terça-feira, 5 de julho de 2011

A queda do telhado neoliberal


Texto publicado originalmente no blog http://www.imprenca.com/ que escrevi como convidado e  rendeu uma belíssima discussão.

Recomendo o blog do meu amigo Caipira Ze do Mer




No dia 23 de maio deste ano, o jornal Folha de São Paulo elegeu a queda do muro de Berlim como a principal notícia das suas 30 mil edições.
A imprensa em geral, não se cansa de festejar este feito como o grande momento da humanidade. A partir daí estaríamos livres da “chaga” do socialismo e a história chegaria ao seu fim. Viveríamos para sempre sobre a égide de um sistema capitalista global e os indivíduos poderiam enfim ser felizes cuidando de seus projetos individuais, enquanto os coletivos ficariam a cargo do livre mercado que seria o grande indutor da vida social, livrando-nos da incômoda presença do Estado em nossas vidas.
Pois bem, vivemos nos dias de hoje outro grande momento histórico. Mas este não tem sido devidamente festejado e sequer tem recebido a devida importância nas mídias brasileiras.
Depois da queda do muro de Berlim, vemos hoje a queda do telhado neoliberal na Europa.
Por que o telhado neoliberal?
A crise dos sistemas econômicos em países como Portugal, Irlanda, Islândia, Itália, Grécia e Espanha (PIGS) deixou o continente absolutamente vulnerável a qualquer nova tempestade econômica e política. E, acreditem, estas tempestades inevitavelmente virão.
No final dos anos 70 do século passado a primeira ministra britânica Margaret Thatcher e o presidente norte americano Ronald Reagan deram início ao desmonte do aparelho de proteção estatal e a “desregulação” de suas economias. O aumento no número de desempregados só serviu para pressionar os sindicatos a aceitarem as novas medidas de arrocho salarial e a nova agenda que estava sendo imposta ao “mundo ocidental”.
Na prática, os Estados capitalistas do centro, deixariam de “concorrer” com o modelo socialista soviético, apostando na eficiência econômica para vencer a guerra fria.
Nas décadas seguintes, os setores produtivos foram negligenciados e as economias passaram a girar mediante a capitalização financeira, com a rolagem de títulos de dívidas externas. Os Estados foram “flexibilizando” suas legislações  e tornando seus países “ambientes favoráveis” para os negócios. O mercado global se consolidava e o Estado deixava de proteger seus cidadãos com políticas sociais.
Alguns países foram exceções. Sobretudo aqueles fincados na social democracia do norte da Europa, como Suécia, Holanda, Bélgica e Noruega.
Em 2008, com a crise dos EUA, os Estados tiveram de cobrir o rombo deixado pelos especuladores mundo afora. Para evitar a conseqüente quebra de suas economias, ou mesmo minimizar os efeitos da crise os governos tiveram de suprir a demanda privada que imediatamente se retraiu. Foram trilhões de dólares e euros despejados nos mercados e os contribuintes do mundo todo pagaram muito caro pela farra dos especuladores, atores principais do sistema neoliberal.
Não precisa ser economista nem político para entender que seria muito mais vantajoso para as sociedades uma ruptura drástica desde modelo econômico que deveria se reorganizar sob uma nova estrutura, apoiada no desenvolvimento e justiça social. A dinheirama jorrada nos mercados acabaria com a fome no mundo. A crise deflagrada por conta do crédito imobiliário, fez com que os Estados pagassem o rombo dos credores, mas deixassem que os seus cidadãos permanecessem endividados.
Não haveria outro resultado possível que o absoluto endividamento dos Estados nos primeiros anos posteriores à crise.

A resistência neoliberal argumenta que os Estados gastaram mais do que deviam.
Ora, estes gastos não são oriundos das políticas sociais, tampouco do investimento em infra-estrutura. A dívida dos Estados se deve justamente à farra especulativa neoliberal.
Agora, milhões de pessoas estão na rua protestando contra o modelo econômico e exigindo mudanças nos governos. São jovens, velhos, idosos, pais e mães de família. Muita gente desempregada.
O FMI condiciona o aporte financeiro às políticas de metas de arrocho e corte nos investimentos. Sabe-se que o primeiro dos países vulneráveis (sem telhado) que quebrar, levará a um efeito dominó devastador.
No final dos anos 90, a América Latina viveu um momento econômico semelhante. A diferença era que nas nossas sociedades, sequer havia políticas sociais suficientes para atenuar os efeitos da recessão econômica.
O México até hoje não se recuperou economicamente. O país manteve o modelo econômico rígido.
A Argentina somente voltou a crescer depois de suspender o pagamento da dívida e desvalorizar sua moeda, apostando na produção e na exportação de commodities.
O Brasil, sobretudo no segundo governo Lula, passou a ser protagonista global depois de recuperar a capacidade de investimento do Estado, apostando no mercado interno e no desenvolvimento econômico.
Já provamos o remédio europeu uma década atrás. Sabemos que este caminho neoliberal não tem futuro.
Uma grande transformação está em curso. A China em poucos anos se tornou a grande economia global apostando no desenvolvimento. Seu modelo de parceria parece ser muito mais interessante para os países emergentes do que o carcomido imperialismo do atlântico norte.
Não existe futuro possível para a Europa com o neoliberalismo.
Não existe futuro possível para a humanidade com o neoliberalismo.
Os povos vão acabar com o neoliberalismo.

Ou a própria natureza competitiva dos Estados acabará com ele.
O telhado já caiu!

Não deixe de ler o próximo post, um texto de Luis Nassif sobre o tema.





Um comentário:

  1. Teu site é muito legal! Eu entendo pouco de política, mas estou começando a entender mais, lendo o que você escreve aqui! Parabéns!

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