terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Frente Fria e Calculista (acabou o verão)




Sonho de uma noite de verão.
Sonho de um fim de semana de sol.
Sonho de um feriado com céu azul e sol irradiante.
Para se tirar a roupa, fazer farra, tomar bebida gelada.
Abusar. Extravasar.
Mas, de um tempo pra cá, são somente nuvens.
Chuva.
Uma frente fria e calculista veio para ficar.
A chuva batendo sempre na janela parece um choro intermitente.
Não há mais verão...
Talvez seja tempo de ficar em casa. Com alguns poucos amigos. Aqueles que tem liberdade para tirar o sapato e mexer na geladeira. Ou no forno.
Ou mesmo, é tempo de ficar a sós.
Pensando nas cagadas da vida.
Em como a humanidade se degrada à olhos vistos.
Na estupidez de acreditar que embora as relações de consumo permeiem todas as esferas da sociedade, o esgotamento dos recursos em benefício de poucos não nos traria conseqüências severas.
É indigesto ouvir dizer que tudo isso é castigo de Deus.
Ora, a manifestação da generosidade divina está no absoluto equilíbrio das forças naturais, mas alguns preferem uma explicação punitiva para esconder, ou se enganar, sobre  a verdadeira chaga dos nossos tempos.
Tudo é consumo.
A felicidade é perecível.
O bem-estar é mais instantâneo do que um miojo.
Os lixões estão repletos de felicidades usadas.
De prazeres gastos.
Logo mais ocorrerá um novo desastre neste país cara de pau.
Os telejornais farão edições especiais e chamadas diretas dos morros que deslizam sobre a cabeça dos pobres.
Pobrezinhos, dirão.
O repórter fará cara de desterro.
Apresentadores de auditório farão campanhas interessadas para arrecadar recursos para as “vítimas da chuva”.
Como se fosse uma punição divina.
Vingança da natureza.
Como se a mãe natureza fosse dada às mesmas mesquinharias humanas.
As lágrimas de crocodilo da nossa elite “benevolente” logo secarão.
Na primeira manifestação por terra ou moradia, os movimentos serão criminalizados e seus miseráveis tratados como bandidos.
Pois não há lugar neste mundo para eles.
Equilibrem-se, portanto, nas encostas de morro e nas áreas de risco.
Na próxima tragédia serão protagonistas do show da vida (ou show da morte?).
Deus não é mau.
A natureza não é vingativa.
A humanidade não é tão cretina como alguns acreditam.
Não é “mudando o ser humano por dentro” que vamos preservar a natureza.
Porque o homem não é um objeto estranho ao meio ambiente.
Tudo são interesses.
Acredito sim que o planeta chora.
Lágrimas ácidas e envergonhadas.
Não é à toa que em todos os filmes de Hollywood que falam sobre o futuro, as pessoas vivem trancadas dentro de buracos, sem a luz do dia, ou mesmo errantes em meio ao deserto.
Já se sabe que não existe futuro possível para a humanidade com o capitalismo.
Acabou o verão.
Tudo é chuva!



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