cidadãos brasileiros e suas instituições. 

O Estado brasileiro escolheu o inimigo errado. Se voltou contra seu povo, oprimindo, torturando, violentando direitos para fazer uma aliança externa que subordinou o Brasil e transformou um pais que vocacionava se desenvolver em uma ditadurazinha de generais ridículos.

Hoje, vemos alguns nostálgicos regozijando-se gostosamente ao lembrar da ditadura. 

Deleitam-se com a possibilidade de uma repetição histórica redimir seus desejos de reorganização da ordem nacional, reequilibrando as forças políticas e pondo fim ao grande incômodo da mobilidade social.

Não é para menos que o Golpe de 1964 traga tanta saudades para alguns.

A democracia sempre foi um grande mal entendido  para a Direita. Principalmente no Brasil.

Não existe apego no Brasil às idéias liberais.

Nem sob o ponto de vista político. Nem sob o ponto de vista econômico.

Até mesmo a nossa DITABRANDA - como gosta de dizer a Folha - tocou um governo desenvolvimentista em que o Estado tinha papel central na condução da economia.

O estabelecimento da democracia no país teve a concordância da burguesia nacional por  três motivos principais.

Primeiro pela pressão popular que se organizou e foi ás ruas, com armas ou com gritos, para derrotar a ditadura.

Segundo porque o ambiente democrático era requisito fundamental para que o Brasil se consolidasse como uma economia de mercado e pudesse ser um ambiente seguro para os investimentos externos.

Finalmente, porque o sistema de financiamento eleitoral e até mesmo a corrupção servem como recurso eficaz de controle do Estado pela burguesia.

E sejamos claros A IMENSA MAIORIA DA BURGUESIA BRASILEIRA ESTA MUITO SATISFEITA com o sistema político, inclusive com o atual governo.

Mas voltemos aos nostálgicos. Gente desimportante e decadente.

Com o naufrágio do neoliberalismo após a crise de 2008, o campo conservador ficou atordoado e órfão.

Sem uma agenda política para defender. Sem orientação externa, o pensamento político conservador  ficou desorganizado.

Se a democracia não pôde,  por si só, dar conta das demandas sociais históricas, acabou por criar um imenso MERCADO ELEITORAL.

O voto dos brasileiros mais pobres passou a valer muito.

Se o primeiro mandato do governo Lula não causou grandes transformações econômicas, foi muito eficaz em transformar o mapa político nacional.

Os programas sociais com foco na eliminação da miséria, com políticas publicas operadas diretamente pelo governo federal até o cidadão comum, quebrou a dependência econômica absoluta entre a população pobre e os chamados "coronéis".

Seja no campo, seja nos grandes centros urbanos, a partir do segundo mandato do governo Lula, os chamados "formadores de opinião" deixaram de ser importantes e até mesmo a imprensa perdeu poder na medida em que as grandes massas de eleitores passaram a votar segundo seus próprios interesses.

Nas eleições de 2010 se viu um show de preconceito. Os eleitores que se consideravam mais esclarecidos não se conformavam com o fato de seu voto ter o mesmo peso de seus antigos subalternos que escolheriam seu candidato por razões menos importantes.

Em resumo, a direita perdeu espaço político. Não consegue se reorganizar e a democracia não é mais suficiente para alguns.

Resta, portanto, lembrar com algum saudosismo para o Golpe de 1964.

Mas a farsa não se repetirá, nem como estória.

Não só porque temos um governo legítimo e aceito pela grande maioria da população e nosso Estado está organizado com instituições sólidas.

Mas principalmente, porque hoje temos um ator político que não existia em 64.

O poder político não está mais restrito às classes dominantes.

Tem um povão que não aceita mais ser subjugado.

Pode ser que aparentemente não estejam atentos. Até porque dificilmente são ouvidos.

Mas que jamais aceitarão novamente serem tratados como escravos.

O Brasil mudou. A ditadura é uma cicatriz feia e exposta, bem no meio do rosto brasileiro.

Quem bate esquece. Mas quem apanhou não esquece.

Não vem não que vocês vão ver o que é bom pra tosse.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A Genialidade de Chico Anysio e os neo-humoristas fascistas.



Cada vez que eu ouço as piadinhas da geração stand up, mais eu sinto falta do Chico Anysio.

Para certo tipo de comediantes, a ofensa parece ser prerrogativa inalienável de uma boa piada.

Embora Chico tenha feito piada de tudo (e inevitavelmente ofendido muita gente) a construção de sua obra não estava marcada exclusivamente pela ofensa.

Tudo bem. A ofensa pode ser um recurso eficiente para injuriar alguns inimigos   compartilhados pela sociedade em determinado tempo e espaço. A comédia irreverente conseguiu durante anos, através do riso, desconstruir a imagem e a natureza do poder de nobres e poderosos.

Mas a genialidade de Chico Anysio deixa exposta a covardia de alguns "comediantes" que se apropriaram do conceito do politicamente incorreto para destilar toda a nostalgia dos tempos em que os extratos sociais estavam muito bem definidos e ninguém se ofendia com as piadas jocosas contra as minorias, porque "todos sabiam muito bem o seu lugar na sociedade".

Claro que o Chico tinha personagens gays, feias, negros, pobres, etc. Mas ele nunca precisou se colocar numa escala de superioridade arrogante buscando se diferenciar das suas criaturas.

O Chico era um pouco de cada uma daquelas figuras.

Não tentava caricaturizar os personagens segundo os estigmas atribuídos pela classe dominante. Ao contrário, fazia valer seu olhar de brasileiro comum para interpretar a realidade, inclusive o comportamento da própria elite. Era assim quando fazia o político Justo Veríssimo, o ator pedante Alberto Roberto, entre outros.

Chico não colocava nenhum personagem numa distancia inatingível de si mesmo.

Não era "o político", "o ator", "o pai de santo", "o professor", "o gay".

Talvez o grande mérito dele era encontrar humanidade em cada um dos tipos interpretados.

Não precisava fazer piada sobre estupro, xingar deputado no congresso ou humilhar alguma sub celebridade.

A verdade é que grande parte destes comediantes yuppies é composta por fascistinhas e reacionários.

Defendem-se dizendo que são humoristas anárquicos.

Mas esta anarquia jamais pode entrar em conflito com os interesses do patrão.

O bobo da corte não serve ao riso. Serve ao rei.

Chico vai fazer falta.

Poucos interpretaram tão bem o Brasil.

E essa molecada criada com sucrilhos no prato tem que tomar um banho de rua  pra conseguir falar direto com o coração do povo.

Ps: menções super honrosas para o Bruno Mazzeo (filho do homem) e o incrível Marcelo Adnet.

terça-feira, 13 de março de 2012

Quem derrubou Ricardo Teixeira foi a Dilma




Ricardo Teixeira sobreviveu no cargo de Presidente da CBF durante a gestão de cinco presidentes da República. Foram eles: José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Procurou ser colaborativo com todos eles.

Até o período de FHC, os presidentes concentravam-se em outras prioridades políticas, como a estabilização da moeda, por exemplo.

O potencial de comunicação do futebol para com a sociedade era pouco explorado. Até porque a sociedade passou a desconfiar seriamente da composição entre e política e futebol, tendo em vista a lembrança aproveitamento político do Regime Militar com a conquista da Copa de 1970.

No Governo Lula, o futebol voltou a ser ferramenta política. Inclusive como recurso do Estado brasileiro na composição de sua política externa.

Claro que o gosto de Lula pelo futebol e a compreensão de seu potencial de comunicação política com a sociedade foram decisivos.

Inúmeras foram as oportunidades em que Lula se utilizou de metáforas futebolísticas para ilustrar para a sociedade as diversas variáveis da política e da economia no Brasil. Corinthiano doente vestia também a camisa de diferentes clubes em eventos sociais da Presidência da República.

Na política externa, o futebol foi ferramenta das mais utilizadas na construção do “Soft Power” brasileiro.

O desejo de Lula em inserir o Brasil nas principais instâncias representativas e deliberativas mundiais, colaborou ainda mais para que o presidente conquistasse a simpatia dos aliados e deixasse explícita a importância do Brasil no mundo utilizando o nosso futebol como adereço.

Quem não se lembra da “missão” da Seleção Brasileira no Haiti, ocasião que desencadeou o entendimento de que deveria o Brasil liderar a missão da ONU naquele país.

Muitos acusam Lula de ser um líder populista.

Outros acusam de ter sido pouco rigoroso e exageradamente conciliador.

Mas justiça deve ser feita. Lula não foi um presidente interventor. Respeitou todas as instituições nacionais e articulou as relações da presidência com estas instituições através da política, seu maior dom e seu grande trunfo.

E assim foi com Ricardo Teixeira. Lula soube colocar suas demandas e articular seus interesses, atraindo o presidente da CBF para seu campo de aliados. E assim foi com o judiciário, com o Banco Central, com seu ministério e com o Legislativo. Durante meses a cabeça de José Sarney foi pedida, mas Lula deixou que este assunto fosse resolvido pelo senado, sem rifar Sarney.

Mas com Dilma é diferente.

O futebol deixou de ser um assunto limitado em si mesmo.

A Copa do Mundo fez com que o futebol e sua principal competição se tornassem assunto de interesse nacional. Muitas questões infinitamente maiores do que o esporte entraram na pauta do governo.

E um desastre na Copa do Mundo seria fatal para as pretensões eleitorais de Dilma em 2014.

A presidenta sufocou Ricardo Teixeira.

A natureza do poder absolutista de Teixeira sempre se ancorou em três situações fundamentais.

1 – A dependência econômica das pequenas federações estaduais financiadas pela CBF que compunham sua principal base de apoio.

2 – A relação promíscua entre o futebol brasileiro e a grande imprensa em especial a Rede Globo que evitou “rifar” Ricardo Teixeira até o último minuto do segundo tempo. Na “Era Teixeira”, a Globo garantiu o monopólio do futebol brasileiro, podendo intervir inclusive nos horários e organização dos jogos.

3 – A articulação clientelista entre a CBF e o poder político, salvaguardando os diferentes interesses locais, construindo uma verdadeira rede de proteção política estatal.

Principalmente pelos dois últimos pontos, Ricardo Teixeira tornou-se o interventor ideal que acomodaria os gigantescos interesses políticos e econômico.

O agora ex-presidente da CBF colecionou inimigos, e com o advento da Copa do Mundo, tornou sua cadeira objeto de interesse nacional.

Na entrevista que concedeu à Revista Piauí, destilou sua arrogância e ilusão de onipotência. Falou como um imperador.

Dilma jamais tolerou Ricardo Teixeira e o desqualificou como interlocutor para a Copa do Mundo.

Ele foi ignorado nas relações entre o Planalto e a FIFA, sendo que rapidamente os interesses de Dilma e Joseph Blatter se convergiram para que Ricardo Teixeira fosse deposto.

O Brasil tem uma agenda árdua até a Copa do Mundo. A presidenta se impôs sacando todos os privilégios que Teixeira dispunha com o Planalto e fazendo com que ele se tornasse incompatível com o cargo. Corria até mesmo o risco de sofrer outras ofensivas e perder tudo o que conquistara. Para Teixeira tornou-se mais conveniente sair enquanto é tempo.

Para quem achava que Dilma seria uma mera sombra de Lula, sendo guiada em todos os seus passos e comprometeria a vida republicana brasileira fica mais esta lição.

Esta é a Presidenta do Brasil.










terça-feira, 6 de março de 2012

Por que Serra saiu candidato?

O vídeo que se tornou publico, com a entrevista de José Serra para o jornalista Boris Casoy, deixa explicito algo muito maior do que o enorme constrangimento do ex-governador ao errar o nome do nosso país.

Ao confundir o nome da nossa Republica Federativa, invocando os Estados Unidos do Brasil, Serra, em aparente ato falho, demonstra que esta em péssima fase.

Representante máximo da direita brasileira, Serra deixou nostálgicos seus correligionários que automaticamente lembraram da velha máxima em períodos de Guerra Fria: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".

Freud explica...

Casoy ainda deu uma chance dizendo que o nome do Brasil não  era mais Estados Unidos (a mais de três décadas).

Mas Serra ainda perguntou ao amigo jornalista: "mudou"?

Serra esta sob pressão. Desconcentrado. Jogando suas cartas finais. Talvez blefando.

A verdade é que nas eleições presidenciais de 2010, José Serra, alem de derrotado, saiu muito menor do que entrou. Sua biografia política foi decisivamente abalada.

Serra constrangeu sua coalizão para impor seu nome e suas regras ao partido. Imaginava que num inevitável enfrentamento com Dilma, desfilaria sua erudição e deixaria claro para todos que seria muito mais preparado que a atual presidenta.

O fato é que Serra não somente perdeu para a candidata do Lula, como perdeu para a própria Dilma enquanto política. Incorporou uma agenda apelativa da direitona, jogando sujo na campanha com uma agenda de baixo nível. Sua postura favoreceu a unificação dos setores progressistas de centro e de esquerda.

Ao ser derrotado, Serra poderia abrir espaço para a renovação de seu partido  e apoiar seu grupo político como uma figura respeitada e de envergadura histórica.

Mas no discurso que fez imediatamente posterior aos resultados do segundo turno ele disse tal qual um vilão de desenho animado de aventura: "eu voltarei".

Até mesmo quem nao entende nada de política, já percebeu que o único projeto importante para Serra é a presidência.

Mas por que novamente ele decidiu concorrer a prefeitura?

Serra entendeu que sua liderança política no PSDB estava muito comprometida.

O próprio FHC já o colocava Serra como figura secundária no  projeto nacional dos tucanos.

Caso Serra não se movimentasse em direção da candidatura para prefeito,  sofreria as seguintes consequências:

1 - veria Alckmin, seu principal adversário local, atrair todos tucanos para debaixo de suas asas. Abrigaria os serristas órfãos, perdoaria alguns rebeldes e se livraria de outros. Serra perderia sua condição de grão líder da coalizão demo-tucana no principal estado da nação.

2 - sem um candidato de peso para sua sucessão na prefeitura de São Paulo, Kassab teria sua sobrevivência política apenas possível através da viabilização de seu partido nacionalmente. Necessariamente, deveria se aproximar do governo federal e subordinar seus correligionários ao petismo, como forma de garantir acomodações aos antigos pefelistas, transtornados com tanto tempo longe do poder e cada dia mais derrotados em suas bases. Serra veria logo em seguida, sua antiga base dividindo-se entre alckmistas e lulistas, além de Dilmistas, é claro.

3 - Serra colecionou muitos inimigos ao longo de sua carreira. Inimigos fortes e com desejo de reparação. O livro Privataria Tucana atingiu em cheio as defesas de Serra e ele estaria muito vulnerável, caso deixasse de ser figura fundamental no jogo político.

Serra se sentiu obrigado a entrar na disputa. Vai trabalhar em condições adversas. Não tem pleno controle da situação e sabe que corre sérios riscos de perder essa eleição. Na verdade, ele nem gostaria de estar ali, na linha de tiro, nesta altura do campeonato.

Fica evidente seu descontrole. Serão todos contra Serra e talvez ele nao tenha mais o mesmo vigor e o mesmo reflexo de outros tempos.

São muitas guerras, muitas marcas, muitos inimigos e muitas intrigas.