segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Rita Lee e o Brasil que sente saudades da ditadura...





O Brasil está farto da truculência e do autoritarismo.

A geração de Rita Lee (a mesma dos meus pais) foi obrigada a conviver com a repressão nas ruas e nas universidades.

Estávamos sobre intervenção de uma ditadura que tinha o propósito de manter o Brasil “sobre controle” nos anos de Guerra Fria.

O ideal transformador da juventude dos anos 60 e 70 rompeu em poucos anos com estruturas seculares de dominação.

Mas permanece o estranho apego da gente brasileira pelo autoritarismo.

Não é para menos, nossa memória histórica é de violência autoritária. Das coisas serem resolvidas de cima para baixo na base da força.

Mas este não é mais o país dos coronéis.

Minha geração, agora se acostuma a viver dentro de uma cultura de democracia e cidadania.

Onde a ordem não pode impor sobre os costumes e o desejo de seu povo.

 A recente mobilidade social tem causado ebulições país afora. O Brasil ainda tem um apego carnal com a desigualdade.

Se por um lado olhamos para o futuro com um acréscimo de otimismo e de esperança de enfim construirmos uma grande nação.

Por outro vemos a já indiscreta nostalgia da ditadura, por parte de alguns setores inconformados com a posição de superioridade que já não podem mais ocupar.

O respeito pelas liberdades e direitos individuais ainda causam repulsa e o efeito cotidiano é a violência histérica por parte de alguns policiais que acreditavam ser investidos de alguma autoridade, mas se frustram com uma nova realidade que exige mais liderança e inteligência do que a truculência estúpida.

A síndrome do poder temporário é uma epidemia.

Esta síndrome ataca principalmente uma parcela de oficiais fardados, mas também pode se hospedar em “seguranças” de terno.

Quem nunca viu um “segurança” agredindo desnecessariamente uma pessoa desarmada? As casas noturnas fazem ofertas e promoções pra encher a cabeça da molecada de cachaça. Lucra horrores e depois colocam brucutus acéfalos para encher a rapaziada de porrada.

Ai que saudades da ditadura que essa gente tem.

A ditadura e o coronelismo agonizam e expiram nos seus últimos e violentos suspiros.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Os Comunistas - Pablo Neruda

A poesia de Neruda permanece atual.

Quando os olhares e atenções se voltam para as discussões de terra e moradia, os setores conservadores se unificam.

De um lado ficam os legalistas, homens e mulheres de família, as meninas virgens, os religiosos, os razoáveis, os diferenciados, os moralistas, os empresários, os homens de bem, os trabalhadores dedicados, o tea party, os defensores da ordem, os banqueiros, os sertanejos universitários, os forrozeiros universitários, a associação comercial, as sociedades secretas, todos!

Do outro lado, são todos comunistas.

Sim, porque discutir justiça social e distribuição de renda neste país ainda é coisa de comunista.

Pouco importa que nos países “civilizados”, referência maior dos que acidentalmente nasceram em terras brasileiras, a classe média corresponda a mais de 90% da população.

Dedico este lindo poema de Neruda para todos aqueles, comunistas ou não, que por desejarem viver em um país mais justo e solidário foram acusados e colocados na fogueira inquisitória dos comunistas.



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Os comunistas

Pablo Neruda


Passaram-se alguns anos desde que ingressei no Partido


Estou contente
Os comunistas formam uma boa família
Têm a pele curtida e o coração moderado
Por toda parte recebem cassetetes
Cassetetes exclusivos para eles
Vivam os espíritas, os monarquistas, os anormais, os criminosos de todas as espécies
Viva a filosofia com muita fumaça e pouco fogo
Viva o cão que ladra mais não morde, vivam os astrólogos libidinosos, viva a pornografia, viva o
cinismo, viva o camarão, viva todo mundo, menos os comunistas
Vivam os cintos de castidade, viam os conservadores que não lavam o pé a quinhentos anos
Vivam os piolhos das populações de miseráveis, viva a fossa comum e gratuita, viva o anarcocapitalismo,
viva Rilke, viva André Guide com seu corydonzinho, viva qualquer misticismo
Esta tudo bem
Todos são heróicos
Todos os jornais devem sair
Todos devem ser publicados, menos os comunistas
Todos os candidatos devem entrar em São Domingos sem algemas
Todos devem celebrar a morte do sanguinário de Trujillo, menos os que mais duramente o
combateram
Viva o Carnaval, os últimos dias de carnaval
Há disfarces para todos
Disfarces de idealistas cristãos, disfarces de extrema esquerda, disfarces de damas beneficentes e
de matronas caritativas
Mas cuidado: Não deixem entrar os comunistas
Fechem bem a porta
Não se enganem
Eles não têm direito a nada
Preocupemos-nos com o subjetivo, com a essência do homem, com a essência da essência
Assim estaremos todos contentes
Temos liberdade
Que grande coisa é a liberdade!
Eles não a respeitam,
Não a conhecem
A liberdade para se preocupar com a essência
Com a essência da essência
Assim tem passados os últimos anos
Passou o Jazz,
Chegou o Soul, naufragamos nos postulados da pintura abstrata, a guerra nos abalou e nos matou
Tudo ficava como está
Ou não ficava?
Depois de tantos discursos sobre o espírito e de tantas pauladas na cabeça, alguma coisa ia mal
Muito mal
Os cálculos tinham falhado
Os povos se organizavam
Continuavam as guerrilhas e as greves
Cuba e Chile se tornavam independentes
Muitos homens e mulheres cantavam a Internacional
Que estranho
Que desanimador
Agora cantam-na em chinês, em búlgaro, em espanhol da América
É preciso tomar medidas urgentes
É preciso bani-lo
É preciso falar mais do espírito
Exaltar mais o mundo livre
É preciso dar mais pauladas e o medo de Germán Arciniegas
E agora Cuba
Em nosso próprio hemisfério, na metade de nossa maça, esses barbudos com a mesma canção
E para que nos serve Cristo?
Para que servem os padres?
Já não se pode confiar em ninguém
Nem mesmo os padres. Não vêem nosso ponto de vista
Não vêem como baixam nossas ações na bolsa
Enquanto isso sobem os homens pelo sistema solar
Deixam pegadas de sapatos na lua
Tudo luta por mudanças, menos os velhos sistemas
A vida dos velhos sistemas nasceu de imensas teias de aranhas medievais
No entanto, há gente que acredita numa mudança, que tem posto em prática a mudança, que tem
feito triunfar a mudança, que tem feito florescer a mudança
Caramba!
A primavera é inexorável!



Entre Aspas, desde que as aspas sejam da Globo

Direto do Blog do Nassif
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Mônica Waldvogel põe jornalismo "entre aspas"
Enviado por luisnassif, sex, 27/01/2012 - 14:55



Por Weden

Mônica Waldvogel passou por um dos momentos mais constrangedores na história da GoboNews. Pautada para defender as ações da PM paulista, da Prefeitura de São José dos Campos e do Governo Alckimin no caso do massacre de Pinheirinho, por várias vezes, ela passou por cima dos entrevistados e tentou impor o ponto de vista da casa.



A própria chamada do programa já mostrava a tendência imposta pelos editores da GloboNews: "Interesse eleitoral pode comprometer ações sociais (referência à Cracolândia) e da Justiça (referência a Pinheirinho)".

Ou seja, a disposição já era de dizer que as ações eram corretas e as críticas, eleitoreiras. O vídeo de abertura do programa insistiu nesta tecla, mas Mônica, por conta própria, foi ainda além.

Chamou a ação de expulsão dos moradores de "republicana", disse que as críticas todas têm fundo eleitoral, afirmou que os moradores só reagiram por terem sido motivados por líderes partidários, e chegou a criar um falso dilema: "o governo deveria desrespeitar ou cumprir a lei?"

Para piorar, ao referir-se ao tema conexo da Cracolândia, comparou os dependentes (que ela chama de viciados) aos traficantes do Rio de Janeiro.

Mônica não aceitou qualquer dos argumentos dos entrevistados, passou por cima da palavra daqueles que deveriam ser ouvidos, duvidou dos analistas, atribuindo, indiretamente, as posições deles a interesses eleitorais, e ofereceu um exemplo grave do que não deve fazer o jornalista: impor seu ponto de vista, a todo custo, a entrevistados, ainda mais num programa que tem como título uma alusão ao direito de opinião.

Tensa, mostrou dificuldade em articular suas indagações e questionamentos, gaguejou mais do que de costume, e ainda fez intervenções esdrúxulas, com problemas de sintaxe, e escolhas semânticas infelizes.

Aqui o ligação do programa, com o vexame de Mônica e a atuação digna e independente dos do8is entrevistados: Humberto Dantas, cientista político do Insper, e Aldo Fornazieri, sociólogo da Fesp.

Uma dica importante para Mônica Waldvogel, que ainda tem nome a zelar no jornalismo: deixa os editores fazerem o que quiserem; mas deixa os entrevistados contribuírem com seus pontos de vista. Seu papel no programa é mais simples do que parece.

http://g1.globo.com/videos/globo-news/entre-aspas/t/todos-os-videos/v/interesse-eleitoral-pode-comprometer-acoes-sociais-e-da-justica/1786273/

Por Sergio Saraiva

A Globo não respeita ninguém.É constrangedor ver uma grife como Monica Waldvogel cumprir pauta burra.

Durante as agressões na USP ela entrevistou dois professores, um aliás reitor da UNICAMP defendia a ação, porém não se espera que professores chamem alunos de maconheiros vagabundos.

Como os professores não os chamavam assim, a própria Mônica passou a chamar. Era o que estava previsto na pauta e devia ser cumprido.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Assim caminha a humanidade...

Até o final do sec XIX, os abolicionistas eram vistos como subversivos.
 
Hoje, embora continuemos vivendo em um pais racista, não existe mais ambiente para manifestações públicas de preconceito. Quando elas ocorrem, provocam imediata reação social.
 
Na primeira guerra do Golfo em 1991, muita gente dizia: "Isso mesmo, tem que bombardear o Iraque, os EUA estão defendendo o mundo livre".
 
Já em 2003, os EUA ficaram quase isolados nos órgãos internacionais, o que desencadeou numa crise de sua hegemonia.
 
Durante anos vi algumas desocupações violentas da polícia, mas agora percebo uma mobilização muito grande da sociedade contra o que ocorreu no Pinheirinho.
 
Estou certo que Alckmin terá um sério prejuizo eleitoral. Talvez já nas eleições municipais.
 
Prefiro acreditar que as coisas estão mudando para melhor.
 
Não dá para imaginar uma economia maior do que a da Inglaterra com tamanha miséria espalhada.
 
Entendo que dentro em breve este país tão desigual perceberá a importância de uma melhor distribuição de renda.
 
E se não for no jeitinho, vai ser na porrada mesmo.
 
Só que tem uma coisa: Sempre haverá ESCROTOS entre nós!
 
Em qualquer tempo na história!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O PSDB não gosta de pobre! E não há esforço de marketing que de jeito...



Nas últimas eleições presidenciais a aliança PSDB-DEM sofreu sua terceira derrota seguida.

Em 2010, a presidenta Dilma era quase desconhecida do eleitorado brasileiro. Mesmo assim, o governador de São Paulo e político já consagrado Jose Serra foi derrotado de maneira retumbante.

Não apenas o candidato Serra foi derrotado, mas principalmente o legado tucano, dos oito anos de FHC.

A população rejeitou as políticas neoliberais, tais como privatizações, desregulação dos direitos trabalhistas e sociais e ausência do Estado na economia, com conseqüente desemprego avassalador.

E não é exagero dizer que o eleitorado, além de ter votado majoritariamente em Dilma (e em Lula), também votou contra este “legado FHC”.

A campanha de Dilma, a todo o momento, lembrou a população sobre os índices econômicos e sociais da época tucana e fez uma comparação com o desempenho de Lula.

Já o PSDB, ao invés de defender o seu projeto político, optou por fazer um esforço gigantesco para incorporar o discurso de desenvolvimento.

Na propaganda, o Serra virou Zé e até a imagem do Lula foi utilizada.

O mesmo já havia ocorrido em 2006, quando Geraldo Alckmin disputou a presidência contra Lula.

O PSDB tentou negar as privatizações, negar o desemprego e negar a submissão ao mercado externo.

O efeito mais imediato da derrota eleitoral foi uma defecção na base política da oposição. Gilberto Kassab, afilhado político de Serra, organizou uma debandada, construindo um partido que pudesse articular uma aliança com o lulismo e garantir a sobrevivência de uma manada de políticos fisiologistas.

Agora, o PSDB procura:

1)      Entender devidamente as últimas derrotas eleitorais

2)      Alavancar uma candidatura presidencial, sendo necessário para isso, competir com o lulismo, disputando espaço nas camadas mais pobres da sociedade para ao menos sonhar com um sucesso em 2014.

No entanto, o PSDB tem sido infeliz nas suas duas missões primordiais.

Primeiro por não conseguir entender a derrota.

O PSDB, verdadeiramente, acredita que o apoio político de Lula nas classes pobres se deve ao programa Bolsa Família. Narcisistas notórios, os tucanos só conseguem enxergar a realidade segundo sua semelhança, e entendem que o vínculo clientelista da Bolsa Família seria suficiente para fidelizar um eleitorado que teria sido comprado por alguns reais mensais.

Não leva em conta a impressionante identidade política de Lula com o eleitorado mais pobre e o entendimento de que a sensibilidade social do ex-presidente ofereceria uma segurança maior do que os “velhos” políticos que historicamente viraram as costas para suas necessidades.

Subestimar o voto das pessoas mais simples é um erro, porque os eleitores de todos os extratos sociais votam segundo seus interesses diretos.

Ora, a classe média não vota por conta de uma estrada ou um viaduto? Ou mesmo quando pode viajar para o exterior? Já a elite, vota pela garantia da manutenção das regras e preservação do status quo. Não é isso? Então, porque a demanda nos mais pobres são menos legítimas do que a dos ricos?

Já a segunda missão do PSDB, de alavancar uma candidatura capaz de rivalizar com o petismo, sobretudo neste eleitorado mais pobre (e mais populoso), também vai “de vento em proa”.

Aparentemente, a outorga por parte do PSDB para a velha mídia defender o seu projeto político, não tem garantido sucesso eleitoral.

Tampouco, os chefes locais – antigos coronéis – têm conseguido cooptar o seu antigo rebanho, que aprendeu a votar segundo seus interesses.

Como, então, o PSDB poderia demonstrar ser agora um partido adequado para defender os interesses da população mais pobre e a nova classe média, novos protagonistas do “mercado eleitoral”?


Será que os tucanos conseguirão vender a imagem de que são sensíveis às causas dos mais fracos economicamente?

O PSDB governa os dois maiores estados da nação.

Deveria, portanto, implementar modelos de gestão que pudesse atender ao eleitorado de baixa renda e mais dependente da intervenção do Estado.

Mas ao contrário disso, a marca de “partido dos ricos” tende a ficar mais impregnada ainda nas asas tucanas.

A desocupação do Bairro Pinheirinho em São José dos Campos, em favor da massa falida do mega-fraudador Naji Nahas, despejando milhares de famílias de trabalhadores das suas casas, foi uma demonstração clara de desprezo do governo do estado e violência truculenta, justamente contra aqueles que precisariam de assistência e remediação do Estado.

Na capital paulista, cada incêndio inesperado nas favelas é comemorado com um novo lançamento imobiliário. O transporte público retrocedeu e encareceu. A gestão de Kassab é muito boa em proibir e deixou a cidade de São Paulo, cada vez mais cara, fria e distante de seus cidadãos.

Além de tudo, falta para a aliança liderada pelo PSDB vocação e disposição política para governar com a participação popular. Os quadros políticos do partido estão à milhas distantes das comunidades. Ouvir o que a população tem a dizer sobre gestão pública é tarefa impossível para os tucanos tão afeitos à erudição.

Imaginar que a população de baixa renda não entenda nada de política e não vá cobrar a fatura eleitoral desta violência imperdoável no Pinheirinho é um engano lastimável.

O PSDB rotula cada vez mais sua imagem como o “partido dos ricos”.

E não há publicidade que dê jeito!




domingo, 22 de janeiro de 2012

E Pobres são como Podres! Ave Cavaleiro Templário da Opus Dei de Pindamonhangaba!



O Estado de São Paulo acordou mais seguro neste domingo.
Sua classe média despertou tranqüila e bem humorada aos saber que seu governador conclamou a Polícia Militar a desocupar o bairro do Pinheirinho em São José dos Campos.
Enquanto tomava seu café da manhã dominical, o establishment paulista ficou satisfeito ao ver os “favelados” saindo de suas casas com a roupa do corpo e o documento de identidade em mãos.
Devidamente humilhados, como devem ficar os criminosos invasores.
Por falar em criminosos, as terras ocupadas são da massa falida do mega fraudador da Bolsa de Valores Naji Nahas. Um emérito cavalheiro da sociedade paulista.
Naji Nahas, Daniel Dantas, e Sociedade Anônima são os heróis do neoliberalismo brasileiro. Estes visionários têm relações fluidas e carnais com a elite política paulista. Não poderiam deixar de ser redimidos pelo cavaleiro templário da Opus Dei de Pindamonhangaba.
E pobre não é gente. São simplesmente pobres. São preguiçosos, vagabundos, passam o tempo todo fazendo filhos indiscriminadamente e o pior: recebem assistência do governo.
A tradicional família paulista se revolta ao saber que o dinheiro de seus impostos é transferido para o pagamento da Bolsa Família. Mas eles parecem não se incomodar ao ver o Estado socorrer os bancos e pagar oceanos de dinheiros aos especuladores.
O grosso dos impostos arrancados da classe média vai para o custeio da farra especulativa por meio do pagamento dos juros da dívida brasileira.
O dinheiro que sobra dos impostos é tragado pelos bancos brasileiros que cobram os maiores juros e taxas do planeta.  Nossa classe média não sai do cheque especial.
Mas estranhamente (na verdade é passível de explicação), a classe média incorpora a ideologia política das elites que se alimentam de sua energia vital. Na prática, a classe média paulista defende e protege os seus próprios carrascos.
Mas voltemos aos pobres, porque estes sim são os culpados pelas mazelas nacionais.
Os movimentos por terra e moradia são criminalizados. Desde os primórdios, até hoje em dia, é pecado falar em reforma agrária e distribuição de renda.
Fazem-se campanhas pela paz, pela preservação do meio ambiente, pelo direito dos animais, pela pena de morte, pela honestidade, mas é proibido falar em distribuição de renda.
Como se todas as outras questões não estivessem relacionadas à maneira como o indivíduo se insere na sociedade.

Desocupem o Pinheirinho!
Os pobres que carreguem suas tranqueiras comparadas com o sacrifício de suas vidas para outro canto.
As crianças que levem seus presentinhos da natal para debaixo da ponte.
Deixem que os pobres se equilibrem nas encostas dos morros, nas áreas de manancial, nas áreas de risco.
Logo mais morrerão em algum deslizamento.
Aí a nossa sociedade satisfeita e hipócrita fará campanhas para arrecadar donativos.
O Fantástico fará matérias especiais colocando no ar alguma criança chorando a morte de seus pais soterrados.
O repórter aparentará desterro e deixará escapar algumas lágrimas durante a transmissão.
Apresentadores de auditório demonstrarão interesse e colocarão a culpa nas autoridades.
Pois no final das contas, a culpa será somente da classe política, uma espécie de “boi de piranha” de toda a vagabundagem, crueldade, covardia e cretinice da nossa sociedade.
Neste sentido, os políticos são muito úteis. Eles são o retrato da nossa sociedade. Enquanto eles são os culpados, nossas famílias podem dormir tranqüilas, fingindo que não tem nada com a história.
Estamos às vésperas do aniversário da capital do estado de São Paulo.
Amo esta cidade porque ela é uma extensão de mim mesmo, ou talvez eu seja também uma microscópica extensão de São Paulo.
Por isso mesmo, me causa repulsa saber que faço parte desta degradação generalizada.
Todo mundo preocupado e satisfeito com seus projetos individuais e olhando para o futuro.
Mas atormentados com a memória de pobreza.
As pessoas pensam assim: “Eu era pobre, fiz a lição de casa direitinho e olha como estou agora”.
Sentem ódio do passado.
Por isso sentem tanto desprezo pelos que ainda são pobres.
É preciso eliminá-los urgentemente.
Pobre São Paulo!




sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eleição da Camisa Grená como a mais bonita do mundo deixam expostas as marmeladas de edição do UOL (Folha) e o Anticorinthianismo Ressentido



A camisa grená do Corinthians foi eleita em um concurso na Inglaterra como a mais bonita do mundo, desbancando concorrentes de peso.

A homenagem que tem efeito de uma conquista simbólica poderia ter recebido tratamento gentil e reverente.

No entanto, um evento simples como este, nos mostra mais uma vez o inconformismo do Anticorinthianismo Ressentido.

Mais do que isso deixa claros os recursos perniciosos das redações da velha imprensa brasileira.

A manchete do site UOL (Folha de São Paulo) vem com a seguinte chamada


DO UOL, em São Paulo



Ao invés de render as devidas homenagens à terceira camisa do Corinthians – que por sinal nem foi tão bem recebida pelos corinthianos mais conservadores – o site prefere destacar uma possível “trapaça” do Corinthians para vencer o concurso.

Só no corpo da notícia, a matéria explica que foi diagnosticado um movimento de torcedores que gostariam de ver a camisa grená eleita. Isto porque o site inglês Subside Sports, identificou um grande número de votos de IP originários do Brasil.

Não sei se este fato seria suficiente para impugnar tais votos.

Mesmo assim, o Subside Sports excluiu os votos brasileiros.

Contudo, a camiseta corinthiana venceu o concurso.

É impressionante o inconformismo dos adversários com qualquer conquista corinthiana, por menor que ela seja.

O desrespeito com nossas conquistas e vitórias, e até mesmo o preconceito social com o novo estádio em Itaquera só vem a homogeneizar ainda mais nossa torcida e edificar os elementos da nossa identidade. Exige que sejamos autônomos e valorizemos as nossas expressões mais genuínas.

E o corinthiano deve estar atento aos truques de edição da grande mídia.

Não somente na hora de torcer, mas principalmente na hora de votar e decidir sobre o futuro.

Não dá pra acreditar sempre nas manchetes dos jornais, não é?

Nem nas páginas de esporte.

Nem no caderno de política.







quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Luiza Voltou do Canadá! O degradante esforço de pertencimento...




Enfim, Luiza voltou do Canadá.
Quando eu via seu nome espalhado nas redes sociais, não sabia o que havia ocorrido.
Pensei que fosse uma estratégia de marketing do Magazine Luiza.
Mas tamanho bombardeio cibernético me obrigou a consultar o Google e entender o que se passara.
Luiza, recentemente pertencente à sociedade paraibana, graças à aquisição de um belo apartamento no Altiplano Nobre em João Pessoa, tornou-se celebridade instantânea da internet.
Viajou para o exterior e foi ao Canadá respirar ares civilizados.
Seu pai, corretor televisivo de imóveis, ostentou a recente conquista para convidar todos aqueles que desejassem ser pertencentes à tão seleto extrato social, a serem seus vizinhos e tornarem-se os diferenciados da Paraíba.
O comercial rapidamente se tornou um hit da internet.
Os “sulistas” indiscutivelmente “acostumados” com as viagens e intercâmbios ao “primeiro mundo”, imediatamente se deram conta do ridículo da afirmação em meio à propaganda do novo empreendimento.
A “Luiza no Canadá” veio mostrar o degradante exercício de pertencimento à sociedade paraibana, tradicional família mineira, baiana, cearense, tocantinense, etc.
Oferecem uma dimensão de entendimento da aberração que é o universo dos socialites, “mulheres ricas”, emergentes e “viajados”.
Se Luiza e a sociedade paraibana parecem risíveis, o que imaginam ser a elite paulistana mentirosamente quatrocentona?
São Mauricinhos (ou Luizas), netos de Severinos, fazendo esforços de consumo para aparentarem uma origem diferenciada.
Mas a memória desta gente é a pobreza.
Ninguém da minha idade tem um avô que nasceu rico. Alguns tiveram a sorte de construírem um patrimônio ao longo da vida, mas em sua absoluta maioria, a “sociedade Paulistana” é composta por refugiados das guerras e paus de arara.
Talvez, isso justifique o conservadorismo e o absoluto temor em desabar na pirâmide social. Daí o medo em se identificar com os que vêm “de baixo” e a estranha aliança com a elite.
Se para a “nobre” sociedade paulistana ou carioca é engraçado uma família nordestina ostentando uma viagem para o exterior como sinônimo de ascensão social, imaginem o que é para a “metrópole” assistir aos “colonos” travestindo-se de “primeiro-mundistas” e arrasando no free shop, comprando todas as quinquilharias que seus dinheiros alcançam?
Complexo de vira-latas é fogo!  




Processo Seletivo da FESPSP



Das escolhas que eu fiz na vida, talvez a mais acertada tenha sido estudar na Fundação Escola de Sociologia de São Paulo.
Tinha uma série de intuições a respeito da política e da sociedade.
Desde os 16 anos tinha participação política.
Mas em dado momento, percebi que me faltava um conhecimento mais profundo sobre as relações que estavam postas na sociedade.
Já havia estudado Direito, mas não pude tirar maior proveito do curso porque estas preocupações tomavam boa parte da minha energia.
Um dia me apresentaram a FESPSP. Achei aquele Casarão muito bonito e toda aquela atmosfera me atraiu de imediato.
Aos 27 anos, já tinha uma profissão e relativa experiência no mundo do trabalho.
Decidi estudar na Escola do Darcy Ribeiro que era uma figura que eu admirava há muito tempo.
Minha decisão era de cunho pessoal e sequer podia imaginar que iniciar um curso que terminaria depois dos meus 30 anos teria algum impacto na minha carreira.
Depois percebi que na minha sala eu não era nem de longe o mais velho da turma.
Havia gente com experiências diversas com as quais eu aprendi muito. Tive um colega com mais de 70 anos.
Hoje eu percebo que a maturidade só ajuda o aproveitamento de um curso com tamanha profundidade.
Agora, aqui estou com minha carreira profissional orientada pelas as ciências sociais. Mas ainda que continuasse trabalhando com o comércio, tenho a certeza que o conhecimento adquirido com os melhores professores da minha vida contribuiria para os meus negócios.
Então eu quero avisar aos meus amigos do blog que se interessam por sociologia e política que o processo seletivo da FESPSP ainda está aberto.
Quem quiser ou puder estudar este ano e precisar de algumas dicas pode me mandar um e-mail que conversaremos.
Dá tempo de começar ainda este ano.
Eu recomendo!
Ah! Sabe aquelas intuições que eu tinha sobre a política e a sociedade? Foram transformadas em dúvidas intrigantes e envolventes. Estas dúvidas não me paralisam. Ao contrário. Impulsionam-me e me levam a diante.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Frente Fria e Calculista (acabou o verão)




Sonho de uma noite de verão.
Sonho de um fim de semana de sol.
Sonho de um feriado com céu azul e sol irradiante.
Para se tirar a roupa, fazer farra, tomar bebida gelada.
Abusar. Extravasar.
Mas, de um tempo pra cá, são somente nuvens.
Chuva.
Uma frente fria e calculista veio para ficar.
A chuva batendo sempre na janela parece um choro intermitente.
Não há mais verão...
Talvez seja tempo de ficar em casa. Com alguns poucos amigos. Aqueles que tem liberdade para tirar o sapato e mexer na geladeira. Ou no forno.
Ou mesmo, é tempo de ficar a sós.
Pensando nas cagadas da vida.
Em como a humanidade se degrada à olhos vistos.
Na estupidez de acreditar que embora as relações de consumo permeiem todas as esferas da sociedade, o esgotamento dos recursos em benefício de poucos não nos traria conseqüências severas.
É indigesto ouvir dizer que tudo isso é castigo de Deus.
Ora, a manifestação da generosidade divina está no absoluto equilíbrio das forças naturais, mas alguns preferem uma explicação punitiva para esconder, ou se enganar, sobre  a verdadeira chaga dos nossos tempos.
Tudo é consumo.
A felicidade é perecível.
O bem-estar é mais instantâneo do que um miojo.
Os lixões estão repletos de felicidades usadas.
De prazeres gastos.
Logo mais ocorrerá um novo desastre neste país cara de pau.
Os telejornais farão edições especiais e chamadas diretas dos morros que deslizam sobre a cabeça dos pobres.
Pobrezinhos, dirão.
O repórter fará cara de desterro.
Apresentadores de auditório farão campanhas interessadas para arrecadar recursos para as “vítimas da chuva”.
Como se fosse uma punição divina.
Vingança da natureza.
Como se a mãe natureza fosse dada às mesmas mesquinharias humanas.
As lágrimas de crocodilo da nossa elite “benevolente” logo secarão.
Na primeira manifestação por terra ou moradia, os movimentos serão criminalizados e seus miseráveis tratados como bandidos.
Pois não há lugar neste mundo para eles.
Equilibrem-se, portanto, nas encostas de morro e nas áreas de risco.
Na próxima tragédia serão protagonistas do show da vida (ou show da morte?).
Deus não é mau.
A natureza não é vingativa.
A humanidade não é tão cretina como alguns acreditam.
Não é “mudando o ser humano por dentro” que vamos preservar a natureza.
Porque o homem não é um objeto estranho ao meio ambiente.
Tudo são interesses.
Acredito sim que o planeta chora.
Lágrimas ácidas e envergonhadas.
Não é à toa que em todos os filmes de Hollywood que falam sobre o futuro, as pessoas vivem trancadas dentro de buracos, sem a luz do dia, ou mesmo errantes em meio ao deserto.
Já se sabe que não existe futuro possível para a humanidade com o capitalismo.
Acabou o verão.
Tudo é chuva!



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Diferencial de Messi




Não restam dúvidas que Messi é o melhor jogador da atualidade.
E as coisas devem ficar assim por um bom tempo.
Messi já está consagrado. Para entrar definitivamente na história falta ao atleta desempenhar um papel marcante em copas do mundo.
E tudo indica que isso deve ocorrer no Brasil, quando o jogador estará no auge de sua forma física e com maior maturidade intelectual.
Além disso, os jogos da Argentina deverão estar com o estádio repleto de torcedores do país vizinho. O ambiente estará perfeito para o grande momento de Messi.
Mas qual o diferencial de Messi?
O que o Messi tem que os jogadores brasileiros desta geração não possuem?
É claro que a habilidade de Messi com a bola no pé, a velocidade e também sua capacidade de se posicionar e antever as jogadas são características diferenciadas.
Mas o grande diferencial é a maneira como Messi encara o jogo, o campeonato e a sua trajetória.
Os milionariozinhos brasileiros, cada dia piores de bola, rapidamente perdem o gosto pelas vitórias e os grandes desafios.
Entregam-se ao conforto de suas vidas luxuosas e luxuriosas.
Acomodam-se com seus projetos individuais e cada dia mais estão se desconectando da realidade em que estão inseridos.
É claro que a segurança material é um valor nos dias de hoje.
Mas renunciar a ocupar um papel de destaque na história dos esportes e abrir mão do grande potencial de comunicação com a sociedade que uma estrela do futebol dispõe é lamentável.
As malas sem alça do nosso futebol sequer se dão conta que é muito conveniente que eles enriqueçam, mas que continuem ocupando um papel subalterno no futebol e na sociedade.
Cada vez que eu vejo o Messi jogar, me chama muito a atenção sua absoluta concentração antes e durante a partida.
Dá a impressão que ele está numa dimensão paralela e meta-física.
Enquanto o Messi se concentra e mantém o foco na partida, os outros parecem se preocupar com o penteado, a coloração do cabelo, o posicionamento das câmeras de tevê e a coreografia estúpida a ser reproduzida na hora do gol.
Perto do Messi, a grande maioria dos nossos craques parece ser composta por bossais, palhaços e infantilóides.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Crônica sobre o primeiro campeonato mundial do Corinthians







Cresci ouvindo dos mais velhos as histórias fantásticas de jogos e craques do passado. Eu adorava ouvir os grandes feitos, pareciam contos mágicos que nunca mais poderiam ser alcançados por nenhum mortal.


É bem verdade que em muitas dessas histórias os finais não eram tão felizes. Os feitos do maior jogador de todos os tempos eram sempre maiores quando o Pelé enfrentava o Corinthians. Ouvia sempre isso do meu pai. Que o jogo estava ganho, daqui a pouco o negão resolvia jogar e acabava com a gente. Outra ferida foi o título perdido que estava ganho em setenta e quatro contra o Palmeiras. Eram histórias assombrosas, mas que não me assustavam. Eram absolutamente fantásticas, até pela tragédia.


Mas também havia histórias felizes. O dia da quebra do tabu contra o Santos, a invasão no Maracanã em setenta e seis e o título de setenta e sete sempre foram as minhas preferidas. Quando não era para o meu pai, pedia para outro corintiano adulto repetir mais e mais histórias do passado. Cada um me contava sob um ponto de vista e eu formulava a minha maneira como tudo havia se passado. Era capaz de contar em detalhes, como se estivesse presente, mas eu nem havia nascido.


O tempo passa! Diria o narrador. Hoje eu tenho a idade de um jogador em final de carreira. Tenho a idade do Fenômeno. E quase o mesmo peso.


Acordei. Olho no calendário e hoje é dia 14 de janeiro de 2015. Fiquei feliz. Agora eu tenho a minha própria história do passado para contar. Não é um passado tão distante, mas faz quinze anos que o Corinthians foi campeão do mundo.


A conquista do campeonato mundial foi somente um dos feitos daquela sexta-feira. No mesmo bojo estava à consagração final de um time recheado de craques, um time extremamente técnico, um dos poucos que já tivemos. Talvez o melhor de todos. Outro feito tão grande quanto o título foi a nossa segunda invasão dessa vez com cerca de trinta e cinco mil doentes. Foi o suficiente para dividir o estádio ao meio com a torcida do Vasco.


Muitos podem subestimar uma final de campeonato mundial contra o Vasco, mas o fato era que aquele time tinha mais craques que muitas seleções de hoje em dia. A começar pelo Romário jogando tudo o que sabia. Havia também outros como Edmundo, Juninho Pernambucano, Gilberto, Mauro Galvão, Felipe e Elton. O Viola era banco.


Havíamos jogado contra o Real Madrid. O Edilson fez o que quis no meio das pernas de um zagueiro meio torto que em retribuição à atitude dele quanto ao Edilson antes do jogo, resolvi esquecer o nome. O Dida parou o Anelka defendendo um pênalti roubado. Mas, verdadeiramente, o time do Vasco era bem melhor do que o Real Madrid de 2000. Ainda mais jogando em casa.


Tínhamos que ir ao Rio. Nossa turma era grande e assistíamos a todos os jogos do Corinthians de corpo e alma presentes. É uma tradição que naqueles anos de glória não era tarefa ingrata. Já éramos bi campeões brasileiros com sobra. Nosso esquadrão seguramente enfrentaria em igualdade de condições qualquer time do planeta. Era tomar uma cerveja na porta do estádio, entrar no campo e esperar o Corinthians trucidar qualquer oponente. Nunca foi assim na nossa história. Esse era o nosso momento, sabíamos disso. Depois do jogo era só comer o pernil da Julieta dando risada com mais meia dúzia de latinhas. Rotina gostosa.


Pois bem, tínhamos que ir ao Rio. Seria o grande dia. O Palmeiras havia perdido o intercontinental para o Manchester United, o que foi tão divertido quanto o bi campeonato nacional. Estávamos animados e confiantes.


Eu e mais dois amigos fomos um dia antes de ônibus. Estávamos ansiosos e seria bom curtir o dia de praia no Rio. Ficamos hospedados no apartamento de outro mosqueteiro em Ipanema.


Quando acordamos fomos à praia. No caminho já víamos camisas do coringão aqui e ali. Entrei no mar com o short do Timão. Alguns flamenguistas nos incentivavam na areia, implorando que ganhássemos. Era um dia de sol escaldante no Rio em janeiro. O mar tentava, mas não conseguia aliviar a tensão que tomava nosso corpo e mente. Iemanjá bem que tentava, mas o dia era de São Jorge.


Na volta da praia paramos para almoçar. O restaurante já estava repleto de missionários alvinegros. Não havia outro assunto possível no Rio de Janeiro. Em todas as mesas e balcões o assunto era a final do Mundial.


Às duas da tarde chegou a turma do avião. A nossa equipe era escalada assim: Eu (Rafael), Thiago, Claudio, Júnior, Bola, Bussab, Fernando, Parreira e Sarac. Juntávamos a outros milhares de peregrinos que viajaram no mínimo 450 quilômetros.


Pegamos três taxis para que coubéssemos todos. O carro em que eu estava pegou uma “rota alternativa” para lhe garantir uma tarifa mais alta. Nossa preocupação era bem maior do que os dez reais a mais. Descemos no meio do caminho alternativo e fomos andando.


Passamos disfarçados no meio da torcida do Vasco. Demos a volta no estádio e chegamos ao território corintiano. Havíamos nos perdido do resto do grupo. De repente caiu uma tempestade monumental como o Maracanã. Sinceramente, não sei da onde surgiu aquela tempestade com relâmpagos, trovões e uma ventania infernal.


Quando nos encontramos com o resto da tropa estávamos todos entrando no estádio em meio a muita água. Era uma fila interminável de corintianos. Subir a rampa e entrar no Maracanã é uma das coisas mais lindas que se pode fazer nessa vida terrena. Quando sentamos na arquibancada a chuva havia partido tão rápido quanto surgido. Tudo era fantástico.








Havia tantos corintianos que nós ficamos do lado oposto ao da maioria. Éramos cercados por dois gomos do estádio repletos de vascaínos. Para irmos ao banheiro tínhamos de tirar o manto sagrado e colocarmos uma camiseta qualquer para evitar um possível confronto.


Entretanto, havia um benefício. Tínhamos uma visão completa da torcida do Corinthians que ocupava metade do estádio. O nosso pedacinho era uma invasão malcriada, uma afronta.


A torcida do Vasco cantava alto antes do jogo. A torcida do Corinthians estava atenta. As cantigas vascaínas eram animadas. Ao chegar perto das dezoito horas, vi a cena mais fantástica da minha vida. No auge da gritaria luso-carioca, levantamos um bandeirão. Aquele bandeirão famoso e eternizado. Ocupava um quarto do Maracanã. Levantou-se imponentemente. Subia sem pressa, seguro de si. Pronto. A bandeira com o lema: humildade, lealdade e procedimento. Um Gavião estampado fazia sinal de silêncio com sua unha à frente do bico. O silêncio se fez.


Não é força de expressão, eu juro. Tem mais um montão de gente que pode jurar. Tem fitas e DVD para provar. A torcida do Vasco se calou. Sinceramente, não acho que foi por temor, mas eu acho que foi por admiração. Uma reverência mesmo que escondida nas entranhas do subconsciente de cada vascaíno. A torcida do Vasco se calou. Nós, do outro lado do estádio aplaudimos. Estávamos numa espécie de numerada bem no centro do campo e havia muitos turistas no estádio. Os aplausos ultrapassaram nossas fronteiras e na numerada vascaína também pôde se ouvir algumas manifestações de admiração. A nossa era de euforia.


Um grito era consagrado e uma expressão consolidada: Todo Poderoso Timão! Só se ouvia isso no estádio. Todo poderoso timão. Há todo momento gritávamos isso e quando o time entrou em campo estava em casa. E que time. O Goleiro era o Dida. Havia pegado quatro pênaltis seguidos, incluindo dois do Raí na semifinal do Brasileirão. O lateral direito era um índio. O Índio era ruim, mas era bom. Sabia de suas limitações e não comprometia. A dupla de zaga era recém contratada. Fábio Luciano e Adilson. Ambos jogaram bem, mas o Fábio Luciano se consagrou depois. Tinha o jeitão do Corinthians. O Lateral esquerdo era o Kleber, bom de bola e jogava muito pela esquerda com lances coordenados. Do meio campo pra frente eu não quero comentar muito. Rincón, Vampeta, Marcelinho, Ricardinho, Edilson e Luisão. Precisa dizer mais alguma coisa?












Embora a grande maioria desses jogadores tenham tido um triste fim, a história de hoje é alegre e quero ressaltar que além desse time ter sido o campeão do mundo, era também, naquele período, o melhor time do planeta Terra.


O jogo era estudado. Os dois times eram muito bons. A arma do Vasco era o contra ataque rápido com toques envolventes e a conclusão mortal de Romário. O Corinthians, portanto, não se lançou afoitamente. Tocava a bola com calma, regido pelo maestro Rincón, o capitão. No tempo normal chegamos várias vezes no gol adversário e o grito de gol ficou entalado na garganta.


Nossa torcida não parava de gritar. O Todo Poderoso respondia com segurança dentro do campo. Aquele era um time maduro. Ninguém naquele grupo se gostava, mas tinham um objetivo em comum e todos eram inteligentes o suficiente para controlarem os ímpetos irracionais. Pelo menos dentro de campo. Cada um sabia onde o outro estava colocado e o time era muito entrosado.


A prorrogação era por morte súbita. Tinha muito medo da morte. Passei muito mal durante aquela meia hora. Recordo-me mais daquele período do que do tempo normal inteiro. Teve uma bola em que o Juninho ficou cara a cara com o Dida. Quase morri, mas o Juninho cruzou pra ninguém, não sei o porquê, mas não quis chutar. Essa camisa pesa e a torcida faz tremer. Passei tão mal na prorrogação que minhas mãos suavam em bicas e meu estômago doía muito. Quase desisti de assistir o resto da partida. Decidi que seríamos campeões quando o Romário foi vencido pelo Fábio Luciano. Vou narrar: Jogada típica do Romário. Ele para. frente à frente com o marcador. Dá um drible curto e um chute de bico no canto, o goleiro nunca pega. Ele tentou, mas no meio caminho, dentro da grande área o Fábio Luciano deu um carrinho. Em meio segundo olhei para o juiz esperando o pênalti, mas o nosso zagueiro foi na bola. Não teve como o Romário cavar. Jogada limpa.


Vamos aos pênaltis. Por incrível que possa parecer fiquei mais tranqüilo. O Dida estava numa fase esplêndida e eu tinha como certo que alguns deles tremeriam na hora da cobrança e venceríamos. Os pênaltis foram sendo acertados pelos dois lados até que chegou a vez do Gilberto. Bola na marca. Bateu no canto esquerdo de Dida. Defesa. Perderam. Nossa redenção estaria próxima. Abraçamos-nos brevemente porque viriam outras cobranças em posterior.








Agora seria o último pênalti. Marcelinho, o cobrador oficial do time. O jogador com mais títulos na nossa gloriosa história, o pé de anjo. Caberia a ele selar nosso final feliz. Naquele momento lembrei que o Marcelinho havia jogado mal todos os jogos do mundial, mas ele faria esse gol com certeza. Partiu para a bola meio descompromissado, bateu mal. Perdeu. O Elton pegou com relativa facilidade. Ah, não. Descobri um flamenguista ao meu lado. Puxou-me pela camisa e me cobrou: ”Como é que vocês perdem esse gol, caralho?”. Não sabia o que responder.


Ficamos apreensivos, mas o Dida ainda estava lá. E eu sabia que alguns (no plural) deles perderiam o pênalti. Quem vai cobrar? O Edmundo. Grande filho da puta, porco fedido, menosprezou nossa camisa e nunca deveria ter pisado em solo abençoado por São Jorge. Olhamo-nos uns aos outros. Os torcedores do Corinthians passam a dar as mãos como uma corrente possível de interferir nas escolhas dos Deuses do futebol. Prefiro cruzar os dedos. Grito alto: esse filho da puta vai perder. Ele merece se foder. Ele vai perder. Ouço de longe um “cala a boca” correu pra bola, bateu. A bola voa longe, bem longe. Até hoje ninguém sabe onde ela pousou. Assim que ultrapassou o lado esterno das traves não havia mais volta.








Gritos e pulos subseqüentes e incessantes. Ah, o Corinthians é Campeão do Mundo. Meu Deus. Ganhamos. Estamos aqui, longe de casa, sofremos tanto que estávamos tão exaustos quanto os jogadores. Mas ganhamos. O Corinthians é o maior do mundo. Não paro de pular. Os mais velhos também estão em transe e vibram como crianças. Chorei. Na verdade, choramos todos. Era a realização de um sonho. Uma afirmação da nossa oração que diz em um de seus versos: Corinthians Grande!


A torcida do Vasco vai embora. O Maracanã é nosso. Como é lindo o Maracanã. Como eu amo esse estádio, mesmo sendo um paulistano da gema. O Maracanã fica mais lindo ainda quando o bandeirão volta a ser estendido. Que cena linda. Que dia feliz. Acho que se o Maracanã pudesse falar, perguntaria: “Por que essa torcida fica tão longe e só vem me enfeitar de vez em quando”. Se o Maracanã tivesse corpo desejaria que essa torcida fosse a sua roupa de gala. Se tivesse rodinhas pegaria a Via Dutra naquele meso dia e se estabeleceria em qualquer lugar da Zona Leste de São Paulo. Seria um casamento eterno. A torcida mais fanática do mundo não tem estádio, até porque não seria qualquer um que teria capacidade de abrigar tanta gente e tantas emoções. A torcida fiel viveria feliz para sempre com um Maraca só pra ela. Foi a segunda relação de amor, na primeira em setenta e seis, fomos os únicos a praticar aquele feito. Invadimos. Dessa vez, passamos a escritura, para sempre. Registrada: CORINTHIANS, PRIMEIRO CAMPEÃO MUNDIAL DE CLUBES. FIFA 2000.








O Rincón recebeu a taça do presidente da FIFA. Ergueu para o alto. Pensei: quando eu era criança diziam muita coisa sobre o ano 2000, até que o mundo acabaria. O ano 2000 apenas começara e tive um acréscimo de fé no futuro. No ano 2000 recebemos a confirmação divina de que a história dos homens poderia ser repleta de felicidade e alegria.