quarta-feira, 1 de junho de 2011

O capitalismo e a chaga dos nossos dias

Imediatamente à queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética o mundo tentou entender como se organizaria a geopolítica internacional com uma única grande potência militar e econômica.
A vitória dos Estados Unidos na Guerra Fria significaria não apenas um domínio estratégico militar, mas também a vitória de um modo de vida, conhecido como “american way of life”.
Alguns teóricos afoitos como o economista nipo americano Francis Fukuyama se apressaram em decretar o fim da história.
O modelo capitalista permearia toda a sociedade global que cada vez se tornaria mais homogenia.

O melhor de tudo seria a grande expansão do mercado comum levada a cabo a partir da “exportação” da democracia e a “flexibilização” das legislações dos novos países membros da comunidade global.
Isso daria a tranqüilidade para os investidores levarem consigo as bênçãos de uma nova vida repleta de satisfação. É claro que existiria um bom número de pobres e miseráveis, mas os escolhidos e abençoados pelo deus Mercado poderiam ficar tranqüilos porque o seu lugar entre os eleitos estaria garantido. Desde que estes fossem fieis e devotos a este novo e caprichoso deus.

Os anos 90 foi o reflexo desta redenção dos povos ao deus do Capital. Não haveria espaço para os ímpios, infiéis e sujos. Rapidamente, os jovens incorporaram a estética de seu tempo, travestindo-se de Lucianos Huckes e Adrianes Galisteus. As senhoras mais atentas às novas tendências copiaram as casas dos chiques e famosos da revista Caras. As crianças, sem saber qual seu papel nessa sociedade de voyeurs e consumistas bailavam o tcham, rebolando a bundinha no programa do Gugu em um estranho rito ao deus do Capital.
Uma fundamentalista rebelde chamada Cássia Eller insistia em blasfemar perante o novo deus com uma atitude controversa e ambígua, mas foi rapidamente queimada na fogueira dos hereges.

No início do novo século especula-se que um novo mundo é possível. Mas, na verdade, ninguém sabe muito como ele seria. Mesmo diante de uma das maiores crises do capitalismo e com a chegada de alguns reformistas importantes em alguns países emergentes como o Brasil, não se consegue ainda visualizar um caminho eficaz para dar conta da profunda insatisfação com este modelo perverso.
É bem verdade que o pensamento político conservador está em crise, mas se houvesse um consenso dos setores progressistas quanto a um novo modelo sócio-econômico capaz de gerar maior bem-estar, este “inimigo” já estaria derrotado.
Os socialistas (como eu) dirão: “Cara, é o socialismo!”. Tudo bem, mas isso está longe de ser um consenso.
Na Europa surgem uns movimentos que já trazem consigo um defeito embrionário de se dizerem apolíticos. Conseguem mobilizar um bom número de pessoas, mas precisarão mais do que boa vontade para forçar algum tipo de mudança social.
Por incrível (e mais perigoso) que possa parecer a extrema direita tem sido mais eficaz por ter uma agenda simples e de fácil compreensão, apostando na mediocridade e na ignorância.

Sem bandeiras, ideologias ou paixões as pessoas vivem hoje numa sociedade que prima pelo individualismo corrosivo, incapaz de dar conta da principal aspiração do homem que é a de construir e dirigir sua própria história.
Os indivíduos compelidos a fazer escolhas cada vez mais minimalistas e instantâneas, sofrem e se autodestroem. O mal do século é a depressão.
Constrangidos a reproduzir um modo de vida que não nos faz o menor sentido vivemos hoje uma guerra fria existencial.
Senhores: salvem as baleias, a mata atlântica, o mico leão dourado, a Amazônia e os bois do rodeio, mas não se esqueçam dos seres humanos. Eles também são importantes.





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